O globo, n.31378, 05/07/2019. Economia, p. 18
Bolsa tem novo recorde, e dólar recua a R$ 3,79
Ana Paula Ribeiro
Gabriel Martins
05/07/2019
Bastou a aprovação do texto-base da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara para a Bolsa renovar o seu recorde histórico e o dólar fechar abaixo dos R$ 3,80. A moeda americana recuou 0,67%, a R$ 3,7993, menor cotação desde 20 de março, quando encerrou em R$ 3,76. Já o Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, subiu 1,56%, aos 103.636 pontos, maior patamar já registrado no fechamento.
— O mercado já antecipava essa aprovação. Com essa votação, temos a continuidade do clima positivo. Vamos ver se agora começamos a ver outros avanços e se a economia vai destravar —avaliou Ari Santos, gerente de renda variável da corretora H.Commcor.
FERIADO NOS EUA AJUDA
Além da aprovação do texto base, os investidores ficaram animados com a declaração do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sobre a votação no plenário, que poderia ser feita antes do início do recesso parlamentar, em 18 de jullho.
Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, lembra que os agentes do mercado estão confiantes com essa data e que, no Senado, a expectativa é que a reforma possa ser aprovada até o fim do terceiro trimestre:
—Com o feriado nos Estados Unidos (Dia da Independência), os investidores se voltaram para a Comissão Especial e estão reagindo bem à votação. Há potencial positivo a curto prazo.
A falta de liquidez, por causa do feriado americano, também ajudou a Bolsa brasileira.
— Com certeza as expectativas relacionadas à Previdência contribuem para os ganhos. Mas vale ressaltar que o mercado americano não operou ontem, eéo exterior que está pressionando mais o mercado recentemente — disse Álvaro Bandeira, economista-chefe do Modalmais.
Todos os papéis mais negociados do Ibovespa ficaram em terreno positivo. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras subiram 0,96%, e as ordinárias (ON, com voto) avançaram 1,31%. Já a Vale subiu 0,74%.
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Guedes espera aprovação no plenário semana que vem
Rennan Setti
05/07/2019
O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem esperar que a aprovação da reforma da Previdência ocorra na semana que vem — “acredito no Congresso”, afirmou. E admitiu que o presidente Jair Bolsonaro mostrou certa “ingenuidade” ao negociar as mudanças na aposentadoria.
— Ele tem uma ingenuidade ou outra. “Não dá pra ajudar aquele ali, não?”, como agora na reforma da Previdência. Mas eu digo, “senhor presidente, agora é o Congresso que está com a reforma” — afirmou Guedes, na abertura de evento da XP Investimentos.
Sobre a falta de coordenação política, o ministro avaliou que se trataria mais de um problema de comunicação.
— Tinha uma forma de comunicação no Congresso, mas tem uma nova forma chegando, e a coisa ainda está balançando. Mas uma hora
acerta. Porque os congressistas, que também foram eleitos, têm bons projetos. Tem uma ou outra criatura do pântano, mas tem muita gente querendo acertar.
CAPITALIZAÇÃO NO FUTURO
Com relação ao regime de capitalização (no qual cada trabalhador poupa para sua própria aposentadoria, enquanto o atual é de repartição), que ficou de fora do texto da reforma, Guedes ressaltou que pode ser retomado no futuro.
— Cada coisa de cada vez. O primeiro movimento agora era conseguir uma potência fiscal, para tentarmos, lá na frente, de novo, fazer um esforço para migrarmos em direção à capitalização. Não podemos ficar presos a esse sistema, que destrói empregos —disse Guedes.
Ele explicou que a capitalização não seria erguida dentro do sistema bancário, mas em um sistema separado e descentralizado:
— O governo garante o recurso mínimo, mas a gestão é privada, descentralizada. É a difusão do capitalismo popular. Permitir que os pobres capitalizem os seus recursos, assim como os ricos.
De acordo com o ministro, aprovada a reforma da Previdência, o foco do governo no segundo semestre será acelerar privatizações e implementar a reforma tributária e um novo pacto federativo.
— Para o Senado, a ideia é levar o pacto federativo. Vamos controlar lá em cima na União e deixar cada vez mais estados e municípios se responsabilizarem — afirmou.
— Na Câmara, vamos jogar a reforma tributária. A reforma dos impostos é iminente, ela vai começar agora.
Guedes disse ainda que “daqui a cinco, seis dias” o governo vai anunciar um “choque da energia barata”, prevendo a integração do gás produzido na Argentina e na Bolívia à rede de distribuição de gás brasileira.
Segundo o ministro, o objetivo é derrubar em até 40% o custo de produção das termelétricas. Paulo Guedes, ministro da Economia Além do apoio do governador do Rio, Wilson Witzel, que quer abrir mão do monopólio de distribuição de gás, Guedes falou que já há negociações com os governadores de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo.
Sobre o BNDES, Guedes disse que o objetivo é acelerar as privatizações e as concessões. E criticou as gestões anteriores do banco, que concedeu empréstimos a empreiteiras, para prestar serviços em Cuba, Angola e Venezuela — “países com ideologias obsoletas”, afirmou —e aos chamados campeões nacionais.
— O presidente torce para um time, surge um estádio. O presidente gosta de um empresário, um banco público é capitalizado, esse dinheiro vai parar lá, e sua empresa vira a maior de proteína animal do mundo. Nenhum presidente pode ter tanto poder assim —ironizou.
—Vamos desalavancar o banco. O campeão nacional vai ficar chumbado pelo caminho, já que escolheu vias escusas.
TRATAMENTO DE POPSTAR
Segundo Guedes, o governo retomou as negociações para o acordo com a União Europeia, assinado na semana passada, após negociar com os parceiros do Mercosul que o bloco adotaria uma postura liberal, de abertura.
— O liberalismo é a maior alavanca de geração de riqueza já criada. Um chinês, quando ele nasce, amarram uma TV de tela plana na cabeça, jogam ele no mar, ele vem nadando e vende ela pra gente aqui — brincou.
—O crescimento se moveu para a Ásia. Enquanto isso, Brasil e Argentina, os dois aqui bebendo bastante, afundaram nos últimos 30 anos.
Ele assegurou que a agenda do governo, a longo prazo, levará à redução dos juros:
—O Brasil vai deixar de ser o paraíso dos rentistas, vai virar o inferno dos rentistas. Vai trabalhar, vagabundo!
Guedes foi recebido como popstar por uma plateia formada por milhares de assessores de investimento, que o aplaudiram de pé, tiraram fotos com o ministro e entoaram gritos como “Você está salvando o Brasil” e “Não esquece da gente”. Guedes agradeceu o apoio recebido nas ruas e nas redes sociais.