Título: Derrota põe Serra na berlinda
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2012, Política, p. 5

Derrota põe Serra na berlinda

Fernando Henrique defende a renovação dos quadros do PSDB, o que dificulta projetos futuros de uma nova candidatura do tucano. Lideranças nacionais do partido não aparecem no discurso de agradecimento

» PAULO DE TARSO LYRA

A derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo praticamente sepulta qualquer pretensão futura de José Serra. Sem a presença de lideranças nacionais importantes em seu discurso de agradecimento — apenas o senador Aloysio Nunes Ferreira esteve presente —, Serra ainda tentou deixar em aberto que, para se livrar dele, os agentes políticos do PSDB terão que entrar em campo. "Saio desta campanha mais revigorado, com mais energia, disposição e novas ideias", declarou.

Mas Serra fica refém do discurso de renovação que o partido precisa enfrentar a partir de agora. Ontem, ao votar no Colégio Sion, na Zona Oeste de São Paulo, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso elogiou a tenacidade do candidato do PSDB durante a disputa pela prefeitura, mas deu a senha de que o partido precisa virar a página. "O Serra é mais jovem do que eu e ele ainda tem a possibilidade de continuar a sua carreira, mas o partido, no geral, precisa de renovação. O momento é de mudança de gerações, mas isso também não quer dizer que os antigos líderes vão desaparecer. Eles têm apenas que empurrar os novos para a frente", comentou FHC.

Muitos no PSDB criticaram a opção do partido de não ter tentado essa renovação no início do ano, quando quatro pré-candidatos pretendiam disputar as prévias internas: José Aníbal; Ricardo Trípoli; Bruno Covas e Andrea Mattarazzo. "Vendo o resultado de São Paulo, ficou provado que o desejo da militância de renovação por intermédio das prévias estava correto. O PSDB está muito calado, cheio de conveniências que não convergem com o desejo e o pensamento do eleitorado", disse ao Correio o secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal. "A nossa derrota em São Paulo foi dramática", resumiu um dos coordenadores da campanha, Walter Feldmann (PSDB-SP).

O resultado também foi ruim para o PSDB, que perde a principal capital brasileira e um polo irradiador de políticas e ações fundamentais para a disputa ao Planalto em 2014. Para o projeto partidário — que passa pela candidatura de Aécio Neves à Presidência daqui a dois anos — seria fundamental a vitória de Serra na disputa contra o PT de Fernando Haddad.

Serra sempre soube que a disputa pela prefeitura de São Paulo seria a última chance de encerrar a carreira política com uma vitória. Passou a campanha inteira garantindo que, se eleito, não abandonaria a prefeitura, como fez em 2004. "Não dá para fazer isso duas vezes em São Paulo impunemente. Ele foi eleito governador em 2006, mas jamais arriscaria novamente esse passo", assegurou um interlocutor fiel de José Serra.

Em 2002, quando acabou derrotado pela primeira vez em uma disputa presidencial, Serra refugiou-se nos Estados Unidos para dar aulas na Universidade de Princeton, onde já fora professor visitante. No fim de 2003, retornou ao Brasil para assumir a presidência do PSDB. No ano que vem, o partido terá novas eleições para a presidência. Mas alguns tucanos, inclusive muitos próximos ao candidato a prefeito, reconhecem que são outros tempos. "A presidência do partido hoje é ocupada por um pernambucano (Sérgio Guerra) e o principal nome da legenda é de Minas (Aécio Neves). Essa descentralização não deve diminuir", ponderou um aliado.