Título: Dois caminhos para a Casa Branca
Autor: Tranches, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Mundo, p. 22

Na reta final da campanha, pesquisas nacionais mostram empate entre o presidente Barack Obama e o candidato republicano Mitt Romney, embora tendências apuradas nos estados favoreçam o democrata. Briga por indecisos se intensifica

A disputa pela Presidência dos Estados Unidos concentra-se em um mapa cada vez mais restrito à medida que se aproxima a eleição de 6 de novembro. Como vem se repetindo a cada quatro anos, a campanha de 2012 se desdobra, na prática, em duas corridas pela Casa Branca. Na reta final, pesquisas e análises de especialistas revelam cenários distintos para o desfecho do processo. Os levantamentos nacionais de intenção de voto mostram empate entre o presidente Barack Obama, democrata, e o candidato republicano, Mitt Romney. Mas as tendências apuradas nos 50 estados, onde são escolhidos os 538 delegados que integram o Colégio Eleitoral — no qual o presidente é formalmente consagrado — indicam um caminho mais simples para a reeleição de Obama (veja infografia). A sorte da batalha será definida em um pequeno grupo de estados no quais nenhum dos candidatos tem a vitória garantida. É para eles que se voltam os esforços de ambos pelos votos dos indecisos.

Os “swing states”, como são chamados no jargão político americano, têm uma grande concentração de eleitores moderados e, por isso, oscilam a cada eleição entre um partido e outro. Por isso, ganharam maior atenção e fluxo de caixa das campanhas, enquanto alguns estados não receberam uma visita sequer, com exceção de eventos para arrecadação de fundos para a campanha. Nos oito dos 12 terrenos onde a batalha será decidida, ao contrário, as escalas dos presidenciáveis e dos vices se multiplicarão nas últimas duas semanas até a votação.

Em 2008, Obama venceu em todos os “swing states”, mesmo naqueles que costumavam pender mais para os republicanos. Em 2012, o presidente começou a temporada de pesquisas com vantagem na maioria deles, mas o equilíbrio mostrado agora nas sondagens nacionais teve reflexos também nesses estados. Ainda assim, o gerente da campanha democrata, Jim Messina, tem afirmado que todos os caminhos para a vitória traçados pela equipe há um ano e meio “se mantêm viáveis para o presidente”. Em contrapartida, os republicanos garantem que o campo adversário “não tirou da mesa nenhuma das nossas opções”.

Cálculos

Para vencer no Colégio Eleitoral, é preciso garantir 270 dos 538 delegados. Segundo o jornal The New York Times, Obama teria 237 garantidos e Romney, 191. Os restantes 110 “votos eleitorais” se distribuem por nove estados: Colorado (9), Wisconsin (10), Iowa (6), Carolina do Norte (15), New Hampshire (4), Nevada (6), Ohio (18), Virgínia (13) e Flórida (29). Os três últimos são considerados ainda mais estratégicos: juntos, somam 60 delegados. Apesar do forte investimento dos partidos, com gastos de US$ 250 milhões em propaganda, nenhum candidato pode dizer com segurança que haja uma definição a seu favor.

Segundo o especialista em política presidencial e opinião pública Robert Shapiro, da Universidade Columbia (Nova York), Romney não conseguirá se eleger sem esses três estados, especialmente Ohio. A história mostra que nenhum republicano chegou à Casa Branca sem vencer nesse estado. O último candidato a conseguir a façanha foi o democrata John F. Kennedy, em 1960. Shaun Bowler, do Departamento de Ciências Políticas da Universidade da Califórnia/Riverside, reitera que Ohio é a “chave” da eleição. “Ideia que parece compartilhada pelas duas campanhas, que estão gastando muito dinheiro por lá”, diz Bowler. Para Shapiro, Obama até pode vencer sem levar os mesmos três estados, mas nesse caso precisará ganhar Colorado, Nevada, New Hampshire e Iowa.

Nas últimas três eleições, Ohio, Flórida e Virgínia votaram juntos: em 2008, com os democratas; em 2004 e 2000, com os republicanos. Nas três eleições, o vencedor saiu dessa escolha. Neste ano, a média das pesquisas calculada pelo site Real Clear Politics mostra Obama à frente em Ohio (48,4% a 46%) e Romney, na Flórida (49,3% a 46,8%). Na Virgínia, empate em 48%. Nos demais “swing states”, Obama mantém a dianteira em quatro (Iowa, New Hampshire, Nevada e Wisconsin) e Romney, em dois (Colorado e Carolina do Norte). Na intenções de voto nacionais, Obama chegou à sexta-feira com 0,1 ponto de vantagem (47,1% a 47%), depois de uma semana com Romney na liderança.

Cada estado-chave demanda um planejamento diferente. “Essa estratégia envolve arrecadar dinheiro em um estado e gastar em outro”, explicou Bowler. E, se a economia é o tema que domina discussões e ataques entre os candidatos, nos “swing states” o cenário não é diferente. Para conquistar os indecisos, as campanhas apostam nas particularidades. Em Ohio, um microcosmo da economia americana, Obama tem martelado argumentos que vão desde a criação de empregos em seu governo até o incentivo a pequenos negócios. Romney tem na ponta da língua a alta taxa de desemprego local, de 8,8% (a nacional é de 7,8%). Na Flórida, é a ressaca da crise imobiliária que permitiu ao republicano ganhar terreno.

As estratégias “Para Barack Obama, o melhor argumento para conquistar indecisos dos ‘swing states’ é dizer que a economia se recupera e que suas propostas são muito mais justas que as do rival. Ou dizer que os projetos dos republicanos têm o objetivo de beneficiar os ricos. A melhor argumentação de Romney é afirmar que a economia não se recuperou o suficiente. Além disso, insistir que Obama não atendeu às expectativas dos eleitores.”

Robert Shapiro, especialista em política presidencial e opinião pública da Universidade Columbia