O globo, n.31382, 09/07/2019. País, p. 06

 

Após seis meses, 33% aprovam governo Bolsonaro 

09/07/2019

 

 

Pesquisa Datafolha aponta que a avaliação do presidente se mantém estável, mas é a pior para início de primeiro mandato desde o governo Collor; expectativa positiva sobre o futuro da atual gestão registrou queda

Pesquisa do Datafolha divulgada ontem aponta que 33% dos brasileiros consideram o governo Jair Bolsonaro ótimo ou bom nos primeiros seis meses de gestão. Para outros 31%, a administração de Bolsonaro é considerada regular, enquanto 33% a avaliam como ruim ou péssima, números próximos aos apresentados pelo instituto há três meses.

A avaliação da gestão de Bolsonaro é a pior para início de primeiro mandato desde o governo de Fernando Collor de Mello, em 1990. Ao fim dos primeiros seis meses de governo, Collor era reprovado por 20%, enquanto 34% avaliavam como ótima ou boa sua gestão. Os outros presidentes desde então (Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff ) registraram aprovação superior.

A pesquisa ouviu, entre 4 e 5 de julho, 2.860 pessoas com mais de 16 anos em 130 cidades e tem margem de erro de dois pontos percentuais. Para 61% dos entrevistados, Bolsonaro fez menos do que se esperava na Presidência

nos últimos meses. Outros 22% veem seu desempenho como previsível e 12%, acima das expectativas.

Ainda segundo a pesquisa, 51% dos entrevistados preveem no futuro uma administração ótima ou boa contra 59% da pesquisa anterior. Subiu de 16% para 21% o índice daqueles que apostam num governo regular. Já para os que preveem uma gestão ruim ou péssima, o número oscilou dentro da margem de erro, de 23% para 24%. Por outro lado, 58% dos entrevistados afirmam ter medo do futuro contra 53% em uma avaliação feita em outubro do ano passado, antes da eleição de Bolsonaro.

Entre os problemas que o Executivo pode resolver, a educação foi o que mais subiu no ranking (de 10% em abril para 15% agora) seguido por segurança (19%), saúde (18%), desemprego (14%) e economia (8%). O percentual dos que veem a preocupação com a corrupção como prioridade para o país caiu de 20%, na pesquisa anterior, para 7%.

Segundo o Datafolha, 22% avaliam que o comportamento de Bolsonaro é adequado para exercer o cargo que ocupa, contra 27% da pesquisa anterior. Os que reprovam seu comportamento oscilaram de 23% para 25%.

Entre as regiões do país, Bolsonaro tem sua maior aprovação no Sul (42%). Já a reprovação subiu em todas as regiões, e a maior é no Nordeste

(41%). No recorte por gênero, Bolsonaro tem a melhor avaliação entre os homens. O percentual é de 38%, ante 29% das mulheres.

O presidente tem maior

aprovação ainda entre os brancos (42%). Entre os negros, é aprovado por 25% e, entre os pardos, por 31%. A reprovação é maior entre os autodeclarados pretos: 43% veem a administração como ruim ou péssima. Esse percentual é de 29% entre brancos e de 33% entre pardos.

ALTA ENTRE MAIS RICOS

O governo é melhor avaliado entre os mais ricos e escolarizados. Entre quem recebe mais de dez salários mínimos, o percentual dos que o classificam como ótimo ou bom subiu de 41% para 52%.

A aprovação do governo é maior entre evangélicos (41% deles o consideram bom ou ótimo), seguidos pelos espíritas kardecistas (36%) e pelos católicos (30%). Por outro lado, 66% dos que se declaram católicos avaliam que o presidente fez menos ques e esperava no início de mandato. Entre os evangélicos, 56% apresentam a mesma opinião.

Ontem, o porta-voz Otávio do Rêgo Barros minimizou as vaias recebidas por Bolsonaro no domingo, na final da Copa América no Maracanã:

— As vaias e os aplausos são direitos dos cidadãos com os quais ele (Bolsonaro) convive dentro da normalidade democrática — disse Rêgo Barros.

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Para analistas, Planalto prioriza parcela do eleitorado 

Guilherme Caetano 

09/07/2019

 

 

A divisão revelada pela pesquisa Datafolha é fruto da preferência do presidente em priorizar, nos primeiros seis meses de mandato, setores da sociedade que votaram nele. A opinião é de cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, que veem a polarização como um prolongamento da campanha eleitoral de 2018.

O cenário também é explicado, dizem os analistas, pela falta de uma pauta que ataque temas mais amplos, como o desemprego, por exemplo, e não que interesse só a determinado setor, como a flexibilização das armas. Para Marco Antônio Teixeira, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a opção de governar para determinados setores faz com que esses grupos se sintam valorizados, impedindo que “abandonem o barco” por mais que os indicadores de apoio público ao governo se deteriorem. Por outro lado, gera uma oposição ainda mais rígida, capaz de atrapalhara aprovação de projetos importantes.

— A polarização pode ser explicada porque o presidente e parcela da oposição ainda não desceram do palanque. O próprio presidente, numa reunião com setores do agronegócio, chegou a dizer “esse governo é de vocês”. Bolsonaro ainda não percebeu, ou não quer perceber, que ele é presidente de todos — avalia o cientista política da FGV.

José Álvaro Moisés, da Universidade de São Paulo (USP), diz que a consolidação da divisão dos brasileiros é uma mostra de que o governo está pagando um preço alto por ainda não ter aprovado projetos importantes.

— Não apareceu até agora nenhum projeto para enfrentar o fato de que o país tem 13 milhões de desempregados, por exemplo —diz Moisés.

Para o cientista político da USP, Bolsonaro tenta compensar a perda de apoio popular com apelo à mobilização de rua, mas o governo corre risco de perder progressivamente sua capacidade de mobilização.

— Um governo eleito que precisa o tempo todo apelar para mobilização de rua é frágil. Governos sólidos são aqueles que, tendo obtido autorização para governar num mandato eleitoral, apoiam se nas instituições e respondem às preferências de seus eleitores —analisa Moisés.