O globo, n.31371, 28/06/2019. País, p. 06

 

Avaliação do governo Bolsonaro piora, diz Ibope 

Eduardo Bresciani

Gustavo Maia 

28/06/2019

 

 

A avaliação do governo Jair Bolsonaro piorou, segundo pesquisa Ibope realizada para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada ontem. De acordo com os dados, o percentual dos que consideram o governo como ruim ou péssimo subiu de 27%, em abril, para 32%. Esse índice era de apenas 11% em janeiro e, portanto, quase triplicou.

Os que consideram o governo ótimo ou bom, por sua vez, estão diminuindo. Eram 49% no primeiro mês de mandato, foram a 35% em abril e agora são 32%. A avaliação da administração como regular foi também de 32% na pesquisa de ontem, enquanto 3% não responderam.

Os números refletem as dificuldades que o presidente tem encontrado neste início de mandato. Em apenas seis meses, Bolsonaro já demitiu quatro ministros, sofreu derrotas no Congresso em temas como o das armas e ainda não conseguiu produzir resultados positivos na economia.

Questionado sobre o resultado da pesquisa na tarde de ontem, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, se limitou a ironizar o instituto, fazendo referência a levantamentos realizados durante a campanha eleitoral do ano passado:

—Olha, pelos números do Ibope, o presidente jamais seria Bolsonaro .

Bolsonaro, por sua vez, ignorou o tema em transmissão ao vivo que fez em suas redes sociais direto do Japão, onde participa da cúpula do G-20.

O percentual de pessoas que desaprovam a maneira como Bolsonaro governa superou os que aprovam. A desaprovação chegou a 48% enquanto a aprovação caiu para 46%. Na pesquisa de abril, a reprovação era de 40% e a aprovação 51%. O índice de confiança seguiu a mesma direção. Agora 51% dizem não confiar no presidente.

ACIMA DE TEMER

Apesar da aprovação em queda, 47% dos entrevistados ainda consideram o governo de Bolsonaro melhor do que o de seu antecessor, Michel Temer (MDB). Apenas 17% apontaram o atual governo pior que o anterior, outros 33% julgam que ambos são iguais.

De acordo com a pesquisa, repetindo o que já ocorria na campanha eleitoral, a avaliação de Bolsonaro é melhor entre os homens. Ele tem 36% de ótimo e bom nesse segmento, e 29% entre as mulheres. Já a avaliação negativa (ruim ou péssimo) é de 37% entre as mulheres e de 26% entre os homens.

A região Sul é a única em que mais de 50% da população avalia o governo como ótimo ou bom (52%), enquanto no Nordeste está a pior avaliação, com 47% de ruim e péssimo.

Em relação à renda, Bolsonaro é melhor avaliado entre os mais ricos (49% de ótimo e bom entre os que têm renda familiar maior do que cinco salários mínimos) e tem piora nos índices à medida que a renda diminui, chegando a 41% de ruim e péssimo entre os que têm renda familiar menor do que um salário mínimo.

O mesmo ocorre quando se leva em conta o grau de instrução. Entre os que estudaram até a quarta série do ensino fundamental, 27% consideram o governo ótimo ou

bom, percentual que vai a 37% entre os que têm ensino superior. Foram ouvidas duas mil pessoas em 126 municípios entre os dias 20 e 23 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

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Aumento da insatisfação foi maior na educação

28/06/2019

 

 

A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem apontou um aumento expressivo da desaprovação das políticas do governo para a educação. O índice subiu de 44% para 54% de abril para junho. A área era a segunda mais bem avaliada até então e caiu para a quinta posição.

A mudança ocorreu no período em que o governo anunciou um bloqueio de recursos reservados no Orçamento da União para a área. O ministro Abraham Weintraub (Educação) disse que o contingenciamento atingiria apenas algumas universidades, onde havia “balbúrdia”. A declaração insuflou milhares de pessoas a irem para as ruas em protesto, no dia 15 de maio, em mais de 200 cidades nos 26 estados do país e no Distrito Federal.

Nesses seis meses de governo, o Ministério da Educação já teve uma troca de comando: saiu Vélez Rodriguez e entrou Weintraub. A pasta também foi a que teve mais substituições no segundo escalão, com dez baixas. No Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão que organiza o Enem, dois presidentes já foram demitidos.

Principal bandeira da carreira política de Bolsonaro, a segurança pública aparece na pesquisa como a área mais bem avaliada, com 54% de aprovação e 43% de desaprovação. Na segunda posição está o Meio Ambiente, apesar das recorrentes controvérsias na área, com 46%. Na sequência aparece o combate à inflação, com 45% de aprovação.

Entre os quesitos incluídos no questionário, a avaliação sobre os impostos teve o pior percentual, com 61% de reprovação, seguido de perto por taxa de juros, com 59%. A saúde teve 56% de desaprovação, seguida de combate ao desemprego, com 55%.

A pesquisa perguntou ainda quais temas do noticiário são mais identificados com o governo Bolsonaro. Reforma da Previdência aparece em primeiro lugar, com 13%. A pesquisa não esclarece que tipo de notícias as pessoas leram sobre cada tema nem se a percepção específica delas foi positiva ou negativa.

Em seguida aparecem os decretos de Bolsonaro que flexibilizam a posse e o porte de armas, com 10%, e a divulgação pelo site The Intercept Brasil de mensagens atribuídas ao ministro Sergio Moro (Justiça) e procuradores da força-tarefa da Lava-Jato, com 8%. (Eduardo Bresciani e Gustavo Maia)