O Estado de São Paulo, n. 46027, 24/10/2019. Política, p. A10

 

CPI chama 'gabinete do ódio' do Planalto

Renato Onofre

24/10/2019

 

 

Assessores do presidente chefe da Secom são convocados a prestar esclarecimentos à comissão que investiga fake news na disputa de 2018

Trincheira. CPI das Fake News na eleição já aprovou 92 requerimentos até a sessão de ontem; 85 são pedidos da oposição

Nem mesmo a presença do novo líder do PSL na Câmara, deputado Eduardo Bolsonaro (SP), evitou ontem mais uma derrota do governo na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News. Deputados e senadores do colegiado aprovaram a convocação de auxiliares do presidente, incluindo o secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, o assessor especial da Presidência, Filipe Martins, além de integrantes do chamado “gabinete do ódio”.

O núcleo é composto por Tércio Arnaud Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos Diniz, como mostrou o Estado no mês passado. Com a convocação, eles serão obrigados a comparecer à CPI. Ainda não há data para que isso ocorra.

Defensores da pauta de costumes, os três assessores lotados no Palácio do Planalto são ligados ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC), filho “02” do presidente. Entre as funções que o grupo exerce no governo está a atualização das redes sociais da Presidência da República.

A CPI investiga a disseminação de notícias falsas nas eleições de 2018. Adversários tentam usar a comissão para encontrar irregularidades na campanha que elegeu Bolsonaro.

A oposição é maioria no grupo e tem usado a vantagem para impor seguidas derrotas ao governo. Como mostrou o Estado, dos 92 pedidos aprovados até a sessão de ontem, 85 tiveram autoria de parlamentares do PT, PSB ou PDT.

Comandada por Eduardo e reforçada pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho mais velho do presidente, a bancada governista ainda tentou incluir na lista de convocados da CPI os ex-presidentes petistas Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. A manobra, porém, foi rejeitada por 12 a 9. Contudo, eles conseguiram a aprovar a convocação da deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente do PT.

Bolsonaro. Do Japão, onde cumpria agenda oficial, Bolsonaro fez chegar a seus articuladores políticos a insatisfação com o resultado na CPI. A avaliação no Palácio do Planalto é a de que as convocações têm potencial de desgastar o governo, mas não há muito o que fazer no momento, uma vez que governistas são minoria no colegiado.

Na reunião de ontem, a CPI também aprovou ouvir ex-aliados de Bolsonaro. Entre eles o ex-ministro da Secretaria de Governo Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido após entrar em confronto com Carlos Bolsonaro. Ele foi convidado, por isso pode escolher se aceita falar aos parlamentares ou não.

A oposição conseguiu ainda chamar a ex-líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), e o ex-líder do PSL na Câmara Delegado Waldir (GO). Hasselmann acusou os filhos de Bolsonaro de comandarem uma rede de 1,5 mil perfis falsos para disseminação de notícias falsas.

Carlos. Parlamentares chegaram a discutir durante a sessão se convocariam Carlos Bolsonaro para prestar depoimento à CPI. Um pedido para ouvir o vereador, porém, não chegou a entrar na pauta.

Na semana passada, Carlos admitiu pela primeira vez administrar as redes sociais do pai ao postar críticas ao fim da possibilidade de prisão após condenação em segunda instância, tema em discussão no Supremo Tribunal Federal, em uma conta do presidente. Logo depois, porém, apagou e pediu desculpa pelo engano.

“Se quiserem chamar o Carlos, que chamem. Para mim é indiferente. Seria até bom porque ele falaria umas verdades”, afirmou o deputado Eduardo Bolsonaro. O próprio Carlos sinalizou nas redes sociais que pode ir à CPI. “Vamos lá falar umas verdades a estes porcarias!”, publicou no Twitter .

Segundo o presidente da CPI, senador Ângelo Coronel (PSD-BA), o pedido para convocar o filho do presidente pode ser discutido na próxima sessão, marcada para terça-feira da semana que vem. “Todo requerimento que for apresentado eu colocarei em pauta. Pode ser filho, irmão, amigo ou inimigo do presidente. Não importa”, disse o senador. 

Requerimentos

“Todo requerimento que for apresentado eu colocarei em pauta. Pode ser filho, irmão, amigo ou inimigo do presidente.”

Ângelo Coronel (PSD-BA)

PRESIDENTE DA CPI

“Se quiserem chamar o Carlos, que chamem.”

Eduardo Bolsonaro

DEPUTADO (PSL-SP)

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Ataque de servidores públicos é 'improbidade', diz senador

Mariana Holanda

Pedro Venceslau

Renato Onofre

24/10/2019

 

 

Ala bivarista do PSL planeja ações contra bolsonaristas, entre elas destituir Eduardo e Flávio dos diretórios

Ofensiva. Major Olimpio quer minar ala bolsonarista no PSL

O líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), disse ontem que, se for confirmado que um grupo de funcionários no Planalto promove ataques em redes sociais, isso configura crime de improbidade administrativa a quem permitiu que isso ocorresse. “É possível que tenha pessoas ligadas ao governo que possam estar promovendo isso. Fiquei muito preocupado com as reportagens sobre suposto gabinete de ódio”, afirmou à Coluna do Estadão.

Derrotado na disputa pela liderança do PSL na Câmara, o grupo ligado ao presidente da legenda, Luciano Bivar (PE), da qual Olimpio faz parte, prepara uma reação para minar a força da ala que apoiou o presidente Jair Bolsonaro e reconquistar a hegemonia política no partido. A ideia é levar para o campo jurídico os embates e atacar o poder dos filhos de Bolsonaro no do partido, retirando o comando dos diretórios do Rio e de São Paulo do controle da família.

Olimpio disse que vai protocolar hoje na Executiva Nacional um pedido de destituição da direção estadual do partido em São Paulo, hoje sob o comando de Eduardo Bolsonaro. “O PSL de São Paulo hoje é terra arrasada.

Eduardo Bolsonaro nunca assumiu nada. Ele literalmente destruiu o partido”, disse ao Estado o senador.

Os advogados do PSL recorreram ontem da liminar que suspendeu as ações contra os parlamentares bolsonaristas no Conselho de Ética do partido. Os defensores também preparam ações individuais por injúria, calúnia e difamação contra cada parlamentar do grupo que apoiou Bolsonaro por ataques feitos nas redes sociais. O grupo de Bivar espera expulsar ao menos dez nomes – entre eles o próprio Eduardo. “Não tem recuo. Estamos impedidos juridicamente de dar procedimento ao processo de punição desses deputados. Assim que a Justiça derrubar a liminar, vamos continuar a análise dos casos que podem levar até a expulsão”, afirmou o deputado Júnior Bozzella (PSL-SP).

Ontem, Bivar afirmou que Eduardo e o irmão Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) não têm “condições de administrar os recursos dos diretórios de São Paulo e Rio de Janeiro”. Bivar argumenta que os dois diretórios administrados pelos filhos de Bolsonaro tiveram suas contas rejeitadas pela Justiça Eleitoral por problemas na prestação de contas. 

Governo

“É possível que tenha pessoas ligadas ao governo que possam estar promovendo isso (ataques nas redes).”

Major Olimpio

LÍDER DO PSL NO SENADO