Título: Ativistas tentam invadir gabinete
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Fonte: Correio Braziliense, 22/10/2012, Mundo, p. 13

O funeral do chefe dos serviços de inteligência do Líbano, Wissam Al-Hassan, morto em um atentado atribuído a partidários do governo da Síria, foi marcado pela violência. Milhares de pessoas se reuniram ontem no centro de Beirute para participar de uma grande manifestação contra Damasco e o governo libanês. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo para impedir que alguns manifestantes entrassem na sede do gabinete do primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, para exigir a sua renúncia. “Jovens se encaminharam para o prédio, localizado no centro da cidade, mas as forças de ordem impediram que eles entrassem, disparando para o ar e lançando bombas de gás lacrimogêneo”, indicou um policial no local à agências de notícias internacionais.

Na Praça dos Mártires, no centro de Beirute, foram exibidos retratos gigantescos do general Al-Hassan com as palavras: “O mártir da justiça e da verdade”. “Uma só revolução em dois Estados”, proclamava uma bandeira, em referência à Síria e ao Líbano. A milícia xiita libanesa Hezbollah, da qual Mikati faz parte, é uma tradicional aliada dos governos do Irã e da Síria — país que enfrenta uma violenta guerra civil entre forças governamentais e opositores do ditador Bashar Al-Assad, há 12 anos no poder.

A maioria dos manifestantes é de sunitas, comunidade à qual pertencia o oficial morto. Cristãos e drusos também participaram dos protestos. A explosão de um carro-bomba, na sexta-feira, matou ainda o motorista de Al-Hassan e outro civil, além de ferir 126 pessoas. Foi o primeiro ataque terrorista desde 2008. A atuação do chefe da inteligência libanesa, responsável por diversas prisões de grupos armados e extremistas ligados ao regime sírio, teria sido a motivação do atentado. “Queremos continuar o que começamos em 2005. Durante esse período, os sírios abandonaram o Líbano. Agora, queremos impedir que eles voltem e pretendemos expulsar o Irã”, disse à agência France-Presse Ahmad Fatfat, deputado do bloco do ex-primeiro-ministro Saad Hariri, filho do também ex-premiê Rafik Hariri, morto em um atentado atribuído à Síria, em 2005.

Crise no governo

No sábado, o atual primeiro-ministro libanês, Najib Mikati, chegou a apresentar a sua renúncia para o presidente, Michel Suleiman. Segundo um comunicado do próprio Mikati, o chefe de Estado pediu a ele que se mantivesse no cargo, pelo menos até que todas as principais forças políticas sejam consultadas. Ontem, durante cerimônia militar no quartel-general da polícia, na presença do premiê e da família do general morto, Suleiman solicitou à Justiça que acelere o processo de elaboração do ato de acusação contra o ex-deputado Michel Samaha.

Partidário incondicional do regime de Damasco, Samaha foi preso pelo general Al-Hassan, que o acusou de transportar explosivos para ataques cujo objetivo era criar o caos a mando do chefe da poderosa inteligência síria, o general Ali Mamlouk. “É exatamente como o dia da morte de Rafik Hariri. Os sírios não estão mais aqui, mas há libaneses que trabalham para eles. O governo é responsável pelo que houve e queremos que ele saia”, afirmou Manal Sharqawy, um estudante de direito que estava no local para participar do protesto.

O líder político libanês ligado ao Hezbollah Michel Aoun afirmou que grupos de oposição querem “tirar vantagem” do atentado de sexta-feira. “Estaremos vigilantes para garantir que não ocorra uma derrapagem na instigação de alguns que querem usar esse crime para uma batalha política”, disse à imprensa, em clara alusão aos opositores anti-Síria.

Apelo ao cessar-fogo O mediador internacional enviado pela ONU e pela Liga Árabe, Lakhdar Brahimi, fez ontem um apelo para que as partes em conflito na Síria proclamem um cessar-fogo, depois de uma reunião com o ditador Brashar Al-Assad, em Damasco. “Peço a todos, a cada sírio, nas ruas, nas aldeias, aos combatentes no Exército sírio e aos opositores, que tomem uma decisão unilateral de cessar as hostilidades”, afirmou Brahimi. Os conflitos no país já deixaram mais de 34 mil mortos. Ontem, a explosão de um carro-bomba na Velha Cidade de Damasco, um bairro cristão, matou 13 pessoas.