O Estado de São Paulo, n. 460296, 26/10/2019. Metrópole, p. A22

 

Petrobrás identifica que óleo no litoral é proveniente de 3 campos da Venezuela

André Borges

Fernanda Nunes

Roberta Jansen

26/10/2019

 

 

AMBIENTE. Estudo comparou 30 amostras recolhidas das praias com banco de dados e concluiu que se trata de um blend do petróleo extraído desses locais, o que não significa que o país tenha responsabilidade pelo derramamento; Inpe investiga tempestades no mar

Estudos técnicos realizados pela Petrobrás sobre a origem do petróleo que contamina mais de 2,5 mil quilômetros do litoral do Nordeste confirmam não apenas que o produto teria origem na Venezuela, mas de quais campos o material foi retirado.

A informação, antecipada pelo estadão.com.br, foi repassada à Marinha e aponta que a borra de petróleo tem origem em três campos específicos de exploração no país vizinho. A constatação foi possível após a Petrobrás comparar a composição química do material recolhido nas praias com centenas de amostras de petróleo de todo o mundo que a empresa mantém em um centro de pesquisas na Ilha do Fundão, no Rio.

“Quando a gente fez a análise em mais de 30 amostras, concluiu que era de três campos venezuelanos, é um blend. A origem do petróleo é lá. A origem do vazamento é outra coisa, que a gente entende que é na costa brasileira”, disse o diretor de Assuntos Corporativos da Petrobrás, Eberaldo de Almeida Neto. Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) indicou que o derramamento pode ter ocorrido a pelo menos 600 km da costa.

Isso não significa, portanto, que a Venezuela tenha responsabilidade direta sobre o derramamento do óleo, já que o material pode ter sido embarcado em navio de qualquer origem, até mesmo em embarcações ilegais. A hipótese de que o piche seja resultado de operação criminosa de um “navio fantasma” é, para a Marinha, uma das mais prováveis atualmente porque, segundo avaliações técnicas que já realizou, o produto que contamina as praias brasileiras não é comprado por nenhum outro país do mundo.

Para Almeida Neto, o trabalho de buscar a origem do material para evitar que chegue às praias do Nordeste, como vem acontecendo desde o início de setembro, “é (como procurar) uma agulha no palheiro”.

Após fazer o cruzamento de uma série de dados, a Marinha enviou questionamentos técnicos formais a 30 embarcações que têm origem em 11 países. Todas passaram pela região no período investigado e possuem registros na Organização Marítima Internacional. As respostas ainda são aguardadas.

O comandante de Operações Navais da Marinha, almirante Leonardo Puntel, afirmou ontem, no Recife, que “existe um inquérito de poluição hídrica aberto na Marinha e investigações estão sendo realizadas”.

Busca por causas. Paralelamente, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) começou a procurar em seus arquivos informações sobre grandes tempestades, ondas gigantes e condições de navegabilidade do mar nos últimos dois meses. O objetivo é tentar estabelecer se houve condições para um naufrágio – que poderia ser responsável pelo derramamento de óleo. Segundo o oceanógrafo Ronald Buss de Souza, vice-diretor do Inpe, também serão feitos modelos para entender a movimentação das correntes marítimas no oceano profundo, que tem um ritmo bem diferente das correntes de superfície. Essa análise pode ajudar a determinar até mesmo se o fluxo de óleo está vindo do fundo do mar, por exemplo, de algum navio naufragado.

Ontem o óleo chegou à cidade de Ilhéus (BA), o ponto mais ao sul atingido até o momento pela poluição que afeta o Nordeste desde setembro e que já chegou a 238 localidades, segundo o Ibama.