O Estado de São Paulo, n. 45988, 15/09/2019. Política, p. A6

 

Bancada evangélica é 13% mais governista

Bruno Ribeiro

Cecília do Lago

15/09/2019

 

 

Frente parlamentar é a que mais vota com o Planalto nos últimos 5 mandatos presidenciais

Apoio. Integrantes da bancada evangélica realizam ‘culto da Santa Ceia’ na Câmara

A proximidade crescente entre o presidente Jair Bolsonaro e o eleitorado neopentecostal tem surtido efeitos no Congresso Nacional. A bancada evangélica da atual Legislatura, que tem 195 dos 513 deputados – equivalente a 38% do total de parlamentares – é a mais governista dos últimos cinco mandatos presidenciais. Especialistas ouvidos pelo Estado divergem ao analisar as causas desse estreitamento de laços e o resultado disto para o futuro político do presidente.

Levantamento a partir do resultado de todas as votações da Câmara dos Deputados neste ano, feito pelo Estadão Dados usando a ferramenta Basômetro – que analisa o grau de “governismo dos parlamentares –, mostra que, de todos os votos registrados por evangélicos, 90% foram a favor do governo.

Na Câmara como um todo, essa taxa é 13 pontos porcentuais menor: 77%. O cálculo leva em consideração todas as votações em que o governo orienta sua base, ou seja, indica como o deputado deve votar. No governo Michel Temer, a vantagem evangélica foi de 12 pontos.

A diferença é em relação aos governos do PT. Nos mandados dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, segundo a análise, a bancada evangélica acompanhava o nível de governismo da Câmara, sem alterações relevantes. A diferença no porcentual de governismo entre Câmara e evangélicos não passou 3 pontos nos governos petistas. Com Bolsonaro, o “governismo” evangélico é 13% maior.

Estratégias. Para o cientista político Carlos Melo, do Insper, a aproximação de Bolsonaro com o eleitorado evangélico tem a ver não só com o aumento das avaliações negativas do governo entre os eleitores em geral, mas também com um cálculo: o de que essa desaprovação deve subir ainda mais, e especialmente entre eleitores de outra religião, os católicos.

“O Sínodo da Amazônia está para acontecer e já indicou que haverá críticas ao governo”, afirma Melo. Por isso, seria importante reforçar os pisos de sua avaliação de popularidade – e os evangélicos seriam o que o pesquisador chama de “bolsonarismo hard”, aquele que desde o início da campanha tinha ligação mais forte com o presidente.

Outro fator que impõe a Bolsonaro um mergulho no eleitorado evangélico, segundo Melo, são as eleições municipais do ano que vem, quando o partido do presidente, e sua própria capacidade de atrair votos, serão testados. “Ele não pode se colocar como uma liderança tóxica” e precisa de sua base mais fiel.

Carlos Melo diz ainda que, no Congresso, mais do que a busca de leis que garantam, por exemplo, isenção de impostos para igrejas, o apoio da bancada evangélica tem um caráter de identidade conjunta. “Uma coisa é lobby, outra identidade”, disse.

O cientista político Eduardo Grin, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que o modus operandi do presidente consiste em reforçar antagonismos, por meio de posições polêmicas.

Dessa forma, o movimento ao encontro do eleitorado evangélico ocorreria mesmo se a rejeição de Bolsonaro não estivesse crescendo. “A estratégia dele (Bolsonaro) e outros líderes como ele ao redor do mundo é garantir o apoio de um grupo, seus 30% do eleitorado, e contar com bom resultado na economia para conseguir uma parte dos 30% do eleitorado que está no centro. Se a economia conseguir se recuperar, ele tem chances. A estratégia de Bolsonaro para a reeleição depende da economia”, afirma.

Público. A proporção da bancada evangélica no Congresso é um pouco maior do que o do porcentual de brasileiros que se declaram fiéis a alguma denominação neopentecostal. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que os evangélicos são cerca de 29% da população do País. E, pelo Datafolha, são cerca de 32% dos eleitores brasileiros.

O eleitorado evangélico é parte importante do público que segura os índices de aprovação do presidente nas pesquisas de opinião. Nos levantamentos do Datafolha feitos neste ano, o total de eleitores que acha o governo ruim ou péssimo variou de 30%, em abril, para 38%, em agosto.

Mas, quando se recorta o eleitorado evangélico desse total, o crescimento da rejeição foi menos acelerado – de 23% para 27%. Na pesquisa de boca de urna feita no dia da eleição, 69% das pessoas que se declararam evangélicas votaram em Bolsonaro para presidente.

Basômetro

90%

dos votos registrados por evangélicos foram a favor do governo, aponta o Basômetro, ferramenta do Estadão Dados. Bancada evangélica tem 195 dos 513 deputados

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Interlocução com o Congresso é 'republicana', afirma porta-voz

Aline Bronzati

15/09/2019

 

 

‘Estado’ mostrou que governo passou a usar emendas e monitorar redes sociais para ter apoio de parlamentares

O porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, afirmou ontem que o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, tem feito uma interlocução “republicana” para ampliar o apoio ao presidente Jair Bolsonaro no Congresso Nacional. O Estado mostrou ontem que o governo decidiu condicionar a liberação de verbas para emendas parlamentares e a distribuição de cargos nos Estados ao apoio em projetos de seu interesse. Essa estratégia passa pelo monitoramento de publicações feitas nas redes sociais e discursos dos congressistas.

“Confiando na capacidade dos seus ministros, o presidente Bolsonaro, neste momento, tem indicado, orientado o ministro Luiz Eduardo para que faça essa interlocução, representando-o nesse diálogo com os congressistas”, disse o porta-voz, em entrevista no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, onde Bolsonaro se recupera de cirurgia.

Questionado se essa ação não seria a repetição da estratégia de gestões anteriores (do “toma lá, dá cá”) que foi duramente criticada por Bolsonaro na campanha eleitoral, Barros afirmou que a interlocução do ministro é “republicana”.

“A forma como o ministro vem dialogando é uma forma republicana. É uma forma orientada e liderada pelo senhor presidente da República”, repetiu ele. O objetivo do governo é usar até R$ 2 bilhões dos cerca de R$ 15 bilhões do Orçamento que serão desbloqueados nas próximas semanas para pagar emendas prometidas no âmbito da reforma da Previdência. O maior foco de tensão está no Senado, que ainda vai apreciar as mudanças nas regras da aposentadoria. É por lá também que passará a indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSLSP), filho do presidente, para o cargo de embaixador nos EUA.

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Boletim médico fala em melhoria de Bolsonaro

Aline Bronzati

15/09/2019

 

 

O presidente Jair Bolsonaro apresentou melhora nos movimentos intestinais e aceitou bem a dieta líquida que voltou a ser ministrada anteontem, de acordo com boletim divulgado na manhã de ontem pelo Hospital Vila Nova Star, onde está internado há uma semana.

Apesar disso, o cirurgião Antônio Luiz Macedo, responsável pela cirurgia e recuperação do presidente, disse que ele permanece com uma aderência no abdome, o que atrasa a recuperação. Questionado se Bolsonaro tinha outros problemas de saúde, o médico disse que não.

“Não é muito fácil evitar aderência em um paciente que teve uma peritonite grave. Provavelmente, já tinha uma aderência, mas, quando ocorre uma peritonite com a facada e fezes e sangue na barriga, mistura como se fosse queloide interno. A aderência seria, mal comparando, como se fosse uma cicatrização exagerada dentro do abdome”, disse o médico.

Bolsonaro depende da melhora dos movimentos intestinais e do avanço da dieta alimentar para ter alta. Em entrevista no hospital, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, disse que Bolsonaro recebeu um “puxão de orelha” dos médicos ao dizer que queria ir ao estádio ontem para acompanhar o jogo do Palmeiras contra o Cruzeiro.“Hoje o dr. Antônio (Macedo) teve de dar um puxão de orelha no presidente porque ele queria ir ao jogo.” Sobre alta do hospital, disse que a decisão é exclusiva do corpo médico.