Correio braziliense, n. 20501, 08/07/2019. Suplemento, p. 3

 

Economia atravessa um deserto

08/07/2019

 

 

O Brasil vive um momento de “travessia no deserto”, entre o fim da hiperinflação e o ainda não atingido crescimento econômico, explica o economista-chefe do Banco UBS, Tony Volpon. Ao comparar a década de 1990, antes e depois do Plano Real, e os dias de hoje, ele afirma que há muitos méritos no processo de estabilização da moeda, mas não o suficiente para alavancar o avanço do Produto Interno Bruto (PIB), historicamente baixo.

A fase de leve abertura econômica, responsabilidade fiscal e privatizações que se seguiu à implementação da nova moeda não conseguiu levar o país a uma taxa de crescimento média acima dos 2% ao ano observados nas últimas duas décadas — nas palavras dele, um percentual “muito, muito medíocre”. “As reformas que foram feitas durante os últimos 25 anos, infelizmente, não foram suficientes”, lamenta.

Apesar dos avanços, “ainda temos uma economia com ambiente de negócios hostil, carga tributária muito alta e distorcida e não somos uma economia aberta”, lista. Do ponto de vista dessas agendas, a situação é melhor do que a de 25 anos atrás, mas, para o status quo ser superado, “não há atalho”: é preciso continuar o processo de reformas e melhorar as condições de produtividade e concorrência. Qualquer outra alternativa é ilusão. A agenda de reformas, segundo ele, é essencial para avanços de médio e longo prazos, mesmo que o Brasil não cresça de forma acelerada nos próximos anos.

Volpon, que foi diretor do Banco Central no governo Dilma Rousseff, também acredita que é preciso acabar com o excesso de subsídios e desonerações, o que chama de “vício” em políticas de suporte adotadas pelo Estado nos últimos anos. “A economia privada ficou meio viciada no crédito, no subsídio e no corte de impostos”, comenta. Na visão dele, a única forma de acabar com essa situação é promover uma série de reformas que gere mais concorrência na economia, com estímulos a novos entrantes. “Sejam estrangeiros, sejam nacionais, tanto faz. Pessoas têm que entrar e tornar todos os setores mais competitivos de uma vez”, defende.

Histórico

A visão de Volpon se sustenta em uma pergunta principal: por que o Brasil tem um potencial de crescimento tão baixo? E, segundo o economista, o primeiro passo para entender a situação é perceber que isso é um quadro padrão nos últimos 20 anos. Entre 1997 e 2017, o crescimento médio foi de 1,9%. O PIB per capita, hoje, está ao redor de 8 mil dólares. “Esse é um crescimento muito baixo. A história do nosso baixo crescimento potencial se tornou muito mais agudo nos últimos anos, mas, na verdade, é histórico”, diz.

Hoje, o crescimento potencial do Brasil está em torno de 0,1%, aponta Volpon. “Teve uma queda muito acentuada. É importante ter um diagnóstico do porquê nós chegamos neste ponto, para ter um prognóstico do que fazer para poder ter um crescimento potencial mais alto”, afirma. Para ele, não adianta ficar “tendo muita angústia” sobre se o Banco Central vai diminuir ou não os juros. “A gente gasta muita saliva discutindo isso, que, na verdade, é tudo, a meu ver, de segunda ordem”, comenta.

Ele concorda que há espaço, neste momento, para queda de juros por parte do Banco Central. “Mas, no fim do dia, quando você pega essa visão de 25 anos do Plano Real, você está olhando história, décadas. Quando você tem esse frame temporal na sua mente, a batalha, na verdade, é o crescimento potencial”, argumenta. “Não há nada que se vá fazer, em termos de políticas cíclicas de demanda, para impactar isso.”