Título: Muito ataque para poucas propostas
Autor: Seffrin, Felipe
Fonte: Correio Braziliense, 23/10/2012, Política, p. 5

Fernando Haddad e José Serra participam de debate em São Paulo, mas não se encontram. No evento, foram submetidos às mesmas perguntas. Na saída, cada um aproveitou a conversa com jornalistas para criticar o adversário

São Paulo – PT e PSDB tiveram ontem mais uma oportunidade para medir forças em São Paulo. Mas não foi exatamente um debate, porque os candidatos dos dois partidos não se encontraram. O painel foi organizado pela Rede Nossa São Paulo, que reúne mais de 600 organizações da sociedade civil paulistana. Os candidatos responderam, cada um a seu tempo, às mesmas perguntas sobre educação, cultura, habitação, saúde, segurança e trabalho. As alfinetadas ficaram para o final, na saída do encontro.

Para o tucano José Serra, o PT muda o discurso dependendo da circunstância. Ele citou o ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, em Diadema (região metropolitana da capital), defende o candidato à reeleição Márcio Reali (PT) com pedidos ao eleitor para que vote "contra a aventura", em referência ao candidato adversário, Lauro Michels (PV). Mas, quando fala com o eleitor da capital, defende a "mudança" representada por Fernando Haddad (PT). "O Lula fala uma coisa dependendo de onde está. Em Diadema, ele sublinhou a importância que é a experiência e o currículo do candidato. Ele só não faz isso em São Paulo, porque isso me favorece e prejudicaria o seu candidato", disse Serra.

Questionado sobre a contradição apontada por Serra, o candidato do PT, Fernando Haddad, limitou-se a dizer que faz parte da democracia manter no poder uma administração bem avaliada.

No painel, tanto Haddad quanto Serra se comprometeram com a renegociação da dívida do município com o governo federal, que ultrapassa R$ 50 bilhões e não dá sinais de refluxo. O petista ainda prometeu construir três hospitais e implantar o ensino em tempo integral nas escolas públicas. Serra, por sua vez, valorizou a parceria com o governo estadual de Geraldo Alckimin (PSDB) para diminuir o tempo de espera em atendimentos hospitalares e para reduzir o déficit habitacional na cidade.

Mas é na área da saúde que os dois travam o mais ácido jogo de acusações. O tucano insiste que Haddad quer acabar com as Organizações Sociais (OS) que administram unidades de saúde na cidade. O petista nega, e acusa o oponente de querer privatizar 25% dos leitos do SUS. "Não há uma única entrevista minha em que eu diga que vou acabar com as OS. Vou manter as parcerias porque sou um admirador dessas entidades. O que sou é contra a privatização dos leitos do SUS, que vai gerar um colapso na cidade", prega Haddad. "Isso é um jogo falso do PT, que está comprometido em acabar com as parcerias com as organizações sociais. Isso está escrito no programa eleitoral do PT. Para escapar, estão com esse lero-lero dos 25%, o que é falso", rebate Serra.

Os dois candidatos também trocam acusações sobre quem é o responsável por "baixar o nível" da campanha. "Se eu for comentar os ataques do Lula, não faço outra coisa. Ele é o maior "atacador" do Brasil. Na verdade, eles (do PT) usam uma velha estratégia. Jogam baixo e acusam o outro de jogar baixo. O Lula é especialista nisso", disse Serra, ressaltando que o PSDB conseguiu na Justiça 16 minutos de direito de resposta no horário do PT.

Mas, no início da noite, O PT comemorou uma vitória na Justiça Eleitoral. José Serra teve que retirar do seu site oficial e da página que mantém no Facebook o aplicativo "Angry Haddad", um game que convida o internauta a ajudar o PT a "destruir São Paulo".