O globo, n.31371, 28/06/2019. Economia, p. 22

 

Presidente do BC nega pressão por reforma 

Renata Vieira

28/06/2019

 

 

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou ontem que a instituição não está pressionando o Congresso pela reforma da Previdência, embora esse seja um fator preponderante de percepção de risco sobre a economia brasileira — pela autoridade monetária e pelo mercado. Mais cedo, o BC divulgou novas projeções para o crescimento do PIB e da inflação, e ambas foram revisados para baixo, fazendo menção à importância da aprovação de reformas.

— O mercado tem uma percepção parecida sobre o risco de aprovação das reformas. Em 19 e 20 de maio, estávamos discutindo (no BC) com um cenário de dólar a R$ 3,75 e, cinco dias depois, o dólar já estava a R$ 4 por conta de um ruído sobre a reforma (da Previdência). Mas não existe nenhum tipo de chantagem, de forma alguma há pressão no Congresso. Quando existe um fator de risco importante, temos de citar, porque faz parte da análise do Copom (Comitê de Política Monetária) —afirmou Campos Neto, durante a apresentação do Relatório Trimestral de Inflação, na sede do Banco Central.

IMPACTO NO CRESCIMENTO

Campos Neto enfatizou ainda que o cenário base do BC é o de aprovação da reforma, e que não é possível ainda precificar o impacto da não aprovação do texto na política monetária:

— Não trabalhamos com cenário do que não está precificado. Não sabemos o teor da reforma que vai ser aprovada, não é trabalho do Banco Central fazer essa análise. O mais importante é ver como isso (expectativa da aprovação da Previdência) se transmite para a inflação. O que fazemos sempre é analisar o balanço de riscos e propor um caminho que seja razoável para a sustentabilidade do crescimento econômico.

JUROS X COMPULSÓRIO

Ontem, o BC divulgou novas projeções para a economia brasileira. O crescimento do PIB para 2019 foi revisado de 2% para 0,8%, ante uma atividade econômica ainda fraca, sobretudo no setor industrial. A inflação para os próximos dois anos ficará abaixo de 4%.

Campos Neto também deu destaque à Agenda BC#, conjunto de medidas de impacto microeconômico que vem norteando a atual gestão do banco. Segundo ele, é por meio dessa frente que será possível diminuir os juros aos consumidores, que ainda estão em patamares muito elevados, mesmo diante da mínima histórica de 6,5% da taxa Selic.

Na última quarta-feira, a autoridade monetária anunciou uma injeção de R$ 16 bilhões na economia por meio da redução do recolhimento dos compulsórios — montante que as instituições financeiras precisam deixar sob gestão do BC. A expectativa é que, com a medida, as instituições tenham mais recursos livres para emprestar.

Perguntado se o BC está trocando instrumentos de política monetária (como taxa de juros) por mecanismos de promoção de liquidez no mercado (como a redução de compulsórios), Campos Neto afirmou:

— O compulsório não substitui a política monetária, não é essa a nossa visão, não é essa a nossa intenção.