O globo, n.31372, 29/06/2019. Mundo, p. 29

 

Trump 'avisa' Putin para 'não se meter' nas eleições dos EUA

29/06/2019

 

 

Pressionado pela oposição democrata e pela imprensa a adotar uma atitude mais crítica em relação a Vladimir Putin por causa da interferência russa na campanha eleitoral americana de 2016, o presidente Donald Trump finalmente fez isso, mas a seu modo. Durante um encontro bilateral com Putin à margem da cúpula do G-20 no Japão, Trump foi questionado por um jornalista a respeito de quando pretendia dizer a Putin para não interferir na eleição do ano que vem. Com um meio sorriso, tom jocoso e o dedo indicador apontado ironicamente para Putin, Trump reagiu:

— Não se meta nas eleições, presidente. Em seguida, o presidente americano se virou para um

funcionário russo que acompanhava o encontro e repetiu: — Não se meta nas eleições.

Foi o primeiro encontro de Trump e Putin após a conclusão do relatório da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a interferência russa em 2016. No relatório, Mueller afirma que a Rússia realizou uma operação “radical e sistemática” em favor da eleição do republicano, por meio da ação de trolls nas redes sociais e da invasão dos computadores da campanha da democrata Hillary Clinton.

JUNTOS CONTRA A IMPRENSA

O procurador diz, porém, que não há provas de cumplicidade da campanha de Trump na operação. Quando o relatório foi apresentado, o presidente americano comemorou o resultado como uma vitória, dizendo que “não houve conluio”. Putin nega veementemente qualquer intervenção de Moscou nas eleições americanas. —A Rússia foi e, por mais estranho que isso pareça, continua a ser acusada de uma interferência mítica nas eleições americanas — disse Putin ao jornal Financial Times, em entrevista publicada na quinta-feira. — Na verdade, o que aconteceu foi que Trump observou a atitude de seus oponentes, viu mudanças na sociedade americana e tirou vantagem disso. Na entrevista ao FT, Putin se alinhou ao populismo nacionalista defendido pelo colega americano e que emerge em países europeus como a Itália e a Hungria. Ele elogiou a política migratória linha-dura de Trump e chamou o liberalismo político de “obsoleto”:

— Essa ideia liberal pressupõe que nada precisa ser feito. Que os imigrantes podem matar, roubar e estuprar com impunidade porque seus direitos como imigrantes devem ser garantidos — disse Putin. — Todo crime deve ser punido. Esse liberalismo se tornou obsoleto e entrou em conflito com os interesses de uma grande maioria da população. O presidente russo ainda cri--ticou a chanceler alemã, Angela Merkel, por ter aberto as portas aos refugiados sírios: — Eles (os liberais) não podem ditar mais nada para ninguém, como têm feito nas últimas décadas — disse, chamando a decisão de Merkel de “erro fundamental”. Na reunião bilateral, Trump e Putin mantiveram um tom amigável, sorrindo e conversando. Enquanto eram fotografados, os líderes encontraram outro ponto em comum nas suas críticas a jornalistas: — Livre-se deles. Fake news é uma ótima expressão, não é? Vocês não têm esse problema na Rússia, mas nós temos —disse Trump. Em inglês, Putin respondeu:

— Nós também temos. É a mesma coisa.