O globo, n.31370, 27/06/2019. Economia, p. 18

 

'Não temos nada a esconder no BNDES', diz Levy na Câmara

Patrik Camporek 

27/06/2019

 

 

Ex-presidente reafirma transparência do banco, que teria sido ‘vítima’ de governos anteriores

Em depoimento ontem na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga possíveis irregularidades no BNDES, Joaquim Levy, exministro da Fazenda e ex-presidente da instituição, afirmou que todas as informações sobre as atividades do banco são públicas e transparentes. Ele disse ainda que, no passado, a instituição foi “vítima” do próprio governo, que teria usado o banco.

Antes de sua apresentação, Levy entregou aos deputados uma cartilha com dados do banco. Ele ressaltou que qualquer cidadão tem acesso a essas informações por meio de um celular.

—Não temos nada a esconder no BNDES. Contratamos uma investigação independente, a pedido dos auditores externos. É caro, custa milhões e milhões. É um banco que está se ajustando, que está com foco na infraestrutura, nas pequenas empresas e aberto a todas as instituições de controle — disse Levy, que pediu demissão do BNDES este mês, depois de ser criticado publicamente pelo presidente Jair Bolsonaro.

Com relação à política de investimentos do banco em outros países, como Venezuela e Angola, Levy admitiu equívocos. Ele informou que empresas financiadas pelo BNDES chegaram a investir até US$ 80 bilhões por ano em outros mercados, o que resultou em diversas inadimplências.

A assessoria de imprensa do BNDES informou que, considerando investimentos diretos do banco, o total aplicado no exterior, US$ 1 bilhão por ano, foi bem menor que os US$ 30 bilhões injetados na economia brasileira.

‘HOJE É MAIS MAGRINHO’

Levy destacou que, ao assumir a Fazenda no governo Dilma Rousseff, em 2015, resolveu o problema fiscal do BNDES:

—Por muito tempo o banco foi usado pelo governo, através de contabilidade fiscal. O BNDES f oi uma vítima das empresas(envolvidas em casos de corrupção) e do governo. O BNDES foi empurrado para essas atividades —afirmou.

— O BNDES hoje é muito mais magrinho do que no passado.

Perguntado se o motivo de sua saída do governo foi não ter aberto a “caixa-preta do BNDES”, como queria Bolsonaro, Levy respondeu:

— Acho que eu fiz esforços de sucesso em comunicar tudo o que acontece no BNDES. Eu digo que hoje o BNDES não tem nada a esconder. E acrescentou:

— O problema da expressão caixa-preta é que ela tem vários sentidos. O mais preciso é aquele artefato que registra o que aconteceu com um veículo. Acho que o BNDES tem sua história registrada. Hoje, o BNDES tem um grau de transparência que poucos bancos têm.