Correio braziliense, n. 20501, 08/07/2019. Suplemento, p. 4

 

País está próximo da recessão

08/07/2019

 

 

Professor-adjunto do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB), José Luis Oreiro afirma que o problema de baixo crescimento da economia brasileira é estrutural e destaca que o país está afundado no problema cíclico do desemprego. “Temos 70% de chance de entrar em uma recessão técnica em 2019. Isso significa que estamos na mais lenta recuperação de atividade já vista na história do país. São 13% de desempregados. Quando coloca uma definição mais ampla, que inclui desalentados e aqueles que trabalham menos horas do que gostariam, a taxa de desocupação chega a 25% da força de trabalho. São 25 milhões de pessoas”, contabiliza.

Ao considerar uma família média de três pessoas, são 75 milhões de brasileiros que sofrem os efeitos da desocupação. Diante desse quadro, Oreiro diz que há o risco de o país sair da renda média e cair na pobreza, uma vez que o desemprego de longo prazo atinge um terço da população. “Renegar as questões de recuperação cíclicas de nível de atividade como sendo questões menos relevantes, em algum momento pode gerar uma convulsão social com consequências sérias”, alerta.

O economista aponta que a causa da crise iniciada em 2014, da qual o país ainda não saiu, se baseia no colapso no investimento público e privado e no superaquecimento da economia. “O governo Dilma Rousseff achava que o diagnóstico errado sobre a questão do baixo crescimento econômico era de escassez de demanda agregada, quando, na verdade, era um problema estrutural, relacionado com a mudança na composição da estrutura produtiva na economia brasileira, o diagnóstico foi errado, logo, foram utilizados instrumentos equivocados”, ressalta.

Indexação

Segundo ele, o Plano Real não conseguiu eliminar inteiramente a indexação na economia e tornar o real uma unidade de conta de fato, em que todos os contratos, preços e salários fossem expressos. “Isso não foi feito. Continuamos com economia indexada, com contratos indexados. Portanto, nesse sentido, temos uma estabilização inacabada, que gera maior dificuldade para o Banco Central baixar os juros. Na verdade, a autoridade monetária é obrigada a elevar os juros pontualmente, o que acaba tornando a gestão macroeconômica mais difícil”, aponta.

Para Oreiro, o que explica a redução do crescimento da economia brasileira a partir dos anos 1980 foi a queda sensível do esforço de arrumação de capital. “Enquanto que, nos anos 50, 60, 70, o país crescia 9%, 10% ao ano. A partir dos anos 80, 90 e 2000, o Brasil passou a crescer 2,5% ao ano, ou seja, o país investiu uma fração muito pequena do PIB na expansão da capacidade produtiva, em máquinas, instalações, infraestrutura, e isso reduziu brutalmente a taxa de crescimento. Por outro lado, não é possível ter desenvolvimento de longo prazo se não tiver produtividade.”

Ele explica que o aumento da produtividade está diretamente relacionado ao crescimento do estoque de capital físico por trabalhador. “A redução do ritmo de crescimento da economia e da produtividade está umbilicalmente relacionada com a diminuição do esforço de arrumação de capital, tanto do setor privado quanto do setor público. O salto que a economia deveria ter dado era aumentar a participação no mercado de manufaturados. O que podemos dizer é que os momentos em que a taxa de crescimento do PIB per capita cai são aqueles em que há contração da participação da indústria”, destaca.

Metas

O economista ainda elenca problemas no grau de utilização de capacidade produtiva (efeito acelerador), a participação dos lucros na renda (efeito lucratividade), a taxa real de câmbio (efeito competitividade externa) e taxa real de juros (efeito custo do capital), que foram motivos que levaram à queda da taxa de investimento. No entender dele, o maior desafio para a economia é a redução do desemprego. As metas de crescimento, acredita, podem ser atingidas por meio de ações do Banco Central. “O BC pode começar a cumprir o protocolo de metas de inflação e a reduzir as taxas de juros, porque, se vamos fechar o terceiro ano consecutivo com o custo de vida abaixo da meta, isso significa que a instituição não está cumprindo o protocolo” explica.

Oreiro também acredita que a consolidação fiscal de longo prazo é a saída para os problemas econômicos atualmente enfrentados no país. “Nós precisamos fazer uma consolidação fiscal de um prazo um pouco mais longo para dar espaço no Orçamento para aumentar o investimento público. Esse contingenciamento de R$ 30 milhões que o ministro da Economia anunciou para o segundo semestre vai simplesmente piorar as coisas, agravar a recessão e aumentar o desemprego,” conclui.