Título: Premiê descarta renúncia
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Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2012, Mundo, p. 23

Najib Mikati resiste à pressão, depois do atentado que matou chefe de inteligência, em Beirute. Oposição realiza protestos

O primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, está determinado a resistir às pressões para renunciar, depois do atentado de sexta-feira que matou o chefe da inteligência, Wissam Al-Hassan, no centro de Beirute. O premiê declarou ontem que seguirá à frente do governo a pedido do presidente, Michel Suleiman. O anúncio foi feito depois de uma reunião extraordinária para debater as repercussões da explosão do carro-bomba que matou mais duas pessoas — as estimativas iniciais davam conta de oito mortos, mas o número foi re-visado ontem. “Eu assegurei ao presidente da República que não estava atado ao posto de governo. Ele me pediu que eu ficasse, porque não se trata de um assunto pessoal e, sim, de interes-se nacional” , afirmou Mikati, durante uma entrevista coletiva. A oposição libanesa — hostil ao regime da Síria — pediu a re-núncia do premiê e a formação de um governo de unidade nacional. A milícia xiita Hezbollah, simpatizante do ditador sírio, Bashar Al-Assad, mantém um papel preponderante no governo. O risco de um “vazio de poder” em meio à crise fez com que Mikati permanecesse no cargo. Uma fonte da Presidência afirmou à agência de notícias France-Presse que Mikati não chegou a apresentar sua renúncia, mas expressou a intenção de fazê-lo. A manutenção no cargo, contudo, pode não ser definitiva. Há a expectativa de que Suleiman consulte as forças políticas do país sobre a questão, nos próximos dias. A tensão no Líbano continuou ontem, quando homens armados incendiaram pneus e bloquearam estradas, tanto em Beirute quanto em outras cidades importantes do país, em protesto pela morte de Al-Hassan. Soldados abriram fogo contra um grupo, próximo ao Vale do Bekaa, ferindo ao menos duas pessoas. Nas regiões sunitas — a corrente político-religiosa opositora a Mikati —, carros com alto-falantes pediam a queda do primeiro-ministro. O grupo atribui ao ditador sírio , Bashar Al-Assad, a autoria in-telectual do atentado terrorista, o primeiro no Líbano desde 2008. Al-Hassan era uma importante figura da oposição anti-Síria no Líbano. Ele será enterrado hoje, junto do túmulo de seu mentor, o ex-premiê Rafik Hariri, assassinado em uma explosão semelhante , em 14 de fevereiro de 2005. Líder da coalizão opositora 14 de Março, Saad Hariri convidou a população de Beirute a homenagear Al-Hassan. “Cada um de vocês está pessoalmente convidado a ir amanhã (hoje) à Praça dos Mártires para orar por Wissam Al-Hassan. Todo o Líbano , ao qual Al-Hassan protegia dos complôs de Bashar Al-Assad e de Ali Mamlouk (conselheiro especial de segurança de Al-Assad)” , declarou, em entrevista à rede Futur e Television.

Síria

O emissário internacional da Organização das Nações Unidas (ONU), Lakhdar Brahimi, encontrou-se ontem, em Damasco, com o chefe da diplomacia síria com o objetivo de obter um cessar-fogo. Os meios de comunicação oficiais do regime de Al-Assad não deram detalhes sobre o conteúdo da reunião entre Walid Muallem e Brahimi. O representante da ONU se encontrará também com Al-Assad, em data ainda não definida. “Se a crise síria continuar, não se restringirá à Síria. Vai afetar toda a região” , alertou Brahimi. Até o fecha -mento desta edição, o conflito sírio havia deixado 110 mortos ontem, incluindo 32 civis desarmados — 5 crianças —, 31 rebeldes e 37 soldados.