O globo, n.31374, 01/07/2019. País, p. 04

 

Desagravo 

Bruno Abbub

Bruno Góes

Thiago Herdy 

01/07/2019

 

 

Manifestações em defesa da Lava-Jato, do ministro da Justiça, Sergio Moro, e de pautas do governo como a reforma da Previdência e o pacote anticrime ocuparam ontem as ruas de 88 cidades em 26 estados e no Distrito Federal. Em Brasília, o ato teve adesão do governo Bolsonaro, com a presença do ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, e do filho mais novo do presidente da República, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), que fez um duro discurso em defesa de Moro e com críticas ao Congresso Nacional.

À noite, o presidente Jair Bolsonaro comentou os atos. Em uma mensagem nas redes sociais, ele parabenizou os que foram às ruas e afirmou que o povo está acima das instituições:

“A mensagem de vocês é p/ TODAS as autoridades: “não parem o Brasil, combatam a corrupção, apoiem quem foi legitimamente eleito em 2018.” Respeito todas as Instituições, mas acima delas está o povo, meu patrão, a quem devo lealdade”, escreveu.

MORO AGRADECE

Nas últimas três semanas, diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil e atribuídos a Moro e a procuradores da Lava-Jato alimentaram ataques dos críticos à forma de agir da força-tarefa e do então juiz. O desagravo ao ministro e à Lava-Jato foi o principal mote das faixas, cartazes (em muitos se lia “eu confio em Moro”) e palavras de ordem vistos ontem nas ruas. No segundo semestre, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve julgar um pedido da defesa do ex-presidente Lula para declarar a suspeição de Moro nos processos em que o petista é réu.

No Rio, a concentração começou pela manhã, em Copacabana, que teve as pistas Avenida Atlântica, na orla, ocupadas pelos manifestantes num trecho de cerca de quatro quarteirões. Em São Paulo, à tarde, o ato foi na Avenida Paulista, que também teve quatro quadras ocupadas e pontos centrais de concentração em frente ao Masp e ao prédio da Fiesp.

Moro não foi às ruas, mas acompanhou as manifestações. Durante o dia, o ministro fez quatro publicações em sua conta no Twitter sobre os atos: “Eu vejo, eu ouço, eu agradeço. Sempre agi com correção como juiz e agora como Ministro. Aceitei o convite para o MJSP para consolidar os avanços anticorrupção e combater o crime organizado e os crimes violentos”, escreveu, para em seguida se dizer “grato ao presidente Jair Bolsonaro e a todos que apoiam e confiam em nosso trabalho. Hackers, criminosos ou editores maliciosos não alterarão essas verdades fundamentais. Avançaremos com o Congresso, com as instituições e com o seu apoio”.

Nos atos anteriores de defesa da Lava-Jato e apoio a pautas governistas, em 26 de maio, o governo Bolsonaro evitou aderir explicitamente às manifestações. Naquela ocasião, o contexto político fez o governo buscar certo distanciamento dos atos, já que o ataque a instituições como o STF e o Congresso Nacional marcaram a pauta — o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foi um dos mais hostilizados.

Desta vez, a adesão foi explícita. Em Brasília, Eduardo Bolsonaro e o ministro Augusto Heleno foram à manifestação e subiram no carro de som. Se o ataque ao Congresso e a membros do STF esteve presente, mas em segundo plano em relação à defesa de Moro e da Lava-Jato, o filho mais novo do presidente não economizou palavras duras contra parlamentares e o que considera “velha política”.

— Todas as vezes que esse Congresso aprontar, nós estaremos aqui. E mais do que isso: daqui a pouquinho tem eleição de novo. E a gente vai cobrar eles (sic). A renovação do Congresso foi recorde. E assim continuará sendo. E se for preciso, a gente propõe uma PEC para reduzir o número de parlamentares—discursou Eduardo Bolsonaro.

O filho do presidente chamou de “vagabundos” senadores que inquiriram Moro na Comissão de Constituição e Justiça, há duas semanas:

— Foi ridícula aquela cena de ver investigado inquirindo o Sergio Moro. Aquilo ali é o poste mijando em cachorro. A gente está aqui para dizer que nós estamos com Sérgio Moro. E aqueles vagabundos que estavam perguntando,pressionando ele,não nos representam. Quero ver se alguém vai ter moral ou coragem para barrar a Lava-Jato.

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Bate-boca no ato em SP expõe divergência entre grupos de direita 

Thiago Herdy 

01/07/2019

 

 

Os atos de ontem foram convocados por dezenas de movimentos através da internet. Dois dos grupos mais influentes nas mobilizações pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o Movimento Brasil Livre (MBL) e o Vem Pra Rua, desta vez participaram da organização, ao contrário do ocorrido nas manifestações de 26 de maio. À época, eles se afastaram por discordar da pauta de ataques a instituições, e os protestos ficaram liderados por grupos mais à direita.

Ontem, em São Paulo, uma confusão entre integrantes do MBL e representantes do grupo Direita SP expôs essa divergência no campo da direita. A briga começou quando membros do Direita SP se aproximaram do palanque do MBL e começaram a xingar os representantes do movimento. O deputado estadual Arthur do Val (DEM), conhecido por seu canal ‘Mamãe Falei’, no YouTube, desceu do palanque e foi em direção aos representantes do Direita SP, iniciando um tumulto. A Polícia Militar teve que intervir e separar os grupos.

No palanque, líderes do MBL pediam para que a briga se encerrasse e que a direita se unisse “em prol de um Brasil maior”. Com a intervenção policial, os militantes do Direita SP deixaram o local.

—Os caras vieram até aqui para xingar o MBL, mas já acabou, assunto encerrado — minimizou o deputado, depois da confusão.

O coordenador estadual do Direita SP, André Petros, explicou mais tarde a razão do protesto contra o MBL:

— O MBL já vem de muito tempo apresentando comportamento que não condiz com o que a direita espera, e o que é nossa essência. Tá misturado agora na politicagem do Centrão e se aliou a um dos políticos mais pilantras do Congresso, o Rodrigo Maia —reclamou Petros.