O Estado de São Paulo, n. 46024, 21/10/2019. Política, p. A10

 

Demitido na gestão Bolsonaro vai reestruturar o PSL

Camila Turtelli

Adriana Fernandes

21/10/2019

 

 

Ex-secretário da Receita Marcos Cintra é chamado para auxiliar propostas da bancada da sigla e em temas como a reforma tributária

Cargo. O economista Marcos Cintra; ex-chefe da Receita caiu ao tentar criar novo imposto

Sob forte crise interna e com parte da legenda em briga com o presidente Jair Bolsonaro, o PSL chamou o ex-secretário especial da Receita Federal Marcos Cintra para ajudar a reestruturar o partido. Cintra foi demitido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. O ex-secretário perdeu o cargo, em setembro passado, porque o presidente Bolsonaro não concordou com a volta de um imposto nos moldes da antiga CPMF. Para atender o presidente e acabar com especulações em torno do retorno do tributo, o ministro demitiu o seu auxiliar.

No PSL, Cintra recebeu a missão de aprimorar o conteúdo técnico da atuação da sigla e auxiliar as bancadas no Congresso no debate dos grandes temas nacionais, como as reformas econômicas, entre elas a reforma tributária que tramita na Câmara e no Senado com duas propostas diferentes.

Cintra trocou o PSD pelo PSL em janeiro deste ano. O convite para a filiação foi feito diretamente pelo presidente do partido, Luciano Bivar. Na época, o deputado também chamou o secretário para presidir o Instituto de Inovação e Governança (Indigo), fundação ligada ao partido.

Ao Estado, Cintra informou que vai acelerar a formulação de propostas de governo para o PSL e trabalhar na capacitação de quadros do partido em todo o País. Segundo ele, sua atividade será programática. Ele ressaltou que sua atuação na fundação Indigo é pro bono.

Fora do governo, ele é um crítico da demora da equipe econômica em apresentar a sua proposta de reforma tributária, que vem sendo discutida desde a transição e pode perder a prioridade de tramitação no Congresso para a reforma administrativa.

Há quem defenda no partido que Cintra possa inclusive ajudar o PSL a arrumar suas contas. Como o Estadão/Broadcast mostrou na semana passada, o PSL acumula dívidas de ao menos R$ 5,9 milhões com a União relacionadas aos seus diretórios regionais.

A maior parte (86%) diz respeito a multas eleitorais, aplicadas por irregularidades envolvendo gastos em campanhas de candidatos do partido. Dirigentes da sigla atribuem os débitos a gestões anteriores da legenda nos Estados.

Novo imposto. A criação da Contribuição sobre Pagamentos (CP), com forma de cobrança muito parecida à CPMF, era o ponto central da proposta de reforma desenhada quando Cintra integrava a equipe de Guedes. O ministro chegou a defender publicamente a criação do novo imposto, rejeitado pelo presidente.

Cintra afirma que o presidente do partido, Luciano Bivar, tem uma proposta de reforma tributária importante para ser defendida.

“Pessoalmente sempre defendi o Imposto Único. Agora estou mais livre para debater a minha proposta de introduzir um imposto compatível com a Nova Economia digital”, disse Cintra ao Estado.

O economista afirma, no entanto, que o partido deve analisar todas as propostas.

‘Imposto Único’

“Pessoalmente sempre defendi o Imposto Único. Agora estou mais livre para debater a minha proposta de introduzir um imposto compatível com a Nova Economia digital.”

Marcos Cintra

ECONOMISTA

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Presidente parabeniza reeleição de socialista português

Julia Lindner

21/10/2019

 

 

Durante escala em Lisboa, Bolsonaro envia carta a António Costa, de quem busca apoio por acordo entre Mercosul e UE

Rumo ao Japão, o presidente Jair Bolsonaro fez, ontem, uma escala em Lisboa e aproveitou para deixar uma mensagem de apoio ao primeiro-ministro de Portugal, António Costa, que faz parte do Partido Socialista (PS) e venceu o pleito no início do mês com a manutenção de uma coalizão de esquerda.

Bolsonaro assinou uma carta parabenizando o primeiro-ministro pela reeleição. O momento foi registrado em fotos. Em uma delas, o presidente brasileiro aparece assinando o texto ao lado do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e do assessor especial da Presidência Filipe Martins.

O documento assinado por Bolsonaro foi entregue a diplomatas locais, segundo uma fonte ouvida pelo Estado, e seria uma forma de ressaltar a relação entre os dois países. O governo brasileiro precisa do apoio de Portugal para conseguir viabilizar o acordo entre Mercosul e União Europeia. O texto, que deve ser encaminhado até 2021, durante o segundo mandato de António Costa, depende da aprovação do Parlamento Europeu e de todos os países-membros do bloco.

Em setembro, em meio à troca de farpas com o presidente da França, Emmanuel Macron, Bolsonaro ligou para o primeiro-ministro português para apresentar a sua versão sobre o aumento nas queimadas da região amazônica. Na ocasião, ele também aproveitou para reforçar a importância do acordo Mercosul-UE.

Crise. Bolsonaro chega hoje a Tóquio, primeiro ponto da mais longa viagem de seu mandato. Nos próximos dez dias, ele ficará distante da crise do PSL e do cenário político brasileiro – ao menos fisicamente – para circular entre grandes parceiros comerciais no exterior, como China e Japão, além de intensificar relações com países do Oriente Médio (Emirados Árabes, Catar e Arábia Saudita).

A principal missão de Bolsonaro será amenizar ruídos criados no início de sua gestão e melhorar a imagem diante de autoridades e empresários estrangeiros. Assim, a ideia é atrair novos investimentos para o Brasil em setores como agronegócio, infraestrutura, defesa e energia.

Na ausência do presidente, a prioridade do governo no Congresso será tentar finalizar a tramitação da reforma da Previdência. A proposta é considerada um dos principais ativos políticos para passar a mensagem de que a atual gestão defende mudanças estruturantes e que o País passará nos próximos anos por uma retomada econômica sustentável.

Coroação. No Japão, Bolsonaro irá amanhã à cerimônia de coroação do imperador Naruhito, em Tóquio. O evento será restrito a 2.500 convidados e não terá cobertura da imprensa. Com a presença de líderes do mundo todo, o presidente Bolsonaro quer aproveitar a ida ao Japão para agendar encontros bilaterais. Está prevista uma reunião após a cerimônia de terça-feira com o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, envolvido no escândalo que levou à abertura do processo de impeachment contra o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.