O globo, n.31362, 19/06/2019. País, p. 05

 

Moro temeu melindrar FH em investigação, afirma site 

19/06/2019

 

 

Em diálogo, ex-juiz teria dito a procurador que apuração poderia atingir alguém ‘cujo apoio é importante’; ministro afirma que não reconhece autenticidade de conversas

Novas conversas atribuídas ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e a procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, divulgadas ontem pelo site The Intercept Brasil, apontam que o ex-juiz teria ficado preocupado com investigações sobre suposto caixa dois para as campanhas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, na década de 1990.

Moro negou a interferência no caso envolvendo o ex presidente, do qual não era juiz responsável, e disse não reconhecer a autenticidade dos diálogos. A Polícia Federal investiga ataques cibernéticos a celulares de procuradores da Lava-Jato, juízes, delegados e políticos.

Em mensagem enviada a Deltan Dallagnol no dia 13 de abril de 2017, Moro questiona se as suspeitas divulgadas pela imprensa contra FH eram “sérias”, segundo o site. O ex-juiz se referia ao relato de Emílio Odebrecht de suposto pagamento de caixa dois para campanhas de FH à Presidência em 1993 e 1997. Na época da conversa, o relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Fede“melindra alguém cujo apoio é ral (STF), ministro Edson Fachin, havia enviado as menções contra o tucano para a Justiça Federal de São Paulo, a pedido da Procuradoria Geral da República (PGR).

Em resposta, Dallagnol diz acreditar que o braço da força tarefa em Brasília teria enviado o caso a São Paulo sem analisar a prescrição “talvez para (o MPF) passar recado de imparcialidade”. Moro diz achar que a medida é questionável e importante”.

Logo após a chegada na 8ª Vara Criminal, os advogados do tucano pediram o arquivamento da investigação, uma vez que os casos relatados ocorreram há mais de 20 anos e já estavam prescritos.

Em nota, Moro disse não reconhecer as mensagens obtidas “por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas”. Segundo a nota, “as conclusões da matéria veiculada pelo Intercept sequer são autorizadas pelo próprio texto das supostas mensagens, sendo mero sensacionalismo”.Moro ressaltou que sua atuação como juiz “se pautou pela aplicação correta da lei”.

O ex-presidente FH disse, ao Intercept, que não “teve conhecimento de nenhum inquérito ou denúncia”que o envolva. Em nota, a força-tarefa da Lava-Jato informou que o caso sequer era de atribuição do grupo de Curitiba e que não teve qualquer participação na decisão de seu envio para outra unidade do Ministério Público Federal ou na análise de eventual prescrição.

OS NOVOS TRECHOS DIVULGADOS

Em conversa atribuída a Moro e Dallagnol, ex-juiz discorda de investigações sobre FH
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Ministro será ouvido hoje no Senado sobre diálogos 

Jailton de Carvalho

19/06/2019

 

 

Moro deverá ser duramente questionado, mas há senadores com receio de sua popularidade

Com seis meses de governo, o ministro da Justiça, Sergio Moro, terá uma prova de fogo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado a partir das 9 horas de hoje. Habituado a interrogar durante os 23 anos que foi juiz federal, Moro deverá ser duramente questionado sobre matérias do site The Intercept Brasil que atribuem a ele e ao procurador Deltan Dallagnol mensagens trocadas por aplicativos de mensagens sobre casos da Lava-Jato, inclusive sobre o processo do tríplex contra o ex-presidente Lula.

A audiência com o ministro, que já era vista como um dos mais fortes embates entre governo e oposição, deve se tornar ainda mais intensa depois de novos trechos divulgados ontem sobre o ex-presidente Fernando Henrique.

Moro, no entanto, não estará sozinho. Apesar das fraturas na base governista, alguns senadores estão se articulando para fazer a defesa do ministro. Os dois lados, oposição e aliados de Moro, cantam vitória, mas o resultado do embate é imprevisível. Isto porque, vários senadores têm receio de entrar em choque com Moro que, conforme recentes pesquisas, ainda mantém elevada popularidade.