O Estado de São Paulo, n. 46022, 19/10/2019. Política, p. A10

 

Entrevista - Delegado Waldir (GO): 'Bolsonaro compra deputados com cargos e fundo'

Camila Turtelli

19/10/2019

 

 

Delegado Waldir (GD), líder do PSL na Câmara

Um dia após ser gravado chamando presidente de ‘vagabundo’, líder do PSL afirma estar sendo ‘traído’ e repete o xingamento

Gravado em uma reunião em que chama Jair Bolsonaro de “vagabundo”, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), afirmou ontem ao Estadão/Broadcast que o presidente está “comprando” deputados com cargos e Fundo Partidário para alçar o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) na liderança do partido. Na entrevista, o deputado repete o xingamento. “Ele me traiu. Então, é vagabundo”, disse – a AdvocaciaGeral da União pretende processar o deputado (mais informações na pág. A12). A seguir os principais trechos:

O que o sr. tem para implodir o presidente?

A gravação que tem é a que já foi divulgada, na qual ele pede votos, negociando com parlamentares e comprando a vaga do filho na liderança do PSL, oferecendo cargos e fundo partidário.

Acha que vai conseguir se manter como líder da bancada?

É uma vitória fenomenal eu ainda estar na liderança, considerando que o líder do governo, o presidente e ministros estão atuando contra. A traição vem de onde você menos espera.

O PSL votará com o governo?

Não haverá consenso em todas as pautas com o presidente. Qualquer conduta do presidente de tentar inibir os órgãos de combate à corrupção não terá nosso apoio, como já foi feito. Estaremos contra o governo porque ele é contrário à instalação da CPI Lava Toga. Mas, nas pautas econômicas, estaremos juntos.

O Planalto acena com uma saída intermediária para a crise, em que o sr. sairia da liderança e eles recuariam de indicar Eduardo Bolsonaro. Aceitaria isso?

Eu não saio da liderança. Meu mandato é até janeiro. Só saio se o presidente do PSL, Luciano Bivar, o vice, Antonio Rueda, e todos os parlamentares pedirem. Ninguém me procurou para falar sobre isso e eu não topo. Não posso falar nada por mim, faço parte de um grupo, mas como você acha que esse grupo poderia querer isso se, nesse momento, eles (governo) estão ligando para parlamentares.

O governo continua ligando?

Continua. O líder do governo, Vitor Hugo (GO), ligou para um deputado durante reunião do partido. Abou Anni (SP) me mostrou que estava ligando para pedir o nome na lista deles. Eles não querem trégua. Estão fingindo, querendo ganhar tempo para fazer o líder.

O que Bolsonaro tem de fazer para recompor sua base?

Ele nunca teve base no Congresso. Tinha 53 deputados que votaram com 98% de fidelidade.

Depois de chamar o presidente de vagabundo, há chances para retomar a relação?

Ele nunca me recebeu e agora me traiu ao pedir ao Bivar, por proposta do Major Vitor Hugo e do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, o diretório do Estado. Então, é vagabundo.

Em relação ao deputado Daniel Silveira (RJ) que gravou o sr., o que pretende fazer?

Ele não atacou o partido, atacou o Parlamento ao gravar vários deputados. Isso é para o Conselho de Ética e apuração criminal. Vamos pedir a cassação. O PSL vai fazer o pedido.

Bolsonaro pode sofrer impeachment?

Temos que aguardar. Isso é com o Parlamento. Eles precisam analisar se compra de parlamentares para votar a favor do filho é motivo de cassação do presidente.

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PSL aumenta poder de Bivar e suspende ala bolsonaristas

Daniel Weterman

Camila Turtelli

19/10/2019

 

 

Em convenção, partido suspende deputados e afasta filhos do presidente da direção de diretórios estaduais

Em ofensiva para fortalecer o grupo político do deputado Luciano Bivar (PE), presidente nacional do PSL, o partido decidiu ontem em convenção extraordinária aumentar o número de integrantes com direito a voto nas decisões internas, e suspender cinco deputados federais – todos ligados ao presidente Jair Bolsonaro.

O encontro também avalizou a destituição do deputado Eduardo Bolsonaro e do senador Flávio Bolsonaro dos comandos dos diretórios regionais do PSL em São Paulo e no Rio, respectivamente. O ato será formalizado na próxima semana.

Os cinco deputados punidos criticam a atuação de Bivar, que disputa o controle do partido contra Bolsonaro. São eles: Carla Zambelli (SP), Filipe Barros (PR), Bibo Nunes (RS), Alê Silva (MG) e Carlos Jordy (RJ). Eles estão suspensos das atividades partidárias e, com isso, não podem representar a legenda em comissões e em nenhuma atividade da Câmara.

Na quarta-feira, todos eles tentaram, sem sucesso, derrubar o deputado Delegado Waldir (GO) da liderança do PSL na Câmara. O plano, idealizado por Bolsonaro, era tirar Waldir – que é ligado a Bivar – e nomear Eduardo para a cadeira. A articulação do presidente fracassou, puxando a crise para o Palácio do Planalto. Mesmo assim, o governo tentará novamente destituir Waldir, que chamou Bolsonaro de “vagabundo” e disse que iria “implodir o presidente”.

A ampliação da ala bivarista na cúpula do PSL, no entanto, praticamente inviabiliza uma nova tentativa de fazer Eduardo líder da bancada na Câmara. “Esse é o efeito imediato. Se eles tentarem montar uma lista, já perderam cinco votos”, disse o deputado Coronel Tadeu (SP).

Mandato. O PSL aumentou de 101 para 153 o número de integrantes da direção com direito a voto em reuniões nacionais. Dos novos convencionais, 34 têm mandato parlamentar. Na prática, a mudança desidrata a ala bolsonarista. O mandato de Bivar termina no fim de novembro e ele pretende disputar a reeleição. Com as alterações no estatuto do PSL, o grupo de Bolsonaro dificilmente conseguirá o controle do partido, dirigido por Bivar desde 1998 – com exceção de 2018, quando Gustavo Bebianno assumiu o posto.

Destituída por Bolsonaro da função de líder do governo no Congresso, a deputada Joice Hasselmann (SP) disse que o partido deveria expulsar deputados que estão em confronto aberto com a direção. “A porta da rua é serventia da casa”, afirmou Joice. Ela, Junior Bozzela e Coronel Tadeu são cotados para dirigir o PSL em São Paulo, no lugar de Eduardo. No Rio, os nomes cogitados para a vaga de Flávio são os dos deputados Felício Laterça, Gurgel e Professor Joziel.

Um dos suspensos, Jordy disse que pode entrar na Justiça para reconquistar direitos partidários. “Essa medida foi arbitrária”, afirmou. Dos cinco suspensos, apenas Carla Zambelli compareceu à reunião de ontem. “Eu acho que a gente tem de pacificar o partido, porque isso afeta nossa atuação em comissões.”

- EFEITO

“Esse é o efeito imediato (Bolsonaro sem força no partido).”

Coronel Tadeu (SP)

DEPUTADO FEDERAL

“Eu acho que a gente tem de pacificar o partido.”

Carla Zambelli (SP)

DEPUTADA FEDERAL