Título: Apagão na capital outra vez
Autor: Campoli, Clara
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Cidades, p. 28

ENERGIA / Problema em linhas de transmissão deixa milhares de brasilienses sem luz por períodos que variaram de 30 a 50 minutos. CEB e Furnas não assumem responsabilidade. As duas terão que dar explicações ao ONS na terça-feira

Cerca de 400 mil pessoas foram privadas de energia ontem durante a tarde, pela segunda vez em quinze dias (leia Memória). Enquanto a população do DF sofre com os problemas de distribuição e manutenção da rede elétrica, a Companhia Energética de Brasília (CEB) e Furnas Centrais Elétricas não reconhecem de quem foi a falha. As duas empresas não somente se eximiram de responsabilidade pelo que aconteceu como jogaram a culpa uma na outra. Mas, de acordo com a apuração preliminar da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a ocorrência atingiu as instalações da CEB e de Furnas. Na próxima terça-feira, haverá uma reunião, quando as duas empresas deverão apresentar dados técnicos ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a fim de dar início ao processo de apuração.

O problema, de acordo com a CEB, ocorreu por causa de uma falta de suprimento de energia elétrica em Furnas. O diretor de Operação da companhia, Manoel Clementino, responsabilizou Furnas pela falta de energia de ontem. Segundo Clementino, uma investigação nos registros de falha na linha da CEB foi realizada e não foi detectada nenhuma interrupção. “As duas estações de Samambaia deixaram de receber energia, o que provocou o desligamento. Ao todo, o DF tem três estações, que são de propriedade de Furnas, que servem para receber do sistema nacional e repassar para a população por meio da CEB”, explicou.

Em nota à imprensa, Furnas rebateu a afirmação da CEB e declarou ter um posicionamento diferente da companhia brasiliense. Segundo a empresa, a interrupção é de total responsabilidade da CEB, sendo as estações citadas por Clementino propriedade da companhia que ele mesmo dirige.

O diretor Clementino esquentou o jogo de empurra e afirmou categoricamente que a CEB não teve responsabilidade no evento de ontem. “É normal dirigirem a responsabilidade para nós, mas antes de darmos qualquer declaração a respeito de culpados, fazemos essa investigação, que ontem não detectou nenhum problema na nossa rede. Tanto é que 15 dias atrás apuramos a nossa responsabilidade e de pronto assumimos a falha”, disse.

O primeiro apagão começou às 14h30 e foi até as 15h20, atingindo Águas Claras, Riacho Fundo 2, Santa Maria e Recanto das Emas. Imediatamente depois, Asa Norte, lagos Sul e Norte, Sobradinho e Planaltina também enfrentaram o problema, até as 15h50, quando a energia foi restabelecida totalmente no DF.

Quando a luz acabou na temakeria em que trabalha, durante a tarde de ontem, a sushi woman Noeme Ferreira, 38 anos, tratou de proteger a mercadoria. Nos fundos da cozinha, ela tem um freezer mais potente que salvou os produtos no apagão de 4 de outubro. “Eu já estava até arrumando o que é perecível no freezer lá dentro, mas a energia voltou. Estou aqui há cinco anos, nunca tinha visto faltar tanta energia”, reclamou.

Confusão O apagão atingiu as linhas do metrô, que foi fechado das 14h30 às 15h e das 15h45 às 16h45. No primeiro momento, a equipe do transporte conseguiu colocar todos os trens de volta nas estações. No pico de energia, os passageiros em um trem que ia de Taguatinga para Ceilândia foram obrigados a descer e percorrer os trilhos a pé até a estação mais próxima, acompanhados por uma equipe de segurança. Os outros 11 carros em atividade foram levados sem problemas para os pontos mais próximos.

Na Rodoviária do Plano Piloto, uma multidão se formou em frente às portas da Estação Central, que se fecharam no momento em que o metrô parou de funcionar. Quando a energia foi restabelecida e as plataformas voltaram à ativa, os funcionários se depararam com passageiros muito irritados, que exigiam a rapidez na abertura das portas e ameaçavam quebrar os vidros.

A moradora de Samambaia e comerciária Kelly Renata, 36 anos, esperou pouco tempo em meio à multidão. Após chegar à Central, a vendedora, que trabalha em um shopping na área central de Brasília, aguardou apenas cinco minutos para descer a plataforma. Mas os últimos 40 minutos da sua jornada no trabalho, sem energia, foi de prejuízo. “É muito difícil, hoje, as pessoas pagarem em dinheiro. Não podemos atender sem energia. Da última vez, o prejuízo foi grande. Se em 30 minutos já faz diferença, com duas horas perdemos muito”, lamenta, referindo-se ao apagão de 4 de outubro. (CC)

440 mil Total estimado de pessoas afetadas pela falta de energia

“Não podemos atender sem energia. Da última vez, o prejuízo foi grande. Se em 30 minutos já faz diferença, com duas horas perdemos muito” Kelly Renata, 36 anos, comerciária

“Eu já estava até arrumando o que é perecível no freezer lá dentro, mas a energia voltou. Estou aqui há cinco anos, nunca tinha visto faltar tanta energia” Noeme Ferreira, 38 anos, sushi woman

Memória 4 de outubro, tarde de caos

Os brasilienses sentiram na pele os efeitos da falta de energia que atingiu 70% do DF na tarde de 4 de outubro, uma quinta-feira. Além das perdas de alimentos e de todo transtorno que um apagão generalizado pode ocasionar na prestação de serviços, motoristas, pedestres e usuários do metrô enfrentaram um dia de cão com a desorientação do tráfego. A causa de tudo foi um incêndio em região de cerrado que provocou o aquecimento de cabos de transmissão. Somente após seis horas de muita espera é que a energia foi restabelecida.

Eram por volta de 13h15 quando o centro de operações da CEB identificou a interrupção das linhas de transmissão entre as subestações de Samambaia e Brasília Sul, que também fica em Samambaia. Às 13h30, equipes da CEB chegaram ao local e encontraram vestígios de incêndio em uma região de cerrado. Com o superaquecimento, a transmissão de energia foi automaticamente interrompida, apesar de não ter havido rompimento dos cabos. A partir daí, começou o desligamento automático de três das quatro subestações do corredor de alta tensão que abastecem o DF. Assim, sucessivamente, 70% (616 mil) do total de 880 estabelecimentos atendidos pela CEB foram ficando sem energia.

Às 15h15, a Subestação de Brasília Sul, onde teve início o problema, foi religada. A energia voltou em algumas regiões, mas de forma irregular. O fornecimento foi interrompido várias vezes devido a falhas localizadas ou pela própria inércia do sistema, o que provocou muitos curtos-circuitos. Somente por volta das 19h, seis horas depois após o início dos transtornos, é que todas as regiões do DF estavam plenamente atendidas. O Vale do Amanhecer e o PAD-DF foram as últimas áreas a terem o serviço corrigido.