Valor econômico, v.20, n.4743, 06/05/2019. Política, p. A7

 

Dodge não deve se candidatar à lista tríplice 

Isadora Peron

06/05/2019

 

 

A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, não deve se candidatar à lista tríplice elaborada pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Isso não quer dizer que ela não esteja se movimentado para tentar ser reconduzida ao comando do Ministério Público Federal. Fontes próximas a Dodge dizem que ela ainda não tomou uma decisão e analisa qual a melhor estratégia a ser adotada, já que o presidente Jair Bolsonaro vem dando sinais de que pode ignorar a eleição interna da categoria ao escolher o novo PGR.

A ANPR começa a receber hoje as inscrições dos interessados em concorrer à lista tríplice. O prazo se encerra no dia 15. A votação está marcada para 18 de junho.

Apesar de ser uma tradição dentro do MPF desde 2003, a lista tríplice não está prevista na Constituição. Na prática, isto significa que Bolsonaro não tem a obrigação de escolher o procurador-geral entre os eleitos pela categoria. De acordo com a legislação, ele pode optar por qualquer integrante da carreira, com mais de 35 anos de idade, que depois deverá ser submetido a uma sabatina e à aprovação do Senado.

Segundo interlocutores de Dodge, não passou despercebido o recado de Bolsonaro, que voltou a demonstrar em público a sua resistência em escolher o novo PGR a partir da lista tríplice. "Só uma coisa é certa: quem estiver na lista não será", teria dito o presidente durante um almoço na casa de um ministro do Tribunal de Contas da União (TCU).

Internamente, desafetos da atual PGR afirmam que ela não deve concorrer à lista porque sabe que não teria chances de estar entre os três nomes mais votados. Nos últimos meses, Dodge manteve uma postura de atrito com seus pares. Ela resistiu, por exemplo, a aprovar o pagamento de uma gratificação para compensar o fim do auxílio-moradia.

Por enquanto, já se apresentaram como pré-candidatos na disputa os subprocuradores-gerais Mário Bonsaglia, Luiza Frischeisen e Nívio de Freitas, além dos procuradores regionais da República Vladimir Aras, Lauro Cardoso e Blal Dalloul.

A expectativa é que, até o dia 15, quando se encerram as inscrições, o número de candidatos aumente. Se Dodge desistir de tentar a recondução para o cargo, mesmo "por fora" da lista, a aposta é que grupo dela seja representado pelo vice-procurador-geral, Luciano Mariz Maia.

O atual presidente da ANPR, Robalinho Cavalcante, também estuda se candidatar. Ele deve anunciar a decisão nos próximos dias, após deixar o comando da associação. Há também nomes que já anunciaram que não vão participar da eleição da lista, mas estão em campanha para o cargo, como o subprocurador-geral Augusto Aras.