Correio braziliense, n. 20497, 04/07/2019. Brasil, p. 6

 

Enem terá prova digital em 2020

Ingrid Soares

Beatriz Roscoe

04/07/2019

 

 

Educação » No ano que vem, modelo será oferecido de forma opcional para 50 mil alunos em 15 capitais. Em caso de problema, haverá uma reaplicação em papel. Objetivo é que exame seja integralmente feito no computador até 2026

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) será aplicado por meio digital a partir de 2020. O anúncio foi feito ontem pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, e pelo presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes. No ano que vem, segundo o ministério, a prova será oferecida de forma opcional a 50 mil alunos de 15 capitais brasileiras. O valor da inscrição será o mesmo para todos os candidatos.

O objetivo é que, até 2026, as provas sejam feitas integralmente por meio digital. No entanto, alunos e especialistas consideram que, se, por um lado, a iniciativa parece transformadora,  por outro, aparenta não levar em consideração as desigualdades regionais e de inclusão digital, além de possíveis problemas de logística e de falta de banco de itens de questões.

O estudante Gabriel Santos, 23 anos, está no segundo ano do cursinho e almeja passar em medicina. Ele fará o exame este ano. Santos não acredita que as medidas anunciadas sejam positivas: “A maioria das provas é aplicada em colégios públicos, e é só ir a algum colégio para ter noção do estado das máquinas. Acredito que muitos computadores darão problemas e muitos candidatos poderão ser prejudicados”.

Luisa Lambach, 20, também participará da prova em 2019 para tentar uma vaga em medicina. Ela considera que, para o ano que vem, a prova digital não é uma boa opção. “Os computadores existentes não são tão bons, e pode ser que haja problema. Além disso, o fato de ser digital atrapalha a prova em si. A redação, por exemplo, eu acho importante escrever à mão, fazer rascunho, poder rasurar, pensar, faz parte do processo”, alega.

Sobre o assunto, Weintraub ressaltou que é necessário um olhar otimista para o futuro e que a implementação será feita progressivamente. “A gente está com um olhar no futuro dentro da realidade atual. A gente vai ter sucesso nisso”, destacou. Lopes, informou que o MEC não investirá na compra de novos computadores para a aplicação do exame e que “foi levada em consideração a nossa capacidade de expandir o banco de itens”.

“Vamos utilizar a base já instalada não só nas unidades de ensino. No mundo digital, muda. Pode utilizar outras instituições que tenham disponibilizadas salas com infraestrutura de informática para aplicação de prova. É isso que vamos identificar ao longo do tempo”, disse.

Agendamento

Segundo a pasta, a aplicação do Enem neste ano será normal. No caso do Enem digital, será aplicado em 11 e 18 de outubro de 2020. O presidente do Inep afirmou que o objetivo é fazer várias aplicações do exame ao longo do ano, “por agendamento, como se fosse para tirar o passaporte”. “O aluno vai escolher a cidade, o dia e vai marcar a prova”, afirmou. “Aquele aluno que optar pelo Enem digital não será prejudicado, porque se tiver algum problema de logística, de computador, por exemplo, ele será redirecionado para uma reaplicação”, explicou.

Em 2020, portanto, o Enem terá três aplicações: a digital, a regular e a reaplicação. Este último caso é voltado para candidatos prejudicados por algum problema logístico ou de infraestrutura durante a realização da prova digital. Eles terão direito a fazer a prova em papel. O MEC contratará um consórcio para organizar as novas edições do exame e descarta riscos de invasão de hackers ou fraudes.

As capitais que receberão a prova em formato digital em 2020 são: Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Curitiba, Florianópolis, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Economia

O MEC aponta, ainda, a economia que será gerada sem a impressão de papel. “Somente em 2019, mais de 10,2 milhões de provas serão impressas para o Enem. Os custos da aplicação superam R$ 500 milhões para os mais de 5 milhões de participantes confirmados na edição”, afirmou o órgão. Em 2026, a versão em papel para de ser distribuída e o exame só será em formato digital.

Para a diretora do Sindicato dos Professores no Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Corrêa, a tecnologia deve ser entendida como um avanço, mas quando se depara com a realidade do país, de congelamento de investimentos na educação, a meta de tornar 100% digitais as provas do Enem até 2026, parece estar longe de se tornar concreta. “É uma contradição o ministro anunciar isso. Tem escolas que sequer têm laboratórios. O caminho é esse, mas é preciso que o governo decida se haverá investimento. Tecnologia impõe investimento. Também pode gerar discriminação, pois onde tem estrutura será contemplado. E no interior do país, os alunos ficarão à margem? Mesmo em Brasília, do ponto de recursos tecnológicos, estamos distantes de algo razoável. Não se pode falar de mudança com perspectiva de retrocesso”, apontou.

Conteúdo

Ao contrário do que havia determinado o presidente Jair Bolsonaro sobre as provas do Enem, as questões não foram lidas antecipadamente. Segundo o ministro da Educação, Abraham Weintraub, “eu não li a prova, o presidente não leu, e o Camilo não leu”, disse. Em seguida, deixou claro que o objetivo é acabar com o viés ideológico das questões nas provas.  “Sobre os funcionários que trabalham conosco, quem não performar conforme o esperado, a gente vai desligar”, afirmou.

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Automatização avança

 

 

 

 

 

Hamilton Ferrari

04/07/2019

 

 

 

Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) terá 90 de 96 serviços totalmente automatizados a partir da próxima quarta-feira. De acordo com o órgão, o foco é facilitar a vida do cidadão que precisa se deslocar para uma agência.

Alguns serviços já são atendidos pela Central 135 de forma totalmente eletrônica, sem atendente. Um exemplo disso é o resultado da perícia médica que, em apenas 10 dias de migração para a nova forma de atendimento, recebeu 204.108 ligações, das quais 65% foram resolvidas sem a intervenção humana.

O tempo médio de atendimento (TMA) durou apenas três minutos e 20 segundos. Desde ontem, outros serviços passaram a ser realizados pelo mesmo processo: agendamento para atualização cadastral; para extrato de empréstimo consignado; para extrato de pagamento; para extrato de Imposto de Renda Pessoa Física (IRFP); consulta requerimento; e informação de data e local de pagamento.

Segundo o INSS, o objetivo é possibilitar, cada vez mais, que o atendente seja acionado apenas nos casos mais complexos, tornando as informações mais ágeis e precisas, e reduzindo, ou mesmo eliminando, o tempo de espera pelo atendimento.

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Questões deste ano já estão na gráfica

04/07/2019

 

 

 

 

As provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019 já estão na gráfica para diagramação e impressão e serão aplicadas em 3 e 10 de novembro. A nota do Enem de quem já concluiu o ensino médio ou vai concluir este ano podem ser usadas para se inscrever no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que oferece vagas em instituições públicas de ensino superior; no Programa Universidade para Todos (ProUni), a fim de conseguir bolsas de estudo em instituições privadas de ensino superior; ou no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies).

Encerrada a preparação para o exame deste ano, segundo o ministério, começa a preparação para o desenvolvimento e aquisição da plataforma digital para 2020. O anúncio sobre o uso da tecnologia no Enem, no entanto, preocupa educadores.

O professor de Informática e Sociedade do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Henrique Cabral, apoia a ideia de digitalizar o Enem, mas acredita que muitos alunos enfrentarão dificuldades: “Terão problemas. Alguns laboratórios podem não funcionar, pode não ter computador para todos, muitos podem deixar de fazer a prova por conta disso. Vários terão que fazer o Enem em outro dia. Será um desafio para quem aplicar”, avaliou.

Novas habilidades

Para o professor e diretor pedagógico do cursinho Planejamento Preparação e Aplicação, Paulo Perez, a prova digital exige novas habilidades: “Leitura e interpretação, por exemplo, no papel é uma coisa, na tela, é outra”. Ele acredita que digitalizar a prova muda a resolução processual a que os estudantes estão acostumados. “Muitos alunos grifam, riscam, rasuram. Novas habilidades devem ser desenvolvidas, até porque há um abismo no país e grande parte da população é digitalmente excluída ou analfabeta digital”.

Na visão de Paulo, a prova ser realizada digitalmente é algo que a princípio seria positivo. “É possível elaborar questões com vídeos, infográficos, é algo que se aproxima da realidade de muitos jovens, muito mais próximo do dia a dia. No entanto, Perez explica que paralelamente à aplicação do Enem digital, é preciso desenvolver políticas públicas para reduzir o abismo tecnológico no país. “Só 38% das escolas públicas federais possuem laboratório de informática”, lembrou.