Correio braziliense, n. 20498, 05/07/2019. Economia, p. 6

 

Bolsa renova recorde e dólar cai a R$ 3,80

Rosana Hessel

05/07/2019

 

 

Conjuntura » Aprovação do relatório da reforma da Previdência na Comissão Especial é bem-recebida pelo mercado, que vive dia de pouca influência externa devido a feriado nos EUA. Investidores aprovam economia que proposta proporciona, de R$ 1,07 trilhão em 10 anos

Em meio à aprovação da reforma da Previdência, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) renovou o recorde ontem, encerrando a 103.636 pontos, com alta de 1,56% sobre a véspera. O recorde anterior, de 102.062 pontos, foi registrado em 24 de junho deste ano. O resultado da votação na Câmara também teve impacto positivo sobre o câmbio, que fechou abaixo de R$ 3,80, no menor patamar desde março.

O fato de as bolsas dos Estados Unidos estarem fechadas ontem ajudou a evitar pressões externas na B3, segundo analistas. “As bolsas americanas ficaram fechadas pelo Dia da Independência, diminuindo a liquidez nos mercados globais e concentrando a atenção dos investidores brasileiros na reforma da Previdência”, afirmou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. “A aprovação do texto elevou o otimismo em relação ao cronograma de Rodrigo Maia(presidente da Câmara e principal artífice da proposta) que pretende aprovar a reforma em plenário antes do recesso parlamentar que começa no dia 18 de julho”, emendou.

O texto-base do deputado federal Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Previdência, foi aprovado com 36 votos favoráveis e 13 contrários. Contudo, a matéria ainda precisará de, no mínimo, 308 votos dos 513 deputados para ser aprovada em dois turnos para então ser encaminhada ao Senado, onde também precisará do apoio de três quintos dos 81 senadores, também em dois turnos, para que as mudanças em aposentadorias e pensões sejam efetivadas.

Robustez

O impacto fiscal de R$ 1,074 trilhão em 10 anos na proposta de Moreira foi o que mais agradou os mercados, porque manteve a robustez da reforma do sistema. Pelas estimativas do relator, esse impacto representa uma economia de despesas de R$ 933,9 bilhões em redução e aumento de tributos e fim de subsídios em torno de R$ 137,4 bilhões. A proposta original enviada pelo Executivo em fevereiro previa uma economia de R$ 1,236 trilhão, sem incluir aumento de impostos. Não à toa, o dólar registrou queda de 0,71% e encerrou o pregão cotado a R$ 3,799.

“De alguma maneira, a proposta ficou bem melhor do que o mercado estava esperando. No frigir dos ovos, estamos tendo uma reforma aparentemente robusta, o que é bastante razoável. Isso vai nos dar algum conforto de uns dois a três anos em relação ao fiscal. Vejo como um grande feito do governo, porque é uma das melhores coisas que fizemos em alguns anos e vai permitir uma reforma tributária com mais qualidade”, apostou o economista Alexandre Espírito Santo, da corretora Órama.

“A Bolsa está pegando final de valorização da reforma da Previdência. Esse otimismo pode continuar e o Ibovespa pode continuar subindo, mas não dá para saber qual será o novo pico. Há espaço para o índice seguir subindo, porque a proposta agradou ao mercado, que esperava um impacto fiscal de R$ 700 bilhões a R$ 800 bilhões”, explicou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu de Freitas Filho.

Juros

Para Espírito Santo, da Órama, o resultado da votação da reforma também abrirá caminho para o Banco Central iniciar um ciclo de queda na taxa básica de juros (Selic), provavelmente, ainda na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorrerá nos dias 30 e 31. “O cenário que estava nublado nas últimas semanas, agora está ficando mais claro. O humor do mercado é muito bom, mas ainda há algumas realizações no meio do caminho para que o investidor estrangeiro volte”, afirmou. Ele lembrou que o lado real da economia ainda é ruim, com o Produto Interno Bruto (PIB) fraco e o desemprego elevado. “Mas o mercado financeiro antecipa tendências e, se as demais reformas e as privatizações forem encaminhadas pelo governo neste segundo semestre, poderemos ver o PIB no último trimestre crescendo entre 1,5% e 2% na margem (em relação aos três meses imediatamente anteriores)”, acrescentou.

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Guedes otimista com votação

05/07/2019

 

 

 

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, acredita que a reforma da Previdência deverá ser aprovada pelo plenário da Câmara dos Deputados antes do início do recesso parlamentar, que deverá se iniciar em 18 de julho. “Eu acho que a Câmara vota, sim, antes do recesso”, afirmou, ontem, após participar de um evento da XP Investimentos em São Paulo.

“Essa é a primeira e a mais importante, porque essa vai tirar (a economia) do buraco negro fiscal que estava engolindo o Brasil. Agora vamos sair do buraco negro e vamos botar a economia para crescer com a ajuda do Congresso”, disse. Ao ser questionado sobre a tentativa de inclusão dos policiais nas regras diferenciadas, Guedes evitou admitir que o governo errou, mas reconheceu que o presidente Jair Bolsonaro foi ingênuo ao tentar atender o pleito dos oficiais.

“Eu fiz a minha parte. Agora é um problema político. Eles têm que resolver entre eles”, disse, minimizando a iniciativa de Bolsonaro de atender às demandas da categoria. “Ele é um homem de coração grande. É grato em quem confiou nele.  Sabe que, no início da campanha, estava com os militares que justamente protegeu ao longo de décadas. Ele é um homem transparente. É duro para ele quando passa uma reforma e tem que fazer ajustes duros para essas classes, principalmente, para quem é fiel a ele há anos”, afirmou. “Mandamos a nossa reforma. Agora é respeito total ao Congresso”, completou.

“Trouxas”

O ministro arrancou aplausos da plateia paulista ao defender as privatizações e aumento da concorrência como forma de ajustar as contas para investimentos em serviços públicos, como segurança pública e saúde, fazendo uma analogia que é bastante comum em seus discursos. “Somos 200 milhões de trouxas, explorados por duas empreiteiras, quatro bancos, seis distribuidoras e uma produtora de gás”, afirmou. Ele voltou a reforçar a necessidade de ajuste fiscal diante da elevada conta de juros, que chegou ao pico de R$ 450 bilhões — o equivalente a um Plano Marshall, de reconstrução da Europa após a Segunda Guerra Mundial —, mas vem diminuindo aos poucos.

Guedes também criticou a política de “campeões nacionais” como um dos exemplos dos “abusos” dos governos petistas. “O presidente torce para um time, surge um estádio. O presidente gosta de um empresário, ele vira o maior empresário de proteína animal do mundo, o presidente gosta de outro, vira a maior empreiteira da América. Não é assim”, disse. Ao comentar sobre o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, ele destacou que o governo terá dois anos para simplificar, eliminar e reduzir impostos.

Depois de pouco mais de uma hora e meia de palestra, o ministro foi aplaudido de pé pelo público presente ao evento. Na ocasião, ele reforçou a necessidade das reformas estruturais e defendeu o regime de capitalização.

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Tarifas bancárias: alta de até 89%

 

 

Vera Batista

05/07/2019

 

 

 

Antes de escolher um banco tradicional ou virtual para abrir conta-corrente ou fazer transações financeiras, o cidadão deve pesquisar e verificar o custo de cada operação. Estudo do Instituto de Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) mostra que as tarifas bancárias subiram até 12 vezes mais do que a inflação nos últimos dois anos. Enquanto o custo de vida aumentou, de 2017 a 2019, 7,45%, o reajuste médio de 70 pacotes de serviços cresceu quase o dobro: 14%. Isso aconteceu não apenas nos bancos tradicionais.

O Idec comparou os preços avulsos dos cinco maiores bancos do país — Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal, Itaú e Santander — entre abril de 2017 a março de 2019. O maior reajuste foi do Bradesco, com variação de até 50% em um de seus pacotes. Foram encontrados serviços com altas entre 10% e 89%, esse último 12 vezes mais elevado do que a inflação.

Entre os maiores aumentos, estão pagamento de conta no cartão de crédito no Itaú, que subiu de R$ 4,50 para R$ 8,50 (89%). O saque no cartão de crédito aumentou de R$ 10 para R$ 16 (60%), no Bradesco; e de R$ 6,50 para R$ 11 (69%), na Caixa. A retirada de dinheiro no terminal eletrônico do Itaú teve aumento de R$ 2,05 para R$ 2,50 (22%). A pesquisa constatou ainda que os bancos digitais, que atraem clientes oferecendo “menos burocracia e tarifa zero”, nem sempre cumprem o que prometem.

Para a economista do Instituto, Ione Amorim, “os bancos digitais repetem a falta de transparência na comunicação dos preços dos serviços como as instituições tradicionais”. O Banco Central, autoridade que regula o mercado financeiro, por meio de nota, informou que “não vai se manifestar”.

Adriele da Silva Costa, 19, trabalha em uma loja de cosméticos. Pesquisou e viu que a manutenção da conta no Itaú era R$ 12, enquanto no Bradesco, contou, estava em R$ 21. “Não sei se comparar as taxas olhando somente um serviço faz alguma diferença. Minha impressão é de que eles compensam em outro o que cobram a menos”, afirmou.

Bruno Moreira de Lima, 22, está prestes a se formar em pedagogia. Vende doces e chocolates para bancar os custos da colação de grau. “Como eu faço constantes transações, com depósito médio de R$ 200 das vendas diárias, me cobram um absurdo. Ainda não fiz as contas, mas o valor é alto. O que assusta é a falta de opção. Os valores em todos os bancos são parecidos”, lamentou.