Título: Tormento da inflação continuará
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 23/10/2012, Economia, p. 13

Custo de vida seguirá elevado até o fim do ano, ampliando as pressões do mercado sobre o Banco Central»

O Banco Central não terá paz no último trimestre do ano. As pressões sobre o bolso do consumidor prometem ser pesadas diante do aquecimento da economia e devem alimentar críticas às decisões da autoridade monetária de afrouxar a política de juros. Depois de o Índice de Preços ao Consumidor Amplo — 15 (IPCA-15) de outubro, a prévia da carestia oficial, ter surpreendido o mercado ao registrar alta de 0,65%, as projeções para o fim do ano pioraram. O mercado espera, agora, que o IPCA de 2012 fique em 5,44%, estimativa que tem sido revisada para cima há cinco semanas consecutivas. A previsão é que o indicador feche o mês em 0,60%. Até a semana passada, o número era menor: 0,55%.

A piora das expectativas de inflação tem sido uma resposta do mercado à decisão do BC de derrubar a taxa básica de juros (Selic). Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o indicador baixou de 7,50% para 7,25% ao ano, o que incomodou parte do mercado. Os mais críticos argumentam que o BC de Alexandre Tombini aceita risco maior que o comum em troca de algum crescimento — uma visão que também vale para 2013 e já contamina as previsões.

Ainda assim, o mercado estima que o BC deve deixar os juros em 7,25% ao ano por um longo período. Entre os analistas que mais acertam, classificados como "Top 5" pelo BC, a estimativa é de que a Selic fique nesse patamar até o fim de 2013. O restante do mercado parece começar a convergir para esse número. "Na eventual necessidade de um aperto monetário em 2013, o BC lançará mão de instrumentos não convencionais de política monetária, como as medidas macroprudenciais", observou Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora. A aposta principal, no entanto, ainda é de uma Selic em 8%.

Dívida

A dívida mobiliária federal aumentou 2,02% de agosto para setembro. Segundo dados do Tesouro Nacional, o avanço foi puxado pela emissão de R$ 20 bilhões em títulos para reforçar o capital do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal. Com essa capitalização, o endividamento total atingiu R$ 1,905 trilhão. "Os bancos públicos têm funções diferentes dos bancos privados, que são o custeio de safra e o financiamento do Minha Casa Minha Vida", justificou Fernando Garrido, coordenador-geral de Operação da Dívida do Tesouro.