O Estado de São Paulo, n. 46015, 12/10/2019. Metrópole, p. A24

 

Mancha de óleo já afeta 14 unidades de conservação

Giovana Girardi

Diego Emir

12/10/2019

 

 

Danos mais visíveis envolvem tartarugas e a contaminação chegou à Praia do Forte, na Bahia, principal área de desovas do Brasil

Catorze unidades de conservação federais marinhas já foram atingidas pelo óleo que polui o litoral nordestino há mais de um mês, segundo monitoramento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. São parques nacionais, reservas voltadas para a proteção ambiental e extrativistas, entre o Maranhão e o Sergipe, tornando ainda pior o impacto do desastre.

Os danos mais visíveis envolvem as tartarugas cobertas de óleo e há esforços do Projeto Tamar para resgatar os filhotes e soltá-los em alto-mar, como ocorre na Reserva Biológica Santa Isabel (SE). Segundo o ICMBio, cerca de mil filhotes já foram levados para o alto-mar e há um monitoramento diário das desovas. E para essas espécies o cenário acaba de ficar ainda mais complicado, porque a mancha chegou ontem à Praia do Forte, na Bahia, a principal área de desova de tartarugas do País – e a maior densidade de população e onde são encontradas quatro das cinco espécies relatadas no Brasil, segundo a Fundação Pró-Tamar.

Mas várias outras unidades de conservação também estão sofrendo os danos, em diferentes graus. Toda essa costa é muito rica em recifes de corais, o que a torna particularmente sensível a desastres ambientais. Um vazamento ali afetaria a região com a maior biodiversidade marinha do Brasil, e principal berçário das baleias jubarte. O parque de Abrolhos fica bem ao sul da Bahia, ainda longe das manchas, mas já há algumas estimativas de que o óleo pode chegar até Porto Seguro.

“O impacto é presente em todos os ecossistemas. Desde a superfície, onde está a mancha, até os bancos de grama marinhos, alimento para o peixeboi. Cobre corais. Nas marés altas, entra nos manguezais. É uma região toda conectada”, diz o biólogo especializado em oceanografia Clemente Coelho Jr, da Universidade de Pernambuco. “Visualmente, nós vemos mais o impacto nas tartarugas, que sobem para respirar e acabam ficando oleadas. O problema é o que não estamos vendo.”

Nos recifes de corais mais próximos das praias, por exemplo, já há imagens mostrando que a mancha está se depositando na maré baixa, impregnando a estrutura calcária. “Uma vez incrustado em corais, bancos areníticos e rochosos, é praticamente impossível limpar”, afirma Coelho Jr.

Maranhão. Maior reserva marinha e costeira do Brasil, a Cururupu teve seus primeiros registros de manchas negras na quarta-feira, segundo informações de técnicos do Ibama no Maranhão. A unidade tem área de 1.860 km² e uma extensa porção de manguezais protegidos, que formam um corredor ecológico de relevância mundial. No local são registradas 12 comunidades pesqueiras, que abrigam 1.200 famílias incluídas em um plano de produção de pesca artesanal.

“Se o óleo chegar aos manguezais ficará praticamente inviável a retirada do produto”, explica Leonardo Soares, especialista em gerenciamento costeiro da Universidade Federal do Maranhão. Na região vivem tartarugas, golfinhos, peixe-boi, diversas espécies de peixes, principalmente a pescada amarela, além de ostras e crustáceos.

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Vazão de usina pode subir para proteger São Francisco

André Borges

12/10/2019

 

 

Técnicos que monitoram o avanço das manchas de petróleo no Nordeste decidiram autorizar a vazão da Hidrelétrica de Xingó, no Rio São Francisco, para evitar que o óleo avance para dentro do Rio e agrave a contaminação na região. A usina de Xingó, a mais próxima da foz do São Francisco, poderá ter sua vazão aumentada de 800 metros cúbicos por segundo para 1.300 por segundo, caso o Ibama julgue necessário.

O aumento de vazão passa pela liberação da água armazenada no reservatório de regularização que fica acima de Xingó, a barragem de Sobradinho, que funciona como uma “caixa d’água” do São Francisco. Ficou decidido que, caso essa liberação venha a ocorrer, não passe de 1% sobre o volume total de água contida em Sobradinho. Ontem, Sobradinho estava com 34,47% de sua capacidade total de armazenamento.

A mancha de óleo chegou à foz do rio, na divisa de Alagoas e Sergipe. Como a água do mar avança diversos quilômetros rio adentro em horários de baixa do rio, a ideia é liberar um maior volume de água da hidrelétrica para conter esse avanço.

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Desmatamento na Amazônia cresce 93%, aponta Inpe

André Borges

12/10/2019

 

 

Entre 1.º de janeiro e 30 de setembro, o volume acumulado de desmatamento na Amazônia já chega a 7.853 km², 93% maior do que o verificado nos primeiros nove meses do ano passado, quando a devastação da floresta atingiu 4.075 km².

Só no mês passado, de 1.º a 30 de setembro, os índices de desmatamento na Região Amazônica cresceram 96% em relação a setembro de 2018. Foram 1.447 km² de desmatamento, ante 739,46 km². O Pará continua a liderar a derrubada das florestas, com 497 km² em setembro.

Os dados são do Sistema de Detecção do Desmatamento na Amazônia Legal em Tempo Real (Deter), ferramenta do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que serve para orientar ações de fiscalização contra o desmatamento.

Para evitar distorções, os números citados consideram apenas as três categorias de corte de vegetação que o próprio governo identifica como desmatamento efetivo: desmatamento com solo exposto, desmatamento com vegetação e mineração. As informações do Deter usam alertas de desmate, dados que são consolidados anualmente pelo governo, por meio do sistema Prodes.

Em setembro, o Estado mostrou que, no primeiro mês de ação das Forças Armadas na Amazônia, a quantidade de incêndios diminuiu, mas houve redução do número de bens apreendidos, como toras de madeira e motosserras, e também de autos de infração.

Indagado sobre os novos dados do Inpe, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse ontem ao Estado se tratar de “um problema real”. “Está claro que temos um problema real e que isso precisa ser resolvido. Independentemente do porcentual, o que precisamos fazer é avançar nas políticas de combate ao desmatamento ilegal. Isso passa pela questão de fiscalização e monitoramento.”

O monitoramento do desmate motivou uma crise após o presidente Jair Bolsonaro chamar de mentirosos os dados divulgados pelo Inpe. Os questionamentos levaram à exoneração do ex-diretor Ricardo Galvão, em agosto. Desde o início do ano, Salles tem dito que pretende usar um sistema privado.