Título: PT ganha São Paulo, mas perde Nordeste
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2012, Política, p. 2

Vitória de Haddad na maior cidade do país mostra a força de Lula. Petistas, no entanto, sofrem derrotas em redutos tradicionais do ex-presidente. PSB, de Eduardo Campos, passa a ser a maior preocupação do Planalto

O PT conseguiu seu maior objetivo eleitoral ao conquistar a prefeitura de São Paulo e cidades importantes do estado, mesmo com a reta final do julgamento do mensalão e a condenação de caciques como José Dirceu. Mas viu o Nordeste escorrer por entre os dedos. A partir de janeiro de 2013, o petista Fernando Haddad vai administrar a maior cidade do país, impondo uma derrota histórica ao PSDB de José Serra e Geraldo Alckmin, que vê ameaçada sua reeleição ao governo estadual daqui a dois anos. Em compensação, no Nordeste, região que sempre marchou ao lado do partido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que começa a vislumbrar o crescimento do PSB de Eduardo Campos, o PT está fora do governo das três maiores cidades: Salvador, Recife e Fortaleza. Pior: a capital pernambucana estava nas mãos do PT havia 12 anos, e Fortaleza, oito. A única metrópole nordestina conquistada por um petista foi João Pessoa, de eleitorado inexpressivo.

Personagem central nessa história, Lula fez questão de viajar por todos esses locais. À exceção do Recife, onde ele jamais colocou os pés, antevendo a derrota fragorosa do senador Humberto Costa, o ex-presidente esteve em Fortaleza, Salvador e fez um giro pela maior parte das cidades de São Paulo. Se foi preponderante na vitória de Haddad, candidato que "tirou da cartola" antevendo a necessidade de renovação no cenário político paulistano, o ex-presidente amargou uma derrota para o carlismo em Salvador e para o PSB de Eduardo Campos no Recife e Fortaleza (dos irmãos Cid e Ciro Gomes).

No meio do primeiro turno, a avaliação do Palácio do Planalto era de que, como os resultados eleitorais apontavam uma repartição de votos praticamente equânime, quem vencesse São Paulo seria o grande ganhador da eleição municipal. Haddad derrotou Serra por 55,57% dos votos válidos contra 44,43% do tucano. O partido também obteve outra meta: cercar os tucanos em um chamado cinturão vermelho pelo estado. O PT venceu em Guarulhos (Sebastião Almeida); Santo André (Carlos Grana); e Mauá (Donisete Braga).

No primeiro turno, o partido já havia conquistado as prefeituras de São Bernardo do Campo (Luiz Marinho); Osasco (Jorge Lapas); São José dos Campos (Carlinhos Almeida); e Carapicuíba (Sérgio Ribeiro). Ao retomar, principalmente, a prefeitura paulistana após oito anos fora do comando da maior cidade brasileira, os petistas retomam o projeto de um feito até então inédito: governar São Paulo, estado que está desde 1994 nas mãos do PSDB.

Pré-candidata preterida com o cancelamento das prévias em São Paulo, mas presenteada com o Ministério da Cultura para integrar-se à campanha de Haddad, Marta Suplicy afirmou ontem que estava de "alma lavada" com a derrota de Serra. "Ficaram evidentes as armadilhas que fazia, a pessoa que ele é (Serra). Tudo isso estava engasgado na garganta", completou Marta. Já Haddad disse que seu primeiro objetivo é "separar o muro da vergonha que divide áreas ricas e pobres". O prefeito eleito se reúne hoje em Brasília com a presidente Dilma Rousseff.

Cenários O PT vê uma antiga hegemonia fortemente ameaçada. Eduardo Campos cresce seu poder de influência no reduto lulista. O PSB já havia derrotado o PT com Geraldo Júlio, no primeiro turno, no Recife. Desbancou os petistas em Fortaleza, com a vitória de Roberto Cláudio — a exemplo de Recife, outro candidato "inventado", desta vez pelo governador Cid Gomes — e estava na aliança vitoriosa de ACM Neto (DEM) em Salvador.

O PSB foi o grande vitorioso do segundo turno. O partido ganhou seis das sete prefeituras que disputou. Dessas, três são capitais: Fortaleza, Cuiabá e Porto Velho. Nas duas primeiras, o adversário era o PT. Em ambas, Lula fez questão de subir ao palanque para tentar diminuir o grau de influência de Eduardo Campos. O placar terminou dois a zero para o governador pernambucano.

O PSB já tinha eleito dois prefeitos de capital no primeiro turno — Belo Horizonte e Recife — e com os números finais do segundo turno, totalizou o comando em cinco capitais. Um a mais que o PT, que venceu em quatro: Goiânia, São Paulo, João Pessoa e Rio Branco. Aliados acreditam que Eduardo Campos deve lançar seu nome já em 2014, para evitar uma concorrência em 2018 com um possível Fernando Haddad, fortalecido com a vitória em São Paulo. Para completar, Campos ainda derrotou o PT em Campinas, com a vitória de Jonas Donizette contra Marcio Pochmann.

>> Perfil FERNANDO HADDAD

Direto dos gabinetes

O prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, casado, pai de dois filhos, sempre militou ao lado de estrelas do PT. Chegou ao governo federal em 2003, pelas mãos do então ministro do Planejamento, Guido Mantega, hoje titular da Fazenda. No ano seguinte, recebeu o convite para ser secretário-executivo do Ministério da Educação. O titular era o hoje governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Assumiu a pasta em 2005, quando Genro deixou o governo para assumir, interinamente, a presidência do PT no auge do escândalo do mensalão.

Permaneceu na pasta durante o restante do governo Lula, incluindo o segundo mandato. O início, como ele mesmo confirmou em entrevista recente à Folha de S.Paulo, não foi fácil. Chamado ao gabinete presidencial, confrontou-se com um debate sobre febre aftosa. Errou as duas perguntas que o seu mentor político fez. Mas conseguiu, ao longo do tempo, aproximar-se do presidente e tornar-se o nome representando o "novo" na eleição paulistana.

Em 1985, formou-se em direito pela Universidade de São Paulo. Em 1988, mesmo ano em que o PT vencia a primeira disputa pela prefeitura paulistana, com Luiza Erundina, sua quase vice em 2012, Haddad tornou-se analista de investimento do Unibanco, banco que se fundiu posteriormente com Itaú. Animado com o novo emprego, concluiu o mestrado em economia em 1990 e, em 1995, tornou-se doutor em filosofia.

Dois anos depois de concluir o doutorado, passou em um concurso para professor da USP, e, aos 34 anos, dava aulas no Departamento de Ciência Política. Um ano depois, tornou-se consultor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, onde criou a Tabela Fipe, que expressa os preços médios de veículos no mercado nacional, servindo apenas como um parâmetro para negociações ou avaliações.

Em 2001, com Marta Suplicy prefeita, assumiu a chefia de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico de São Paulo, subordinado ao economista João Sayad. Seguiu da secretaria direto para o Ministério do Planejamento. De lá para Educação, de onde saiu em janeiro deste ano para candidatar-se a prefeito de São Paulo. (PTL)