Título: Cada cidade com seus problemas
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Política, p. 7

Os partidos atrelam as eleições municipais às eleições para a Presidência da República, para os governos estaduais e, também, para a Câmara dos Deputados, já que um arco de apoio de prefeitos ajuda a consolidar uma bancada robusta no Congresso Nacional. Muitas vezes, no entanto, os políticos se esquecem de que, basicamente, as disputas para a prefeitura envolvem questões paroquiais, do dia a dia do eleitorado. E deixam de responder o que pretendem fazer para melhora vida do cidadão.

Apesar de alguns problemas comuns a todas as grandes capitais, é nítida a diferença entre os gargalos dos municípios mais carentes e os dos mais ricos. Na Região Norte, por exemplo, problemas de drenagem e de saneamento sempre atormentaram as pessoas. Em Macapá (AP), existem sérios problemas na coleta de lixo e no tratamento de esgoto, além de falhas no abastecimento de água.

A falta de saneamento acaba agravando os problemas de saúde ambiental na capital do Amapá, especialmente nas áreas sujeitas às “ressacas urbanas” — inundações que atingem com frequência alguns bairros nos períodos de chuva. Nessas regiões encontra-se a maior parte da população de baixa renda da cidade. O drama se repete em Belém (PA), onde apenas 37% dos municípios têm rede de esgoto, índice bem abaixo dos 55% da média nacional.

Em São Luís (MA), a falta de saneamento mancha os cartões-postais da cidade e compromete uma das principais fontes de renda da capital maranhense: o turismo. A falta de tratamento adequado do esgoto de São Luís chegou ao ponto de provocar a interdição, para banho, das oito principais praias da cidade, a pedido do Ministério Público.

Nem sempre o boom econômico assegura momentos perenes de desenvolvimento. Em Porto Velho, o futuro é mais incerto do que a realidade atual. A cidade vive um momento de pleno emprego, consequência, sobretudo, da construção das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau. A pergunta é o que fazer com a mão de obra farta quando as duas obras forem concluídas.

O Brasil vive um problema crônico na área de saúde. Mas as discussões diferem de acordo com a capital. Foi o principal tópico do primeiro debate televisivo entre Fernando Haddad (PT) e José Serra (PSDB) na disputa por São Paulo. O cerne do embate foi quem administrará a rede pública de saúde. Desde 1994 no poder estadual, o PSDB adotou o modelo no qual organizações sociais administram a rede. O PT sempre enxergou isso como uma espécie de privatização e posiciona-se contra o modelo.

Os tucanos enxergaram nisso uma brecha para atacar os petistas. “O Haddad quer expulsar as Irmãs Marcelinas e a Santa Casa de Misericórdia” de nossa cidade”, provocou Serra. O petista sentiu o golpe. E disse que não existe em nenhum ponto de seu programa eleitoral qualquer menção à possibilidade de mudança do regime de administração hospitalar paulistano.

Em outras capitais, o problema é bem mais complexo do que apenas saber quem administrará a rede. Em Salvador, Campo Grande, Fortaleza e Cuiabá faltam hospitais, leitos e profissionais.

Além desse temas, segurança, educação e infraestrutura também preocupam os eleitores. Em Florianópolis (SC), o aumento do poder aquisitivo da população levou à explosão do número de veículos, algo que não foi acompanhado pelos investimentos em ruas e avenidas que, estreitas, tornaram o trânsito caótico, principalmente na Ilha de Santa Catarina, onde estão o centro administrativo da cidade e as praias mais procuradas.