Título: Bom de bola e de palanque
Autor: Almeida, Amanda; Castro, grasielle
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2012, Política, p. 6

Romário foi uma das personalidades mais assediadas por candidatos que buscaram reforço nas campanhas eleitorais. Recebido como celebridade nas cidades que visitou, deputado revelou ao Correio mágoa com o presidente do PSB

AMANDA ALMEIDA GRASIELLE CASTRO

O Baixinho não pleiteia nenhum cargo este ano, mas gastou sola de sapato na campanha como qualquer aspirante a prefeito de sua legenda, o PSB. Desde julho, o deputado federal Romário (PSB-RJ) percorreu mais de 10 mil quilômetros para visitar 23 cidades. Onde esteve, o tetracampeão mundial atraiu pequenas multidões de apaixonados por política, futebol e futevôlei, modalidade que pratica no tempo livre atualmente. Levou solavancos, beijos, abraços e agradecimentos, mais pela fama de jogador veterano que de parlamentar estreante. Entre as eleitoras, foi assediado e ganhou até beliscões no bumbum. Para adversários, fez “showmícios disfarçados”.

Romário foi de Quiterianópolis, no interior do Ceará, a capitais, como Cuiabá. Passou também por grandes cidades do interior, como Uberaba (MG) e Campinas (SP). Em Fortaleza, foi usado como contraposição à participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Elmano de Freitas (PT). O ex-jogador e a direção do partido dizem que não houve orientação do PSB para as andanças pelo Brasil. Questionado sobre a presença nos municípios compor a estratégia de crescimento da legenda, ele é enfático: “Tenho escutado que o presidente do partido, o governador Eduardo Campos, quer ser candidato a presidente da República. Pelo tratamento que me dá, não votaria nele”.

Desde que a Justiça proibiu os showmícios, os candidatos têm tido dificuldade para atrair a eventos de campanha um público desinteressado em política. Em Belo Horizonte, a presença de Lula, no fim de agosto, atraiu apenas 5 mil pessoas a uma das maiores praças da cidade, plateia bem abaixo da esperada pela organização. É aí que entra o Baixinho. “É interessante, porque há a possibilidade de atrair pessoas que normalmente não estariam lá para ouvir as propostas dos candidatos. Conversei com ele (Romário) e, pela relação de amizade que criamos na Câmara, ele veio”, comemora o deputado federal Domingos Neto (PSB-CE), que se diz responsável pela ida de Romário a Fortaleza.

Para adversários, os discursos do ídolo do futebol, que tem como bandeiras o investimento no esporte e a defesa dos direitos de pessoas com deficiência, passam longe de ser um apoio simplesmente político. “É um showmício disfarçado, mas o que se há de fazer? O cara é deputado do partido. Tem mais é que ser usado nas campanhas”, avalia um correligionário de Elmano de Freitas. Assessores de Romário contam que até integrantes de comitês dos rivais de candidatos apoiados por ele apareciam na porta do local para ver o Baixinho passar e mandar “tchauzinho”.

O secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que as participações de Romário em eventos de campanha não foram impostas pela legenda. Para ele, o ex-jogador não faz showmício. “É algo bem diferente. Apoio o fim dos comícios, que eram eventos completamente despolitizados. O Romário não está em palanque como ex-jogador, mas como político que vem exercendo bem seu mandato”, defende. Pouco depois de participar de evento em Duque de Caxias (RJ) ontem, Romário disse ao Correio que está “amarradão” em política, mas ainda não sabe qual é seu futuro. Porém, não descarta a possibilidade de se candidatar à prefeitura do Rio.

Empurra-empurra Um assessor que acompanhou a viagem conta que, quando o deputado chegava nas cidades, parecia final de Copa do Mundo. Os moradores se mobilizavam para ver o deputado. Um dia, em Camaragibe (PE), foi feita uma pequena carreata e um comício no centro da cidade. “Era uma multidão, um empurra-empurra. Derrubaram tudo em uma loja de sapatos para conseguir ver o ídolo.”

Também impressionava a quantidade de pessoas que levava camisas para o ex-jogador autografar. Os uniformes eram atirados em cima do carro para chamar a atenção do Baixinho.

"Já arrancaram minha camisa e passaram a mão na minha bunda, mas (o assédio) sempre fez parte da minha vida" Romário (PSB), deputado federal

Tiririca promete trocar o terno pela fantasia Outra celebridade campeã de votos fisgada por companheiros de partido para pedir votos foi o palhaço e deputado federal Tiririca (PR-SP). Com pedidos de candidatos de todo o país para ser cabo eleitoral de campanhas, ele gravou e visitou algumas cidades. Nos palanques em que subiu, Tiririca não se vestiu como palhaço, mas alguns adversários de candidatos patrocinados por Tiririca reclamaram de supostas promessas de voltar às cidades para fazer shows. Em Coribe, no oeste da Bahia, ele teria dito, após discurso com viés apenas político, que retornaria para se apresentar como humorista, mas que, para isso, os eleitores deveriam votar no candidato de seu partido.

Quatro perguntas para Romário As andanças pelo país são parte da estratégia de crescimento do PSB? Não tenho nem boa relação com o meu presidente. Nenhuma visita foi por imposição. Não tenho feito isso pela situação de o PSB estar crescendo, mas porque me sinto bem. Infelizmente, nem todos que apoiei ganharam.

O PSB vai lançar nome próprio para disputar a Presidência da Rpública em 2014? Infelizmente, o presidente do partido não quer ter uma boa relação comigo. Nem imagino o motivo. Estou esperando uma conversa com ele há meses. Tenho ouvido que existe interesse do Eduardo Campos em se candidatar. Pelo tratamento que me dá, não votaria nele. Politicamente falando, até votaria nele pelo partido. Ele não cumpriu compromisso comigo. Não me respondeu… Não vou dizer o que era.

O senhor quer ser prefeito do Rio? Essa possibilidade ocorreu depois de pesquisa espontânea em que tive 9% de intenções de voto. O meu descontentamento com o presidente é mais ou menos por isso. Hoje, não seria candidato a prefeito. Tenho apenas um ano de política. Não teria condição de dar vitalidade à administração. Existe a possibilidade de eu deixar de ser político, mas não sei… Hoje estou muito feliz de sentir que posso fazer boas coisas.

Houve situações engraçadas na campanha? Entrando no meio de uma multidão, sempre tem coisa engraçada. Já arrancaram minha camisa e passaram a mão na minha bunda, mas (o assédio) sempre fez parte da minha vida. Quando entrei na política, tinha muito mais a perder do que a ganhar. Hoje, vejo que as pessoas definitivamente acreditam em mim como político.