O globo, n.31369, 26/06/2019. País, p. 11

 

PSL cresce 18 vezes mais que média dos partidos 

Júlia Cople 

26/06/2019

 

 

Levantamento contempla período desde as eleições de 2018. Brigas internas e denúncias de candidaturas laranjas não atrapalharam o aumento do número de filiados, creditado principalmente ao ‘efeito Bolsonaro’

Mesmo rachado pelo embate entre lideranças e sob críticas de falta de coesão com o governo, o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL, ganhou, em média, 4.352 eleitores filiados por mês desde as eleições do ano passado.

A legenda somou novas 30.464 filiações nos últimos sete meses —18 vezes acima da média das 35 siglas do país somadas, de 1.691 novos membros, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar do salto a atuais 271.616 filiados, a sigla de Bolsonaro ainda pouco representa no universo de filiações do país: apenas 1,6%.

O crescimento indica que o PSL, até o momento, tem conseguido avançar mesmo com as brigas entre seus parlamentares — alvo de reclamações do presidente, pelos efeitos das divisões internas na fragilidade da base do governo — e do escândalo de candidaturas- laranja, investigado pelo Ministério Público. O caso deixou em uma saia-justa o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, o ex-ministro Gustavo Bebbianno (Secretaria-Geral) e o presidente nacional da legenda, Luciano Bivar, na suspeita de distribuição de recursos do fundo eleitoral.

O racha no PSL ficou evidente em meados de março. Deputados se posicionavam nas redes ora contra, ora a favor de interesses do governo. O partido do presidente se tornara um dos principais obstáculos ao andamento da agenda governista, e as lideranças passaram a se reunir para tentar harmonizar o discurso. Ataques do partido à chamada “velha política” afastaram aliados . O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, chegou a insinuar que Bolsonaro poderia voltar ao DEM . Mas foi justamente neste mesmo período que se deu o principal salto das filiações à sigla: passou de 240.983, em março, para 271.701, em abril.

ANTES, UM PARTIDO NANICO

De acordo com o TSE, os partidos brasileiros somavam em maio último 16.870.717 eleitores filiados, quase 60 mil a mais que em outubro de 2018. No mês do pleito presidencial, o PSL tinha 241.152 integrantes. Desde então, cresceu 12%. Até a filiação de Bolsonaro, era um partido nanico, com apenas oito deputados, nenhum senador e pouca expressão no cenário político nacional. Com ele, elegeu 52 congressistas na Câmara (hoje são 58) e quatro no Senado, nos holofotes da política nacional.

No ano passado, o PSL recebeu R$ 8,3 milhões do fundo partidário, verba distribuída para as legendas com base na votação obtida para a Câmara. Este ano, a sigla deve ficar com cerca de R$ 105 milhões.

O cientista político Malco Braga Camargos, da PUCMG, ressalta que historicamente o partido em exercício no poder tende a crescer mais que os demais em números de filiações — o que ocorreu com o PSDB, durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e com o PT, nas eras de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

—A eleição presidencial e a ocupação da principal cadeira do poder determinam outras competições em nossa federação. O que aumenta adesão a um partido é a expectativa de o cargo do presidente influenciar outros pleitos em alinhamento ideológico — analisa o professor. —O cálculo de quem opta por participar de um partido e dos benefícios que imagina ter não leva em consideração conflitos internos, mas o alinhamento com o cargo mais importante do país —acrescenta.

EFEITO BOLSONARO

O principal diretório do PSL fica em São Paulo, do qual o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, assumiu a presidência em 10 de junho, com o desafio de apaziguar as divisões internas. Lá se reúnem 47.935 filiados, o equivalente a 17,6% do total. Em seguida, vêm o de Minas Gerais, com 26.696 (9,8%), e o da Bahia, com 26.045 (9,6%). As menores sedes estaduais do partido estão nos estados de Acre, com apenas 688 filiados (0,3%), e Roraima, com 1.368 integrantes (0,5%).

Embalado pela ascensão de Bolsonaro à Presidência, o novo salto consolida uma trajetória ascendente da sigla. Em dezembro de 2015, o PSL tinha registrados 205.588 filiados, segundo o TSE. Ganhou, no ano posterior, quase 21 mil integrantes e foi a 226.551. Na sequência, o entusiasmo pareceu estancar: até março de 2018, o PSL havia ganhado pouco mais de mil novos filiados — neste mês, um deles foi Jair Bolsonaro, que se ligou ao partido para disputar a Presidência.

De março até outubro de 2018, quando o candidato foi eleito, o “efeito Bolsonaro” levou ao PSL novos 13.562 filiados —um crescimento de de 5,95%. Com isso, na data da eleição, o agora presidente tinha 241.152 correligionários. A partir daí, o número de filiações oscilou para baixo. Voltou a subir em fevereiro deste ano, mês em que seus deputados e senadores tomaram posse no Congresso. No aniversário de um ano de filiação do presidente, eram 240.983 filiados.

Apenas seis dos 35 partidos do país cresceram mais de 1% em filiados desde as eleições de 2018. Entre outubro do ano passado e maio deste ano, o Novo aumentou em 29,2% o número de filiados, seguido por PSL, 12,6%; PRB, 4,3%; PSOL, 3,3%; PROS, 2,1% e SD, 1,3%.