Título: Jovens pagarão mais por saúde e previdência
Autor: D'Angelo, Ana
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Economia, p. 14
Para sustentar envelhecimento da população e garantir bem-estar futuro, meninos de hoje arcarão com impostos maiores
Os meninos de hoje — nem seus pais — não imaginam o Brasil que deverão carregar nas costas quando forem adultos. Eles terão que dar um duro danado para sustentar uma massa grande e crescente de idosos, produzindo mais, arcando com impostos maiores do que recolhe a atual geração e, pior, pagando mais caro pela Previdência Social e a saúde. Ou seja, se o quadro de hoje está ruim, pode ser pior. É que o chamado bônus demográfico, que o país experimenta desde os anos 1970 e é capaz de atenuar essa fatura, está acabando, sem que tenha sido aproveitado devidamente.
O fenômeno — estrutura etária que toda nação experimenta uma única vez na sua história, em que a quantidade de mão de obra disponível (adultos) é proporcionalmente bem maior que a de dependentes, composta por idosos, crianças e adolescentes— é ideal para promover o desenvolvimento do país. Por isso, é também chamado de “janela de oportunidades”. Essa força de trabalho extraordinária é vital para construir as riquezas que vão garantir o bem-estar da população no futuro, quando os mais velhos serão a maioria da população.
O drama é que o Brasil, que dispõe de uma das maiores reservas de mão de obra do planeta, tem, no entender dos especialistas, no máximo 15 anos para tirar proveito dessa fartura. Para isso, precisa acelerar o processo de escolarização e qualificação das crianças e dos jovens, erradicar a pobreza, resolver os problemas de infraestrutura, de qualidade das habitações e dos sistemas de saúde e de previdência. O auge do ganho com a força de trabalho será atingido em 2020, conforme projeções do Banco Mundial e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). A proporção de adultos (de 15 até 60 anos) alcançará 66,2% da população. As crianças serão 20,1% e os idosos (mais de 60 anos), 13,7%.
A partir daí, começa a decrescer a participação dos adultos no total da população, com aumento crescente dos idosos, que viverão mais tempo. Em 2050, os mais velhos serão cerca de 30% da população (veja quadro), com expectativa de vida de 80 anos, em média. Em 1980, eles eram apenas 6,1%. “Tudo dependerá do que o país fizer nesses anos que ainda têm pela frente de bônus demográfico. É uma janela que se fecha um pouco a cada ano. Na hora que for fechada completamente, a conta virá”, afirma o professor do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE) do IBGE José Eustáquio Diniz.
Esses 15 anos são o prazo para preparar as crianças e os jovens de hoje — que, em 2050, terão em média 40 anos — para garantir o sustento de uma população cada vez mais velha, que necessitará não só da renda do sistema previdenciário, como de um sistema de saúde eficiente. Se a nação não conseguir atingir esses objetivos até por volta de 2025, as famílias brasileiras passarão por momentos muito difíceis. Nem os adultos de amanhã bem preparados e qualificados darão conta dos custos a serem arcados. “Eles terão que ser supertrabalhadores”, resume a professora do Instituto Insper Regina Madalozzo. Segundo ela, o novo padrão de vida que a população está experimentado nos últimos anos não é sustentável a longo prazo.
Na avaliação de Diniz, devido ao pouco tempo que ainda resta, são necessárias políticas públicas certeiras para, rapidamente, gerar emprego de qualidade e melhorar a educação e o sistema de saúde. Ele avalia que o país aproveitou, em parte, o bônus demográfico, quando promoveu, na última década, melhor distribuição de renda e redução da pobreza. Foi o resgate de uma dívida social que vem dos tempos do milagre econômico, nos anos 1970, quando o país cresceu a taxas altas, em torno de 7% ao ano, mas com aumento do fosso que separa ricos e pobres.