O globo, n.31376, 03/07/2019. Economia, p. 20

 

EUA querem negociar com Mercosul, diz Araújo

Eliane Oliveira 

03/07/2019

 

 

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou ontem que o tratado de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia (UE) é o primeiro de uma série de acordos que serão fechados pelo bloco sul-americano nos próximos dois anos. Segundo Araújo, já existem conversas com os Estados Unidos, por exemplo:

— O presidente Donald Trump e as demais autoridades americanas têm total interesse em um acordo com o Mercosul.

De acordo com o chanceler, somente este ano está prevista a conclusão de dois novos acordos. Ele não soube dizer com que mercados as negociações estão mais adiantadas, mas citou como exemplos de candidatos o Efta (acordo de livre comércio que reúne Noruega, Islândia, Suíça e Liechtenstein), bem como Canadá, Cingapura e Coreia do Sul. Araújo acrescentou que outros países, como Japão e Líbano, também já mostraram interesse em negociar:

— Em um período de dois anos, vamos criar uma rede muito densa de acordos comerciais —disse Araújo.

Segundo ele, o acordo entre Mercosul e UE será assinado antes de outubro, quando haverá eleição presidencial na Argentina. Fontes do governo brasileiro admitem que, se Mauricio Macri, o atual presidente, não se reeleger, poderá haver obstáculos.

VACA LOUCA NA EUROPA

O ministro também disse que a França fala para o público interno ao afirmar que não está preparada para ratificar o acordo entre UE e Mercosul. A fala foi uma reação à declaração da porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye, de que o país teria de olhar com mais detalhes os termos do acordo antes de assiná-lo.

— Nada do que está no acordo é surpresa para os Estados membros. Estamos prontos para conversar com a França, ou qualquer outro país —afirmou Araújo, acrescentando que, em breve, o chanceler francês, Jean-Yves Le Drian, irá a Brasília.

O chanceler também reagiu às críticas da França e outros países europeus de que o governo brasileiro não está preocupado com o meio ambiente. Araújo afirmou que a grande maioria dos membros da UE usa mais agrotóxicos do que o Brasil e lembrou o mal da vaca louca:

—Agrande maioria dos países europeus te mus ode agrotóxico por hectare maior do que no Brasil. A grande crise de sanidade agropecuária surgiu na Europa, com a vaca louca, porque a alimentação do gado bovino era insustentável —argumentou.

Araújo disse não ter ideia do tipo de garantias que a França poderá exigir. E lembrou que o texto tem vários instrumentos cujo fim é dar segurança aos produtos consumidos pela população, como padrões ambientais, normas fitossanitárias e sanitárias:

—Esse tema não é só europeu. Também é nosso.

Próximos passos do acordo

> Revisão: Agora será feita a revisão técnica e jurídica, além da tradução para as línguas oficiais dos blocos.Depois irá para assinatura. A previsão é de dois anos.

> Votação: O texto será então encaminhado à votação no Parlamento Europeu e nos Congressos nacionais da UE e do Mercosul.

> Entrada em vigor: A parte econômica poderá entrar em vigor, provisoriamente, se o Parlamento Europeu e os Congressos do Mercosul aprovarem o texto. A vigência definitiva dependerá do aval dos 28 Parlamentos da UE.

> Mercosul: O Brasil propôs que, no Mercosul, o acordo entre em vigor em cada país após aprovado por seu respectivo Legislativo, sem aguardar o sinal verde dos demais.

> Prazo: A expectativa é que o braço econômico do acordo entre em vigor em até dois anos.

> Parte política: Esta, que inclui meio ambiente e defesa, entre outros, só entra em vigor após todos os Parlamentos aprovarem o texto.