O globo, n.31371, 28/06/2019. País, p. 04

 

Prisões no entorno do ministro

Aguirre Talento

28/06/2019

 

 

A Polícia Federal prendeu ontem um assessor especial do ministério do Turismo e dois ex-funcionários do ministro Marcelo Álvaro Antônio, aumentando a pressão por sua demissão. A investigação é sobre o lançamento de candidaturas laranjas do PSL de Minas Gerais, que era presidido por Álvaro Antônio durante as eleições do ano passado.

Foram presos temporariamente o atual assessor especial do ministério Mateus Von Rondon Martins, em Brasília; e os ex-assessores Haissander Souza de Paula e Roberto Silva Soares, em Minas Gerais. Os três também foram alvos de mandados de busca e apreensão.

A PF apreendeu computadores e celulares. Robertinho, como é conhecido, foi um dos coordenadores de campanha de Álvaro Antônio no ano passado. Já Haissander era assessor dele na Câmara dos Deputados.

‘CONFIANÇA’ NO MINISTRO

A suspeita da investigação, batizada de Sufrágio Ostentação, é que, com a atuação desses assessores, Álvaro Antônio selecionou mulheres para o PSL de Minas Gerais lançar candidaturas laranjas e, assim, cumprir a cota de gênero determinada por lei. Além disso, para a PF, as candidatas eram instadas a devolver parte dos recursos repassados pelo partido para suas candidaturas com a contratação de empresas ligadas a integrantes do grupo do ministro, como gráficas e outras prestadoras de serviços.

Os suspeitos são investigados pelos crimes de falsidade ideológica eleitoral, emprego ilícito do fundo eleitoral e associação criminosa. Por enquanto, mesmo após as prisões de assessores muito próximos ao ministro, o governo tem evitado tomar qualquer atitude em relação a Álvaro Antônio.

Em nota, o Ministério do Turismo disse que “é importante esclarecer que não há qualquer relação entre a investigação da Polícia Federal e as funções desempenhadas pelo assessor especial Mateus Von Rondon no Ministério”.

Desde o surgimento das denúncias, em fevereiro, o presidente Jair Bolsonaro, que é do PSL, tem dito que esperará o fim das investigações. Em maio, Bolsonaro ironizou as denúncias sobre as candidaturas da sigla. Disse que até gostaria de ser dono de um laranjal , porque “laranja é um produto rendoso”.

Ontem, o ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil) se referiu ao caso como “matéria requentada”, garantindo que o governo “continua confiando” em Álvaro Antônio e acompanhando ocaso com“serenidade ”. O presidente em exercício, Hamilton Mourão, ã ose pode“linchar” o ministro, mas disse que o caso deve ser reanalisado por Bolsonaro ao retornar:

—É obvio que se houver alguma culpabilidade, o presidente não vai ter nenhuma dúvida em substituí-lo.

Desde fevereiro, quando a “Folha de S.Paulo” noticiou a existência de candidatas que não fizeram campanha, receberam repasses do partido e contrataram empresas ligadas ao ministro, o MP de Minas investiga a relação de Álvaro Antônio com a empresa de serviços digitais pertencente a Von Rondon.

Entre 2015 e 2018, a companhia recebeu R$ 193 mil em verbas do gabinete de Álvaro Antônio na Câmara. Foi a mesma empresa que recebeu os R$ 32 mil de quatro candidatas em 2018 que serviriam apenas para receber dinheiro do partido e devolvê-lo a empresas ligadas a Álvaro Antônio.

Robertinho, por sua vez, foi acusado pela então candidata do PSL de Minas Gerais, Adriana Moreira Borges, de condicionar um repasse de R$ 100 mil do fundo partidário do PSL para sua campanha à devolução de R$ 90 mil ao partido.

Outra candidata, Cleuzenir Barbosa, entregou à PF mensagens trocadas com Haissander de Paula em que o ex-assessor do ministro pede que ela deposite R$ 30 mil recebido do partido na conta de uma gráfica indicada pela cúpula da legenda.

O PSL divulgou nota dizendo que as contas de campanha foram aprovadas pelo TSE e que “tudo foi feito dentro da legalidade”. Em abril, Von Rondon afirmou que ofereceu e prestou os serviços contratados pelas candidatas. (Colaboraram João Paulo Saconi, Gustavo Maia e Henrique Massaro).

A SUSPEITA NO PSL DE MINAS

PF aponta desvio de dinheiro público pelo grupo do ministro

Grupo de Álvaro, que comandava o PSL em MG

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No Rio, MP eleitoral vai investigar laranjas do PSL

Bruno Abbud 

28/06/2019

 

 

Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) do Rio informou que foi instaurado ontem um procedimento para apurar doações de dinheiro em nome de supostos laranjas e pagamentos a prestadores de serviço registrados como voluntários em candidaturas do PSL no estado nas eleições do ano passado.

O anúncio ocorre após o Jornal Nacional ter noticiado, na quarta-feira, que candidatos do PSL em ao menos

dois estados, Rio de Janeiro e Mato Grosso, declararam à Justiça eleitoral nomes de doadores que negam ter doado dinheiro a campanhas.

Prestadores de serviços — como empréstimo de carros ou distribuição de panfletos — registrados pelos candidatos como voluntários também alegaram ter recebido pagamentos dos candidatos, o que pode configurar prática de caixa dois.

Os candidatos mencionados na reportagem são: Marcelo do Seu Dino, deputado estadual pelo PSL no Rio; Raquel Stasiak, do PSL do Rio, hoje suplente na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj); Clébio Lopes Jacaré, do PSL do Rio, também suplente na Alerj; e Dr. Emilio Populo, suplente do PSL na Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

PERDA DE MANDATO

Outro procedimento da PRE, que corre sob sigilo, apura eventuais irregularidades em repasses do fundo eleitoral, com foco no desvio de verbas destinadas obrigatoriamente a candidaturas femininas, num esquema semelhante ao investigado na seção de Minas Gerais do partido.

O procurador eleitoral do Rio, Sidney Pessoa Madruga, não quis se pronunciar. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os candidatos que omitirem informações à Justiça eleitoral podem ser enquadrados em prática de caixa dois e perder o mandato, além de estarem sujeitos à inelegibilidade por oito anos.

O presidente do diretório regional do PSL no Rio é o senador Flávio Bolsonaro. Em nota, ele disse que “cada candidato tem responsabilidade individual por suas contas eleitorais”. “Até o momento, o diretório do PSL do Rio não recebeu qualquer denúncia e desconhece quais candidatos estariam envolvidos no suposto esquema. Conforme informações apareçam, os fatos serão avaliados e encaminhados para os órgãos competentes”, segue a nota.

A presidência do PSL-RJ também informou que “se confirmada qualquer irregularidade, o partido tomará as medidas cabíveis”.

O presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar, informou que a responsabilidade pela aplicação de recursos a nível regional é dos diretórios estaduais.

O TRE-MT informou que as contas do candidato Dr. Emilio Populo foram aprovadas com ressalvas e que as informações estão disponíveis nos autos. Segundo os documentos, o candidato não comprovou que os valores declarados referentes aos bens móveis recebidos em doação estavam de acordo com valores praticados no mercado e contraiu despesas antes da abertura de conta bancária de campanha. Segundo o TRE-MT, as irregularidades não comprometem “a confiabilidade das contas”.

O GLOBO não conseguiu contato com os candidatos nem com o diretório do PSL em Mato Grosso.