Título: Corrida contra o tempo
Autor: D'Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Economia, p. 14
O jovem Rafael da Escóssia Lima, 18 anos, já definiu o seu futuro: quer ser político — e, se a sorte ajudar, presidente da República. Acredita que tem muito a contribuir para o futuro da sua geração e do país. Tamanha convicção contrasta com a morosidade do governo e do Congresso em promover as mudanças que podem levar o Brasil a tirar proveito de uma reserva tão expressiva de mão de obra e garantir o bem-estar social. Apesar de todos reconhecerem a necessidade das reformas trabalhista, da previdência e tributária, que dariam maior competitividade à economia, o empenho para tirá-las do papel é quase nulo.
É essa letargia que anima Rafael. Consciente de que não deve esperar pelo governo e pelo Congresso, está se capacitando da melhor forma possível para fazer a diferença. Aluno do curso de direito na Universidade de Brasília UnB), o rapaz já agrega ao currículo três línguas estrangeiras — inglês, espanhol e alemão —, além de encabeçar movimentos de cunho político e social. A última iniciativa, como diretor do movimento Juventude Consciente, foi reunir 40 mil assinaturas pelo fim do voto secreto parlamentar, que pretende apresentar à Câmara Legislativa do Distrito Federal.
Os objetivos de Rafael são claros. “Considero a possibilidade de alçar voos em uma empresa privada e não descarto um concurso público para garantir meu sustento. A partir de então, meu sonho é seguir carreira na política”, diz. “Acho importante não tirar meu sustento da política. Esse é o grande problema da corrupção no país. Quero crescer nesse meio de forma justa e, quem sabe, até me tornar presidente da República um dia”, acrescenta.
Para Regina Madalozzo, professora do Instituto Insper, é justamente o fato de o país não promover os ajustes que garantiriam um futuro mais tranquilo para a geração de Rafael que os sistemas previdenciário e de saúde acumulam deficits cada vez maiores e mau atendimento, tendendo a ficarem piores. “Infelizmente, estamos perdendo as vantagens do bônus demográfico. No caso da Previdência, todas as medidas que forem tomadas daqui para frente serão para consertar, tentar minimizar o estrago já feito”, ressalta.
Dois horizontes O economista José Márcio Camargo prevê um futuro bem sombrio, que comprometerá a qualidade de vida dos idosos, que já não é das melhores atualmente. “Acredito que, em algum momento, teremos que fazer um ajuste na quantidade de recursos que podem ser dedicados aos mais velhos”, diz. Ele destaca que, apesar de ter atualmente uma parcela pequena de pessoas com mais de 60 anos, o Brasil já compromete 13% do Produto Interno Bruto (PIB) com aposentadorias e pensões dos sistemas público e privado. “O Brasil resolveu favorecer seus idosos em relação às suas crianças. Gasta apenas 4% do PIB com educação fundamental e média”, critica.
Ele só vê dois horizontes no futuro: “Ou a carga tributária sobre os futuros adultos será muito alta para poder sustentar uma porcentagem maior de idosos, ou terá que diminuir a quantidade de recursos destinados aos inativos”, avalia. Segundo Camargo, a previdência do funcionalismo é ainda mais escandalosa. “Quanto mais tempo leva para resolver esse problema, mais grave vai ficando”, avisa. Dependendo das dificuldades enfrentadas, o governo será obrigado a cortar os benefícios. Isso será feito, num primeiro momento, segurando os reajustes.
Para fazer frente às dificuldades futuras que vêm com o envelhecimento da população, as famílias devem se preparar desde já, reforçando a poupança, que não se traduz apenas pelo acúmulo de dinheiro para complementar aposentadorias, segundo o professor José Eustáquio Diniz, do IBGE, mas, principalmente, em investimentos na saúde, educação e qualificação dos filhos. Se houver condição, afirma, deve-se investir em bens imóveis e também numa reserva financeira. Com filhos preparados e produtivos, os pais terão uma condição melhor na velhice. (AD)
» Força feminina
O Brasil conseguiu alcançar o bônus demográfico com a forte redução da taxa de natalidade a partir dos anos 1960 em ritmo maior que a da queda da mortalidade infantil. Outro fator que contribuiu foi a diminuição pelos casais do número de filhos, de uma média de 6,3 dos anos 1960 para menos de dois atualmente. Com isso, aumentou o contingente de mulheres disponíveis para o trabalho fora de casa. Com mais escolaridade que os homens — têm uma média de 7,5 anos de estudo frente aos 7,1 deles —, elas foram preponderantes para o aumento dessa força de trabalho.