O globo, n.31367, 24/06/2019. País, p. 06

 

Moro cancela ida a audiência na Câmara

Eduardo Bresciani 

André de Souza 

24/06/2019

 

 

Ministro responderia a perguntas de deputados sobre diálogos vazados na proxima quarta-feira, dia 26;vice-presidente da CCJ cita viagem como motivo  de cancelamento e diz que uma nova data será marcada

Após passar 9 horas no Senado na última semana para dar explicações sobre mensagens atribuídas a ele e a procuradores da Operação Lava-Jato pelo site The Intercept Brasil, o ministro da Justiça, Sergio Moro, cancelou sua ida à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara marcada para quarta-feira, dia 26.

Por meio de sua assessoria, o ministro limitou-se a comunicar para a CCJ que não poderia comparecer, sem propor uma nova data para a audiência. Moro está em viagem nos Estados Unidos visitando órgãos de segurança e de inteligência. O ministro marcou as audiências no Senado e na Câmara assim que o caso veio à tona com o objetivo de enfraquecer as iniciativas da oposição de propor uma CPI com base nas conversas divulgadas.

VIAGEM MARCADA

A deputada Bia Kicis (PSL-DF), vice-presidente da comissão, minimizou o episódio, dizendo que Moro irá em outra data.

— Não vai esta semana, porque vai viajar. Então vamos remarcar para outra semana. Só isso. Ele irá sim, estará na CCJ. Deve ser na próxima semana (a ida à CCJ) — disse Kicis.

Havia a expectativa de um clima mais hostil em relação ao ministro na Câmara. Deputados do PT afirmam que Moro deixou várias perguntas sem resposta no Senado e prometiam uma atitude mais incisiva.

O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) afirma que Moro de fugiu do embate e disse que vai apresentar um requerimento de convocação. A ideia é protocolar na segunda-feira, em conjunto com outros integrantes da oposição, e levá-lo à votação na próxima sessão da CCJ, na terça-feira.

— Assim que surgiram as comunicações das conversas dele com (Deltan) Dallagnol, ele logo quis ir para tentar neutralizar. Quando ele falou,disse que tinha feito um importante trabalho. Só que depois que saíram as novas publicações, ele está fugindo desse debate. Então vamos entrar com um requerimento de convocação — disse Teixeira.

Apoiadores de Moro também previam um clima diferente na Câmara, mas acreditavam que o ministro não teria problemas. Um dos deputados lamentou a decisão de Moro em adiar a presença afirmando que, desta forma, ele fica mais exposto a novas publicações do The Intercept Brasil, em vez de encerrar o assunto de vez no Congresso.

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Diálogos sugerem articulação para aliviar tensão com STF, diz jornal 

24/06/2019

 

 

Novos diálogos atribuídos ao ministro da Justiça, Sergio Moro, e a procuradores da Lava-Jato indicam que a força-tarefa teria tentado proteger o ex-juiz durante um momento de tensão com o Supremo Tribunal Federal (STF), em 2016, e mostram o que teria sido uma articulação dos procuradores para evitar uma piora na relação dele com a Corte.

As trocas de mensagens foram publicadas ontem pelo jornal “Folha de S.Paulo”, em parceria com o site The Intercept Brasil. O episódio estaria relacionado à divulgação de documentos encontrados pela Polícia Federal com nomes de políticos ligados ao esquema de propinas da Odebrecht. Em conversa com Deltan Dallagnol, em março de 2016, Moro teria dito que a atitude foi uma “tremenda bola nas costas da PF” e teria complementado: “E vai parecer afronta”.

Em nota, Moro diz que: “não confirma a autenticidade de mensagens obtidas de forma criminosa e que podem ter sido editadas ou adulteradas total ou parcialmente.

Repudia ainda a divulgação de suposta mensagem com o intuito único de gerar animosidade com movimento politico que sempre respeitou e que teve papel cívico importante no apoio ao combate à corrupção. Causa revolta que se tente construir um enredo com mensagens, cuja autenticidade não se pode reconhecer, a partir de fatos que envolvem um processo judicial público e que só atestam a correção e isenção com que o ministro atuou enquanto juiz federal na Operação Lava-Jato.

Como pode-se verificar no andamento processual, o material referente a pessoas com foro privilegiado foi remetido ao Supremo Tribunal Federal no primeiro dia útil após a Polícia Federal ter juntado aos autos. Após análise, o STF os devolveu à 13° Vara Federal de Curitiba mantendo consigo apenas a parte que envolvia pessoas com foro privilegiado. Esta é a verdade, que independe de mensagens cuja autenticidade não se pode aferir.

Ressalta-se que a invasão criminosa de celulares de autoridades públicas é objeto de investigação pela PF”. A força-tarefa disse que tem “prejudicada sua possibilidade de avaliar a veracidade e o contexto dos supostos diálogos”.