O globo, n.31376, 03/07/2019. País, p. 09

 

Palocci: recursos para o PT rendiam empréstimos do BNDES

Natália Portinari 

Aguirre Talento 

03/07/2019

 

 

Convocado para depôr na CPI do BNDES, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci disse a deputados que, no governo Lula, os empréstimos a empresas como JBS e Odebrecht eram cedidos em troca de recursos de campanha para petistas em campanhas majoritárias e proporcionais.

A reunião foi fechada. Relator da delação premiada de Palocci no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Edson Fachin autorizou que o ex-petista falasse à CPI somente sobre assuntos relacionados ao BNDES. A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, apontou a Fachin que o único anexo da delação relacionado ao tema é o termo de depoimento 21, cujo título é “Negócios em Angola”.

Segundo a PGR, neste anexo Palocci relata “pagamentos de vantagens indevidas ao Partido dos Trabalhadores, intermediado por Paulo Bernardo, no valor de R$ 64 milhões, em razão do auxílio político concedido à empresa Odebrecht, no tocante ao aumento de linha de crédito junto ao BNDES para atuação da empresa nos empreendimentos existentes em Angola”.

A taxa de risco de países como Angola e Venezuela foi diminuída sem critério técnico por uma decisão política de Lula, disse Palocci na CPI. A escolha dos “campeões nacionais” favorecidos por empréstimos também partia de Lula, contou. Ele disse que discordava dessa estratégia. O exministro reiterou também o relato de que repassou R$ 300 milhões da Odebrecht a Lula, no fim do mandato do ex-presidente. O valor teria sido pago para que o favorecimento da empreiteira continuasse.

Segundo parlamentares presentes na audiência, na tarde de ontem, Palocci disse que sugeriu a Lula fazer um “mea culpa” pelos erros. Mas o ex-presidente teria respondido que não, apostando no fim da Operação Lava-Jato.

Questionado sobre as contas no exterior usadas pela JBS para propina, Palocci afirmou que não podia responder. Esse assunto é objeto de outro anexo de sua delação premiada.

Procurada, a defesa do ex presidente Lula afirmou que não poderia se manifestar sobre um “suposto depoimento secreto”. “Não há como a defesa do ex-presidente Lula se manifestar sobre um suposto depoimento secreto. Já demonstramos em diversas oportunidades que Palocci faz acusações sem prova contra Lula, atuando como instrumento de perseguição política contra o ex-presidente”, afirmam os advogados.

A defesa de Paulo Bernardo disse que o assunto já é objeto de uma ação penal em tramitação na Justiça e que só vai se manifestar nos autos.