O globo, n.31375, 02/07/2019. País, p. 07

 

Cabral: 'Rei Arthur' financiou campanhas de Paes e Lindbergh

Juliana Castro 

02/07/2019

 

 

O ex-governador Sérgio Cabral detalhou ontem, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da Justiça Federal no Rio, o pagamento de recursos por parte do empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur", a campanhas de políticos fluminenses, entre eles o exprefeito Eduardo Paes e o ex-senador Lindbergh Farias, além do próprio Cabral.

O novo depoimento aconteceu a pedido da defesa do ex-governador, dentro da nova linha de admitir crimes nos quais se envolveu, e ocorre num processo que investiga as relações de Arthur Soares, o principal fornecedor contratado pelo governo estadual nos anos Cabral, com o esquema montado pelo

emedebista, no âmbito da compra de votos no COI para o Rio sediar as Olimpíadas.

Cabral contou a Bretas que “Rei Arthur" bancou parte da campanha de Paes à prefeitura do Rio, no ano de sua primeira vitória, em 2008. O exgovernador disse que, no momento da doação eleitoral, feita via caixa dois, não houve um acerto de como Paes retribuiria o empresário, mas que isso aconteceu mais tarde: uma licitação do Centro de Operações da prefeitura (COR) foi, segundo Cabral, induzida para uma vitória de empresa de Rei Arthur.

— Chegamos a 2008 e consegui convencê-lo (Arthur) a ser o maior doador do Eduardo Paes. Ele deu R$ 6 milhões na campanha do Eduardo — disse Cabral. — Ele (Arthur) acabou sendo atendido na área da Saúde e também no centro de controle da prefeitura. Essa foi a compensação em contratos que o Arthur teve pela doação na campanha.

US$ 50 MILHÕES EM 2010

Cabral explicou os motivos pelos quais houve dificuldade em contratar as empresas de Rei Arthur na prefeitura:

—Muitos dos contratos da prefeitura eram com OSs (organizações sociais) e isso excluía o Arthur. Ele não trabalhava com OSs. Por isso que teve essa dificuldade até encontrar a solução no centro de monitoramento da prefeitura — disse. — Acabou que depois o Eduardo deu essa contrapartida.

Procurado, Paes afirmou em nota que todas as doações para suas campanhas foram voluntárias e espontâneas:

“Todas as doações feitas para as campanhas de Eduardo Paes sempre foram realizadas de forma voluntária e espontânea. As doações foram declaradas e devidamente aprovadas pela Justiça Eleitoral. Aliás, o próprio sr. Sérgio Cabral já admitiu perante o juiz Marcelo Bretas que Eduardo Paes não fazia parte da sua organização”.

Cabral contou que conheceu o empresário quando era presidente da Alerj, ainda no governo Marcello Alencar. E que Rei Arthur tinha relação muito próxima com Jonas Lopes, chefe da Casa Civil do então governador Anthony Garotinho e depois conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ). O ex-governador afirmou que Jonas recebia propina nessa época.

O emedebista diz que recebeu a primeira doação de Arthur Soares na campanha para senador, em 2002, e que passou a receber uma mesada de R $200 mil aR $300 mil depois que virou governador. Em um trecho do depoimento, Cabral contou a Bretas que, em meados de 2010, antesda campanha eleitoral, sua conta no exterior tinha cerca de US $50 milhões, eque, após as eleições, tinha chegado a US$ 100 milhões, para mostrar quanto dinheiro circulava na época eleitoral.

Em 2010, segundo o ex governador, Arthur financiou a campanha Lindbergh Farias ao Senado.

—Como em 2010 a campanha era grande, volteia solicitar (ajuda de campanha) para mim. Deve ter dado R$ 5 milhões ou R$ 6 milhões, mas eu precisava de recursos para o senador Lindbergh. Ele deu ajuda a Lindbergh, mais de R$ 5 milhões — declarou Cabral no depoimento.

A assessoria de imprensa de Lindbergh ainda não se pronunciou. Jonas Lopes, que também fechou acordo delação premia dacoma Justiça, disseque ele próprio já tinha contado às autoridades os fatos relacionados a ele citados por Cabral.