O globo, n.31377, 04/07/2019. País, p. 04

 

Casa civil esvaziada 

Bruno Góes 

Naira Trindade 

Natália Portinari

Silvia Amorim

04/07/2019

 

 

Com seu papel no governo esvaziado, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, enfrenta um processo de fritura alimentado pela base política do presidente Jair Bolsonaro. Integrantes do PSL, partido do presidente, avaliam que Onyx fracassou como negociador político e reclamam dele ter empregado seus próprios aliados em cargos nos estados. Parlamentares da legenda ouvidos pelo GLOBO dizem ainda que o ministro isolou o partido do presidente das esferas de poder.

Onyx perdeu formalmente o comando da articulação política para o general Luiz Eduardo Ramos,

que assumirá a Secretaria de Governo. Apesar disso, ele deve continuar nas negociações para a aprovação da reforma da Previdência na Câmara, segundo o próprio presidente da República. Apesar das pressões, a avaliação no Palácio do Planalto é que, pelo menos por ora, Onyx permanece no comando da Casa Civil.

Um dos sinais de desgaste do ministro foi o fracasso do pacto entre os chefes dos Poderes, anunciado por ele há dois meses como saída para os problemas de articulação política do governo. O acordo não prosperou por resistência do Congresso. Ontem, Bolsonaro minimizou a relevância da iniciativa.

— Nós não precisamos de pacto assinado no papel. O pacto que precisamos com o Poder Legislativo

é o nosso exemplo de votarmos matérias, apresentarmos proposições que fujam do populismo —disse Bolsonaro, ao lado de Onyx e de Ramos.

Um dos motivos da insatisfação com o ministro é o fato de Onyx ter coletado junto a deputados mais de 75 indicações para o chamado “banco de talentos” e, depois, ter dado espaço apenas a aliados. No Rio Grande do Sul, por exemplo, o ministro da Casa Civil indicou um aliado para a superintendência do Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e outro para uma diretoria.

A deputada Carla Zambelli (PSL-SP) diz que o mesmo ocorreu em São Paulo, onde o ministro teria agido junto com a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do governo no Congresso.

— Deu (cargos) para fazer a base dele, mas não foi uma negociação pró-governo — reclama Carla Zambelli.

Procurado pelo GLOBO, o ministro não quis se pronunciar.

A saída do ex-deputado Carlos Manato (PSL-ES) do time de articulação política da Casa Civil é outro ponto ainda não superado pela bancada do PSL.

— É simplesmente um ato que nós não concordamos. Ação injusta com um parlamentar que foi candidato a governador e estava antes com Bolsonaro do que o ministro. Então não é algo que temos que engolir — disse o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO).

Delegado Waldir já enfrentou publicamente Onyx em algumas ocasiões, inclusive tendo apoiado sua convocação à Câmara quando o ministro insinuou que parlamentares mentiram ao relatar uma conversa com Bolsonaro sobre cortes orçamentários em universidades.

APROXIMAÇÃO DO CENTRÃO

Na avaliação de líderes partidários do Centrão, o incômodo em torno do trabalho do ministro se intensificou logo após a aproximação dele com esse bloco, que tem colocado obstáculos a pautas do governo. Outro fator que teria gerado desconfiança no Planalto é sua proximidade com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Onyx já tinha uma estreita relação com Alcolumbre quando assumiu a Casa Civil. Já a aliança com Maia foi posterior.

Onyx também enfrenta resistência dos filhos de Bolsonaro, segundo líderes partidários, por ter postura de conciliação e por ter oferecido a liberação de R$ 40 milhões em emendas, para cada deputado, pela aprovação da reforma da Previdência. A prática teria sido considerada um “toma lá dá cá” pelos filhos e pelo próprio presidente.