O globo, n.31376, 03/07/2019. País, p. 08

 

Na Câmara, Moro reclama de revanchismo

André de Souza 

03/07/2019

 

 

Convidado a prestar esclarecimentos na Câmara sobre as mensagens divulgadas pelo site “The Intercept Brasil”, o ministro da Justiça, Sergio Moro, voltou a reclamar de revanchismo e a negar irregularidades em seu trabalho como juiz da Lava-Jato. Ele reforçou o discurso de que a revelação de supostos diálogos com procuradores são uma tentativa de atrapalhar a operação e de invalidar as condenações ocorridas até agora. Também ironizou o fato de a oposição falar muito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas não de outros alvos, como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, ambos do MDB.

— Se ouve muito da anulação do processo do ex-presidente (Lula). Tem que se perguntar quem defende então Sergio Cabral, Eduardo Cunha, Renato Duque, todos esses inocentes que teriam sido condenados segundo o site. Nós precisamos de defensores também dessas pessoas, para defender que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade, já que foram condenados pelos malvados procuradores da operação Lava-Jato, os desonestos policiais e o juiz parcial —ironizou.

Segundo o Intercept, Moro orientou procuradores sobre como atuar nos casos da Lava-Jato na época em que era juiz federal. As orientações do ex-magistrado incluíam um processo que investigava o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

AUTENTICIDADE

Moro e os procuradores vêm pondo em dúvida a autenticidade das mensagens. Mesmo assim, ressaltam que o conteúdo divulgado não traria qualquer ilegalidade. O ministro nega ter em algum momento reconhecido os diálogos como verdadeiros, ressaltando que a sua primeira nota sobre o tema já se referia a “supostas mensagens”. Moro diz temer que haja a atuação de criminosos para evitar que as investigações cheguem até eles.

— A meu ver existe uma tentativa criminosa de invalidar condenações e o que é pior: a minha principal suspeita é que o objetivo principal seja evitar o prosseguimento das investigações. Criminosos que receiam que as investigações cheguem até eles e estão querendo se servir desse expediente para impedir que as investigações prossigam — disse Moro.

DEBATE QUENTE

Durante a sessão, marcada por vários bate-bocas, os deputados procuraram marcar posição. O clima na sessão, que já era tenso, piorou de vez quando o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) chamar Moro de "juiz ladrão e corrompido". Com dedos em riste, o deputado Eder Mauro (PSD-PA) partiu para cima e os dois ficaram muito próximos de uma briga.

Do lado do governo, defenderam o trabalho de Moro e a Lava-Jato, e disseram que as mensagens foram obtidas por meio criminoso. Pela oposição, houve muitos questionamentos sobre outras investigações ligadas direta ou indiretamente ao governo Bolsonaro, como as suspeitas de que o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, ex presidente do PSL em Minas, usou candidatas laranjas na campanha eleitoral.

A maior parte da audiência pública, porém, repetiu o que já havia ocorrido no Senado, onde Moro compareceu no último dia 19. Questionado algumas vezes se a Polícia Federal estava investigando o jornalista Glenn Greenwald, do Intercept, Moro disse não dirigir a investigação.

— O que apareceu em três semanas? Um balão vazio cheio de nada —disse.

Em um dos momentos de disputa política, o deputado Boca Aberta (PROS-PR), fez um discurso contra o PT e entregou um troféu ao ministro. O presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Felipe Francischini (PSL-PR) ameaçou algumas vezes encerrar a sessão. Em outro momento, desabafou:

—Pelo amor de Deus! Parece a Escolinha do Professor Raimundo isto aqui.

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Contra hackers, Dodge quer uso de sistema próprio

Bela Megale

03/07/2019

 

 

A procuradora-geral da República, Raque Dodge, determinou que todos os membros do Ministério Público Federal (MPF) passem a usar somente o sistema do órgão, o e-Space, para se comunicarem internamente. A norma foi baixada após celulares de procuradores sofrerem invasão de hackers.

Entre os alvos dos ataques estão integrantes da força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba, como Deltan Dallagnol, e o procurador do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Marcelo Weitzel.

No despacho, Dodge afirma que “há indicação técnica para adoção da solução e-Space” para tornar seguras as comunicações móveis e fixas feitas pelos integrantes do órgão. A ferramenta utiliza infraestrutura própria e criptografia certificadas pelo MPF.

A medida foi oficializada na conclusão do Procedimento Administrativo instaurado pela PGR que apontou que apenas o aplicativo de troca de mensagens Telegram foi violado. Apesar do software e-Space existir há tempos, a maioria dos procuradores preferia falar por outras ferramentas, como WhatsApp e Telegram.

O Procedimento Administrativo também relata a realização de varreduras em JORGE WILLIAM/27-06-2019 celulares institucionais e o encaminhamento de informações sobre os ataques para a operadora responsável pelo contrato de telefonia móvel com o MPF. Além disso, o documento lista recomendações de medidas de segurança recomendadas pela área técnica .

O relatório foi encaminhado ao Ministério da Justiça, cujo titular, o ministro Sergio Moro, também foi alvo de hackers. A apuração da PGR, que tem natureza administrativa, priorizou a análise da segurança da comunicação institucional. A investigação sobre os ataques em si e a busca de seus autores estão sendo conduzidos pela Polícia Federal.