Título: Famílias dão calote
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 25/10/2012, Economia, p. 15
Depois de um período de alívio no orçamento, as famílias voltaram a se endividar com vontade. Foi o que constatou a Confederação Nacional do Comércio (CNC), ao fechar a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de outubro. O total de lares com algum tipo de débito com bancos e com o comércio atingiu 59,2%, ante os 58,9% de setembro. Pior, a parcela de famílias inadimplentes, ou seja, que já não conseguem honrar os compromissos em dia, saltou de 19,15 para 20,5%.
Mais uma vez, o cartão de crédito se mostrou o grande vilão das finanças dos brasileiros. Dos entrevistados pela CNC, 74,2% afirmaram que estão pendurados nesse sistema de pagamento, cujas taxas de juros chegam a 600% ao ano. Em seguida, aparecem os carnês de loja: 20,1% dos débitos. Os números comprovam que os trabalhadores insistem na perigosa aventura do crédito farto e fácil, especialmente ao se dependurarem nas linhas do rotativo do dinheiro de plástico.
Na avaliação da economista da CNC Marianne Hanson, as políticas de estímulos ao crédito e a aquisição de bens duráveis ainda impactam, mesmo que de forma moderada, o bolso dos consumidores. No primeiro semestre de 2012, as famílias estavam mais cautelosas quanto ao uso do crédito. “Percebemos que esse cenário de parcimônia dos brasileiros mudou e, agora, eles voltaram a consumir”, destacou.
A economista adiantou que a tendência é de aumento no calote no início do ano que vem. “Esse movimento decorrerá das festas de fim de ano, das férias e as contas extras dos primeiros meses. Esperamos que o percentual do endividamento não suba tanto, mas já sabemos que teremos registros ainda altos em relação à não quitação de dívidas”, destacou. A pesquisa da CNC mostrou ainda que a maior alta do endividamento se deu entre as famílias com renda mensal de até dez salários mínimos: de 60,5% para 61%. (ACD)