Título: Riscos do desperdício
Autor: D'Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Economia, p. 14

O professor José Eustáquio Diniz, professor do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), não tem dúvidas: apesar de ter reduzido as desigualdades sociais nos últimos anos, o Brasil desperdiçou o momento de avançar mais rapidamente na escolarização da população. “Os indicadores melhoraram, é preciso reconhecer. A maior parte das crianças está na escola, o analfabetismo diminuiu e aumentou a quantidade dos que têm curso superior. O avanço, porém, foi lento. Precisamos ser mais rápidos, para enfrentar melhor o envelhecimento da população”, aconselha.

Ele alerta que, depois que acabar o período do bônus demográfico, a situação ficará mais difícil. “Se não chegarmos até 2030 com esses problemas básicos resolvidos, acumularemos problemas históricos, com maiores gastos advindos do envelhecimento da população”, observa. O professor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) da Universidade de São Paulo (USP) Fernando Botelho endossa. “O tempo está curto e a melhoria da qualificação da mão de obra, a expansão da infraestrutura e maior educação dos jovens são emergenciais. Em idade madura, as crianças e jovens bem formados e qualificados são extremamente produtivos e mais tributados para sustentar os idosos”, afirma.

Não foi o que aconteceu até agora. A maior disponibilidade de pessoal para o trabalho não resultou no aumento da produtividade do país. O crescimento econômico resultou na elevação da demanda por mão de obra. Mas sem encontrar pessoal preparado, a indústria, o comércio e o setor de serviços recorreram aos que estavam fora do mercado, sem qualificação. Com pouco preparo, rendem menos. São necessários cinco trabalhadores brasileiros para produzirem o mesmo que um norte-americano. Para Botelho, da USP, o futuro será menos doloroso quanto mais bem estiverem preparados os jovens de hoje.