O Estado de São Paulo, n. 46012, 09/10/2019. Economia, p. B3
Caixa reduz juros do crédito imobiliário
Fabrício Castro
Murilo Rodrigo Alves
Adriana Fernandes
09/10/2019
Na esteira do movimento iniciado pelos rivais privados, banco público anunciou corte de 1 ponto porcentual na menor taxa, para 7,50%
A Caixa Econômica Federal informou ontem que reduziu em até 1 ponto porcentual as taxas de juros para financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo.
A menor taxa de juros cobrada pela Caixa passará de 8,50% mais a Taxa Referencial (TR) para 7,50% mais TR. A maior taxa vai de 9,75% mais TR para 9,50% mais TR. O Estado antecipou que o banco ia cortar suas taxas, depois de ações semelhantes feitas pelos concorrentes. A Taxa Referencial foi criada em 1991 e é usada como um fator de correção monetária de empréstimos, do FGTS e de investimentos.
Hoje, a TR está zerada.
Segundo o banco, as novas taxas passam a valer na próxima segunda-feira. O corte de juros valerá para créditos com saldo devedor atualizado pela TR no Sistema Financeiro de Habitação (SFH) e no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI).
O corte de juros surge na esteira das reduções mais recentes da Selic, a taxa básica de juros da economia, atualmente em 5,50% ao ano, menor nível da história. Com a Selic mais baixa, várias instituições financeiras anunciaram recentemente cortes em suas taxas para o crédito imobiliário. Bradesco anunciou taxa mínima de TR + 7,30% ao ano. O Itaú fixou sua taxa mínima em TR + 7,45% e o Santander, TR + 7,99%.
A redução anunciada pela Caixa não abarca os contratos, lançados recentemente pelo banco, que são indexados ao Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA) – o índice oficial de inflação. Nesses contratos, as taxas de juros variam de 2,95% mais o IPCA a 4,95% mais o IPCA.
O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, afirmou que, caso o Banco Central siga reduzindo a Selic, a instituição continuará também a cortar os juros do crédito imobiliário.
Estratégia. A Caixa foi o primeiro banco público a reduzir a taxa de juros para os financiamentos imobiliários, na sequência dos grandes bancos privados. O mercado chegou a avaliar que seria uma estratégia para turbinar a nova linha de crédito do banco para a casa própria corrigida pelo IPCA, lançada dia 20 de agosto.
Na semana passada, a Caixa conseguiu a marca de R$ 1 bilhão contratado na nova linha de crédito e se preparava para reduzir as taxas corrigidas pela TR, o que foi anunciado ontem.
Desde que foi lançada, o banco estatal já registrou 4 milhões de simulações para a linha atualizada pelo IPCA. O banco tem R$ 9,8 bilhões em crédito préaprovado. A cúpula do banco ficou impressionada com os números porque, em cerca de 40 dias, contratou o esperado para o ano. A nova linha vale para imóveis residenciais enquadrados no Sistema Financeiro da Habitação (SFH), cujo limite de valor é R$ 1,5 milhão, e no Sistema Financeiro Imobiliário (SFI). Durante o anúncio da linha, Guimarães, afirmou que na condição atual a parcela de um imóvel de R$ 300 mil seria superior a R$ 3 mil. Com a nova modalidade, segundo ele, a parcela cai para cerca de R$ 2 mil.
Contratos novos
R$ 1 bilhão
é o valor já contratado na nova linha de crédito imobiliário da Caixa, corrigido pelo IPCA; a redução anunciada ontem não abarca esses contratos
PERGUNTAS & RESPOSTAS
Entenda a portabilidade
1. Como saber se a portabilidade de financiamento imobiliário vale a pena?
Muitas vezes, não é preciso fazer portabilidade para conseguir taxas mais atraentes. O banco de origem pode oferecer juros melhores ao ser confrontado pelo cliente. Nesse caso, não se trataria de uma portabilidade, mas apenas renegociação da dívida. Para saber se vale a pena levar o financiamento para outra instituição, é preciso se atentar ao chamado Custo Efetivo Total do financiamento. O cálculo inclui, além dos juros, seguros por morte e invalidez permanente. Outro custo a ser observado é a taxa de administração. Essas taxas têm impacto importante na prestação, porque variam de seguradora para seguradora e são baseadas no prazo do financiamento e na idade do contratante.
2. Quais as regras da portabilidade do crédito imobiliário?
De acordo com a norma, o valor final do financiamento e o número de prestações não podem sofrer aumento. Já o valor da prestação pode ser alterado, mediante autorização expressa do cliente. A instituição de destino é a responsável por recalcular o saldo devedor com base no Custo Total Efetivo e o cliente tem até dois dias úteis para desistir do negócio. O prazo é o mesmo para que o banco de origem repasse os dados do financiamento para a nova instituição. As regras do contrato devem permanecer as mesmas: se o cliente comprou o imóvel no Sistema de Amortização Constante, por exemplo, não é possível mudar para Sistema Price. Além disso, o banco de destino não pode obrigar o usuário a contratar outros serviços como cheque especial, cartão de crédito ou seguro imobiliário. Muitas vezes, os bancos oferecem taxas melhores para clientes que estabelecem relacionamento com a instituição. Por sua vez, o banco de origem também não pode cancelar esses produtos, previamente contratados, caso o cliente decida pela portabilidade
3. Quais são os custos para a portabilidade?
Os bancos de origem e de destino do crédito imobiliário não podem cobrar taxa de transferência. O proprietário do imóvel, porém, precisa estar atento aos custos envolvidos no processo, como o novo contrato de alienação fiduciária ao banco de destino – que pode chegar a R$ 3 mil. Outra possibilidade é que o imóvel precise passar por uma avaliação para confirmar seu preço de mercado, o que também tem custos. Os gastos, porém, são decorrentes de transações cartoriais e não taxas cobradas pelas instituições. Se qualquer cobrança desse tipo ocorrer, o cliente deve procurar o Procon.
____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Contra o monopólio
09/10/2019
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez críticas ao monopólio da Caixa sobre a gestão do FGTS e indicou que a negativa do Executivo de alterar essa gestão vai contra o discurso liberal do governo. “O que queremos discutir é um monopólio que gera prejuízo ao trabalhador, vem gerando nos últimos 10 ou 12 anos no mínimo.”