O globo, n.31380, 07/07/2019. País, p. 09

 

Com Trump, Bolsonaro comparou Hélio ao Obama 

Jussara Soares 

Bernardo Mello 

07/07/2019

 

 

O deputado Hélio Lopes (PSL-RJ), amigo do presidente Jair Bolsonaro, está em seu primeiro mandato como parlamentar na Câmara dos Deputados, mas desfruta de prestígio de chefe de Estado. Figura constante nas agendas públicas do presidente e em suas lives na internet, o parlamentar acompanhou Bolsonaro a Osaka, no Japão, durante o encontro do G20, e lá conheceu o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ao apresentá-lo ao colega americano, Bolsonaro valeu se de uma metáfora que deixou até mesmo Trump constrangido. Ao explicar o significado do apelido do deputado (Hélio Negão), Bolsonaro, que não fala inglês, teve auxílio de seu tradutor para explicar que a palavra se referia ao tom de pele do amigo. Em seguida, emendou: “Era melhor eu trazer o Hélio ou Obama?”, questionou, referindo-se à cor de ambos, negros. Trump não respondeu verbalmente, mas apontou para o parlamentar brasileiro. A resposta para a pergunta, que compara Obama ao político brasileiro pela cor, é uma foto que fez sucesso na internet. Na imagem, Bolsonaro e Hélio gargalham. Trump, mais contido, ri. Interlocutores do deputado e do presidente confirmaram ao GLOBO o diálogo.

VIDA PARLAMENTAR

Apesar de ser campeão em apresentações de projetos de lei na bancada do PSL na Câmara —foram 47 protocolados até agora —, o deputado é até agora mais reconhecido por ser o amigo inseparável de presidente. Das sete viagens internacionais feitas por Bolsonaro, Hélio esteve em três delas: Chile, Estados Unidos e Japão. No Brasil, também é presença constante nas agendas do chefe do Executivo.

Entre parlamentares, há inúmeros apelidos pejorativos atribuídos ao deputado, por estar sempre ao lado do presidente. Há quem o chame de “sombra”, “segurança”, e até “capitão do mato”. Pessoas próximas a Hélio dizem que ele não costuma se importar, mas rompeu o silêncio quando foi chamado pelo colega Paulo Teixeira (PT-SP) de “proctologista do Bolsonaro”, durante a sessão da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na quarta-feira, com a presença do ministro da Justiça, Sergio Moro. Visivelmente incomodado, o deputado do PSL abriu questão de ordem e sugeriu que o petista poderia ser levado ao Conselho de Ética e quis “registrar nos anais dessa Casa” que não é afeito a “palavras de baixo calão”.

—Eu dou respeito para ser respeitado —concluiu. Pouco afeito aos microfones na Câmara, Hélio costuma ter cuidado redobrado ao se posicionar publicamente e até em assinaturas em requerimentos de colegas. O objetivo é evitar tropeços que se tornem munição para críticas a Bolsonaro, devido à proximidade com o presidente. —Não posso permitir que um momento de desatenção minha seja utilizado para atingir o governo. Se todos da base tivesse o mesmo zelo, as coisas poderiam estar mais tranquilas — afirmou Hélio ao GLOBO.

Embora seja econômico nas palavras, passeia por assuntos variados nos seus projetos de lei, desde áreas como segurança pública e benefícios para militares até o incentivo a energias renováveis. Um dos projetos apresentados pelo deputado, no último mês, tornaria obrigatória a instalação de detectores de metais em todas as escolas públicas do país. No mesmo dia, também apresentou uma proposta sobre normas de transparência para empresas que vencem contratos públicos, e outra para regulamentar a profissão de mergulhador profissional. Na visão de colegas na Câmara, a avalanche de projetos é uma tentativa de agradar a diferentes setores do eleitorado —que se confunde com o da família Bolsonaro.

O próprio deputado diz receber parte das sugestões via redes sociais, área com dedicação especial em seu mandato. Guilherme Julian Victor Freire e José Henrique Cardoso Rocha, que produziam páginas na internet com memes pró-Bolsonaro à época das eleições, foram integrados ao gabinete —que também conta com militares e pessoas ligadas ao esporte, como dois professores de jiu-jítsu.

O deputado Luiz Lima (PSL-RJ), relator de um projeto de Hélio que prevê a criação do “ranking dos esportes” nas universidades, defende que o colega busca representar os “cidadãos comuns”, mas reconhece que as pautas também se baseiam na simpatia do presidente.

—É natural essa preocupação, pela confiança depositada pelo Jair. Com certeza um erro do Hélio seria tratado pelos opositores como um erro do Jair —disse Lima.

— O Hélio fica magoado com as agressões diárias ao presidente. Todos somos seres humanos. Mas ele tem equilíbrio emocional.

Esse controle foi testado durante um encontro com integrantes do movimento negro, que fizeram protesto na Câmara numa sessão solene em homenagem aos 131 anos da Lei Áurea. Chamado de “fascista” e “capitão do mato” por militantes ao ser abordado, Hélio tentou seguir no debate, conforme vídeos que circulam pela internet. Depois, porém, admitiu ter se sentido desrespeitado, e mostrou certa mágoa: “Onde eles estavam quando eu fui o negro mais votado da história do Rio de Janeiro?”.

ANTÁRTIDA

Além das viagens internacionais com Bolsonaro, Hélio teve uma missão autorizada pela Câmara à Antártida, no início de março, como representante da Frente Parlamentar de Apoio ao Programa Antártico. O deputado diz que o Brasil “não pode ser tratado como nanico” no cenário mundial. Segundo Hélio, uma de suas inspirações para a diplomacia internacional também é Bolsonaro, a quem considera “uma escola de política”.

—O Jair era uma voz que clamava quase que sozinha em meio ao deserto. E darei eco a tudo o que ele disse e venha a dizer, esse é meu objetivo e éo que o povo brasileiro espera de mim — afirmou Hélio, que usa o bom humor ao ser questionado sobre a defesa do “legado” de Bolsonaro:

—Em sua última eleição para deputado federal, ele (Jair) teve mais de 464 mil votos, sendo o mais votado do Rio de Janeiro. Esse legado eu consegui manter.