Título: Barreira a novos partidos ameaça Marina
Autor: Caitano, Adriana
Fonte: Correio Braziliense, 26/10/2012, Política, p. 6

A proposta que tramita no Congresso para impedir que novos partidos tenham acesso pleno ao fundo partidário e ao tempo na propaganda eleitoral tem como alvo legendas que, como o recém-criado PSD, podem oferecer risco às tradicionais agremiações. As siglas atuais querem vetar que o bem-sucedido exemplo do PSD seja copiado. O projeto volta à pauta da Câmara na próxima semana e, se vingar, as pretensões eleitorais de figuras como Marina Silva, que já articula a criação de uma nova sigla, podem entrar na berlinda.

Desde que deixou o PV, em 2011, a ex-ministra do Meio Ambiente e ex-senadora tem evitado dar garantias de que terá um partido para chamar de seu. Os próprios assessores negam veementemente que a iniciativa esteja nos planos da candidata derrotada à Presidência da República em 2010. Nos bastidores, porém, ela tem aproveitado as reuniões do movimento ambientalista suprapartidário que encabeça com o intuito de atrair possíveis integrantes para o novo grupo. Entre os parlamentares que estão na mira da ex-verde estão os deputados Reguffe (PDT-DF) e Alessandro Molon (PT-RJ), além do senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP).

Um político ligado a Marina comenta que ela manifesta preocupação com a regra restritiva a novas legendas que o Congresso quer implantar. “Ela acha uma maldade e uma prova de que os partidos tradicionais planejam apenas se perpetuar no poder”, relata. Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Leonardo Barreto, Marina de fato será prejudicada caso a norma seja aprovada. “Criar um partido hoje em dia é uma tarefa cara e complicada, que fica ainda mais difícil sem o atrativo a deputados que possam levar parcela do fundo partidário e tempo de TV com a mudança”, comenta.

Leonardo Barreto acrescenta, porém, que, mesmo sem recursos e horário eleitoral, Marina Silva pode recorrer às mesmas estratégias que usou na campanha pelo Palácio do Planalto há dois anos e que lhe garantiram 19,6 milhões de votos. Segundo Barreto, a atuação de jovens nas redes sociais a ajudou mais que o curto tempo de TV que o Partido Verde tinha à época. O especialista acredita que esses eleitores poderiam ser mobilizados novamente a favor da criação da legenda e para atrair figuras ligadas à causa ambientalista. “O PSD surgiu como uma oportunidade de oposicionistas chegarem mais perto da base do governo ou se libertarem dos grupos nos quais não se encaixavam, mas no caso da Marina, o apelo é seu próprio nome”, explica.

Reação O professor da UnB destaca que a proposta de limitar a criação de novas legendas é uma reação dos grandes partidos, que se sentem ameaçados. “Em todo o mundo, tem havido um desgaste de grupos tradicionais e a tendência é a organização de legendas mais ideológicas e que novas agendas, como o ambientalismo, a mobilização social e a internet, se concentrem em siglas que as defendam”, ressalta.

De acordo com Leonardo Barreto, o clima é favorável para partidos como o de Marina Silva, o Partido Pirata, cujos integrantes são ligados ao mundo tecnológico e já coletam assinaturas para sua efetivação, ou ainda a legenda que o deputado federal e presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), começa a articular com o apoio de sindicalistas. “O crescimento dos partidos religiosos, por exemplo, mostra que setorizar interesses é uma forma de fazer o eleitor se identificar diretamente com a política partidária”, afirma.