Título: Ajuste os ponteiros
Autor: Loboissière, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Cidades, p. 29

À meia-noite de hoje, os relógios devem ser adiantados em 60 minutos. A medida vai até 17 de fevereiro e deverá resultar em uma economia de 2.225MW

Um cabo de guerra de opiniões. De um lado, a servidora pública Laice Machado, 50 anos, e, do outro, o engenheiro Paulo Henrique Cavalcante, 49 anos. Marido e mulher há quase uma década, o casal não se entende quando o assunto é o horário brasileiro de verão. Ele, a favor, acredita que o governo realmente poupe dinheiro e energia com o relógio adiantado em uma hora. Ela, contrária à medida, diz que a mudança atrapalha o organismo, a qualidade de vida e até o humor. Assim como o casal, morador de Brasília, hoje, à meia-noite, pessoas das regiões Centro-Oeste, Sul, Sudeste e do estado do Tocantins devem adiantar o ponteiro em 60 minutos. A alteração se estende até 17 de fevereiro de 2013, gerando, segundo o Ministério de Minas e Energia, uma economia de R$ 280 milhões aos cofres da União — valor superior ao do período anterior (2011/2012), quando ocorreu uma redução de R$ 160 milhões nos gastos.

“Tenho muita dificuldade de me adequar ao horário de verão. Quando estou acostumando, ele simplesmente acaba”, reclama Laice. “Fico mal-humorada, não tenho fome na hora do almoço. Isso mexe com meu organismo e me descontrola muito. Ainda bem que estou de férias. Deus foi tão bom comigo que não estarei por aqui nessa época”, completa a servidora pública. Paulo retruca: “Eu penso diferente. Vejo como uma busca de aumentar o horário de consumo concentrado de energia para, assim, diminuir a sobrecarga. Aumenta-se a distribuição”. Para ele, o governo deveria fazer uma pesquisa quantitativa e qualitativa para constatar uma possível mudança de hábito das pessoas. “Teriam de ver como isso afeta a qualidade de vida da população”, sugere o engenheiro.

O professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Raimundo Nonato Rodrigues, especialista em transtornos do sono, esclarece que sintomas como o de Laice podem ocorrer por conta da mudança no horário. “Há casos de descontrole emocional por privação de sono. Isso pode acarretar ainda problemas de memória, atenção, concentração e sonolência.” Ele explica que dormir é uma função biológica. “Portanto, se a pessoa não descansa o número de horas necessárias para a retomada do status energético do corpo, ela entra num estado de privação do sono. O professor é contrário ao horário brasileiro de verão.

Com os relógios adiantados, a redução da demanda entre as 18h e as 21h, chamado horário de ponta, será de até 4,5%, o que representa 2.225MW a menos. Os cálculos são do MME. O órgão estima ainda que o consumo de energia caia em torno de 0,5%. Com os ponteiros marcando uma hora a mais, o governo busca conscientizar a população em relação ao aproveitamento da luz natural, além de estimular o uso, de forma racional, da energia elétrica.

Memória

Mudança começou em 1931

No Brasil, a mudança no horário ocorreu pela primeira vez no verão de 1931/1932, pelo então presidente Getúlio Vargas. A estreia durou quase seis meses — de 3 de outubro de 1931 até 31 de março de 1932. No verão seguinte, foi reeditada a mesma providência com igual duração. Posteriormente, a adoção a mudança foi retomada em períodos não consecutivos, de 1949 até 1953, de 1963 a 1968, e nos tempos atuais a partir de 1985. O período de vigência é variado, mas a média nos últimos 20 anos está em torno de 120 dias.

O Decreto nº 6.558, de 2008, determina que a temporada para ajustar os ponteiros do relógio deve começar no terceiro domingo de outubro, prolongando-se até o terceiro domingo de fevereiro do ano subsequente. Nos últimos 10 anos, a medida possibilitou uma redução média de 4,6% na demanda por energia no horário de maior consumo. (Fonte: Ministério de Minas e Energia)