Correio braziliense, n. 20498, 05/07/2019. Política, p. 2

 

PEC, enfim, vai para o plenário

Alessandra Azevedo

Augusto Fernandes

Bernardo Bittar

05/07/2019

 

 

Previdência » Entre as modificações feitas pelo relator Samuel Moreira, na Comissão Especial, está o acordo de líderes que pode garantir a PMs e bombeiros benefícios na aposentadoria. Expectativa é que a reforma será votada antes do recesso parlamentar

Após dois meses de debates, a Comissão Especial que discute a reforma da Previdência na Câmara aprovou, ontem, o parecer apresentado na última quarta-feira pelo relator, Samuel Moreira (PSDB-SP). O placar — de 36 votos favoráveis e 13 contrários — foi considerado uma vitória para o governo, que agora batalha para conseguir o apoio de 308 deputados a fim de que a matéria passe no plenário da Casa. A expectativa dos parlamentares favoráveis à matéria é que a primeira rodada aconteça ainda neste semestre, antes do recesso parlamentar, que começa oficialmente em 18 de julho.

Os deputados retiraram a garantia de que policiais militares e bombeiros tenham as mesmas regras das Forças Armadas até que os estados criem leis próprias para as categorias. A decisão foi tomada por acordo entre governo, lideranças partidárias e parlamentares que representam as corporações, afirmou o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), que defendeu o destaque.

O assunto será retomado em projeto de lei próprio ou incluído na proposta enviada pelo governo para mudar as regras das Forças Armadas. A desvinculação tem tudo para ser benéfica para os militares estaduais/distritais, uma vez que eles podem ficar com o tempo de contribuição de 30 anos, enquanto os militares da União correm o risco de contribuir com 35 anos, caso o projeto de lei que muda as regras das Forças Armadas seja aprovado no Congresso sem aprovação.

Outros 16 destaques precisaram ser votados depois da aprovação do texto-base, em mais uma sessão que se estendeu pela noite. Os profissionais da segurança pública apostavam nessa etapa para conseguir emplacar regras mais benéficas do que as aprovadas no parecer, mas os dois destaques que tratavam do assunto — um do Podemos e um do PSD — foram rejeitados. O primeiro, por 31 votos a 17; o segundo, por 30 a 19.

Insatisfeitos com o resultado, policiais civis, guardas municipais e outros profissionais da segurança pública que acompanhavam a sessão saíram aos gritos de “PSL traiu a polícia do Brasil”, “Bolsonaro traidor” e “Joice traidora”, em referência à líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). O PSL, do presidente Jair Bolsonaro, foi contra a flexibilização das regras da categoria, enquanto deputados da oposição, como PT e PCdoB, defenderam o privilégio de aposentadorias especiais.

Segundo o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), a ideia é que as alterações voltem a ser discutidas no plenário. Até lá, a idade mínima de aposentadoria para policiais continua sendo de 55 anos, para homens e mulheres, e a transição segue a mesma dos demais servidores, com pedágio de 100% sobre o tempo que falta para a aposentadoria — ou seja, se faltar um ano, trabalha mais um.

Rejeitados

Os deputados rejeitaram, por 30 votos a 18, o destaque do PL que retiraria os professores da reforma da Previdência. O relatório de Moreira institui uma idade mínima para aposentadoria de 60 anos, para homens, e 57 anos, para mulheres, com 25 anos de contribuição para ambos. Segundo o relator, retirá-los da reforma geraria um impacto grande na economia esperada com a reforma, na casa de R$ 1 trilhão em 10 anos.

Atualmente, não há idade mínima para a categoria na iniciativa privada, apenas exigência de 25 anos de contribuição para as mulheres e 30 anos para os homens. Na rede pública, elas precisam completar 50 anos de idade, com 25 de contribuição. Dos homens são exigidos 55 anos e 30 de contribuição. A comissão também foi contra a sugestão protocolada pelo PSol de instituir uma tributação de lucros, dividendos, fortunas e heranças. No início das discussões, a comissão rejeitou, em conjunto, os 99 destaques individuais, para acelerar a tramitação.

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Vibração no governo

05/07/2019

 

 

Os 36 votos que confirmaram a aprovação do parecer da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara fizeram o governo acreditar ser possível também conseguir a ampla maioria de toda a Casa. Ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni reconheceu que a diferença de votos ontem foi “extraordinária” e “maior do que imaginava”, e frisou que isso significa que o parecer pode se “encaminhar muito bem para a decisão do plenário”.

O ministro comemorou a decisão da comissão e não poupou elogios ao relator do parecer, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), que alterou a versão do texto da reforma três vezes. “Ele montou um projeto da Nova Previdência que corrige problemas da atual e prepara o Brasil para o futuro. Com aprovação na comissão, que esperamos confirmar no plenário da Câmara e no Senado, o Brasil terá solvência fiscal. O problema fiscal do país estará resolvido, talvez, pelas próximas duas décadas, o que significa que passaremos a estar do lado das principais nações do mundo”, afirmou Lorenzoni.

Para ser aprovada no plenário, próxima fase pela qual a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) precisa passar, o governo precisa garantir 308 votos favoráveis, em duas rodadas de votação. O recesso parlamentar começa oficialmente em 18 de julho e, pelo regimento da Câmara, quando a matéria é aprovada em primeiro turno, há um intervalo de cinco sessões, que pode cair por acordo entre os deputados. Foi o que aconteceu, por exemplo, na votação da PEC do Orçamento Impositivo, que teve as duas rodadas na mesma noite. “Se for possível votar o segundo, com quebra de interstício, aí vamos ficar muito mais felizes”, comentou o ministro.

Cautela

O líder do governo na Câmara, deputado major Vitor Hugo (PSL-GO), classificou o resultado de ontem como uma vitória do país. A base aliada do presidente Jair Bolsonaro contribuiu para a derrubada de dois destaques que alterariam as normas de aposentadoria dos integrantes da segurança pública, como policiais da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Militar e da Polícia Civil, servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), bombeiros, agentes de trânsito, agentes penitenciários e guardas municipais. “Votamos contra os destaques, para não arriscar uma previdência que vai para 208 milhões de brasileiros por causa da falta de um acordo político”, explicou Vitor Hugo, evitando classificar a queda das proposições como uma derrota do Executivo. (AF e AA)