Título: Bandeira democrata fincada em Salvador
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Fonte: Correio Braziliense, 29/10/2012, Política, p. 6

ACM Neto confirma o favoritismo ao derrotar o petista Nelson Pelegrino e reforça a oposição ao governo federal no Nordeste Juliana Colares

Os petistas tentaram ignorar os resultados das pesquisas de intenção de voto em Salvador, mas tiveram que engolir a vitória de ACM Neto (DEM), que, na véspera da decisão do segundo turno, chegou a ser chamado de "lobo em pele de cordeiro" pelo presidente do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP). O prefeito eleito da capital baiana teve 53,51% dos votos válidos, batendo o adversário, o petista Nelson Pelegrino (46,49%). A vitória do democrata começou a se delinear desde o início da apuração das primeiras urnas.

Havia quem apostasse no desmoronamento do projeto político do democrata, caso derrotado. Mas quem vai ter que repensar o futuro é Pelegrino, que perdeu a disputa ao Executivo municipal pela quarta vez. Em três delas (1996, 2000 e, agora, em 2012), o DEM, antigo PFL, levou a melhor. Com a vitória de ACM Neto, o carlismo retorna a Salvador depois de oito anos.

Para o coordenador de Comunicação da campanha de Pelegrino, Carlos Navarro, dessa vez, o PT não perdeu para o adversário, mas para ele mesmo. "Tivemos uma série de dificuldades internas sobre as quais manda o bom senso que eu não me estenda", afirmou, defendendo que essa foi a segunda derrota do Pelegrino que pode ser creditada ao próprio PT. A primeira teria sido a de 2004, quando o candidato não chegou a ir para o segundo turno.

Salvador tinha importância especial para o PT nacional, que tentava fortalecer o nome do governador da Bahia, Jaques Wagner, no Nordeste em contraponto ao colega pernambucano, Eduardo Campos (PSB). Navarro não quis falar sobre a possível projeção de Wagner para 2018 e lembrou que o PSB foi aliado do PT na campanha de Pelegrino. "A partir de agora, é pensar em 2014 e ver o que vai acontecer", disse.

O discurso de vencedor do coordenador da campanha de ACM Neto, José Carlos Aleluia, foi direto: "Campanha se faz, em primeiro lugar, com um bom candidato. Tínhamos o melhor. Depois, com boas propostas. Tínhamos as melhores propostas." Sobre a alfinetada de Jilmar Tatto, Aleluia devolveu que foi por isso, por atacar o adversário, que o Partido dos Trabalhadores perdeu a eleição. "O PT está perdendo posição no Brasil porque acha que pode continuar fazendo política atacando pessoas e suas famílias", alfinetou.

Pelegrino acompanhou a contagem dos votos em casa, dirigindo-se, ao fim, ao comitê central, onde reconheceu a derrota. O prefeito eleito também acompanhou a apuração com a família, seguindo, logo depois, para a festa no comitê de campanha. Mais cedo, na hora de votar, enfrentou tumulto e empurra-empurra na Faculdade de Administração da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

Perfil acm neto O renascimento do carlismo Deputado federal por três legislaturas e ex-líder do DEM na Câmara, o prefeito eleito de Salvador, ACM Neto herdou de Antônio Carlos Magalhães muito mais do que o acrônimo pelo qual é conhecido no meio político. Nascido em uma das mais tradicionais dinastias baianas, o deputado de 33 anos chegou à política sob a sombra do avô, um dos nomes mais fortes a transitar pelo poder no estado. Militante do extinto PFL desde os tempos da vida acadêmica, aprendeu a lide política acompanhando campanhas eleitorais de ACM e do tio Luís Eduardo Magalhães. A denúncia de que o avô teria grampeado ilegalmente os telefones de desafetos políticos valeu a ACM Neto o apelido de Grampinho nos corredores do Congresso. Entre os políticos que tiveram o pedido de grampo estava o então líder do PT na Câmara, Nelson Pelegrino.

A emancipação política se consolidou com a participação na CPI dos Correios, que investigou o mensalão entre 2005 e 2006. ACM Neto foi o sub-relator do capítulo relacionado aos fundos de pensão que participaram do esquema montado pelo empresário Marcos Valério. No mesmo ano de encerramento da CPI, passou por um susto: foi esfaqueado nas costas pela pensionista do INSS Rita de Cássia Sampaio de Souza, que protestava contra o aumento salarial autoconcedido pelos parlamentares. Em 2008, foi derrotado por João Henrique Carneiro (PP) em sua primeira tentativa de assumir a prefeitura de Salvador. Mas hoje, ACM Neto é visto hoje como principal artífice do renascimento do carlismo no estado. (Karla Correia)