Título: Ex-gerente de Cachoeira chefia esquema no DF
Autor: Almeida, Kelly
Fonte: Correio Braziliense, 26/10/2012, Cidades, p. 29

Homem que administrava casas de bingo do contraventor é apontado pela polícia como o novo responsável por controlar a jogatina na capital. Seis pontos ligados ao acusado foram fechados »

O enfraquecimento de bingos eletrônicos ligados ao grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira fez com que outros nomes se tornassem fortes no jogo ilegal do Distrito Federal. Bruno Gleidson Soares Barbosa é apontado pela Polícia Civil como um dos homens que tenta controlar o esquema no DF. Ele foi detido em agosto, durante operação que prendeu pessoas ligadas a Cachoeira que mantinham casas de jogos na capital federal. Ao sair da reclusão, continuou controlando o esquema. Este ano, seis locais de jogatina vinculados a Bruno foram fechados, segundo a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco). Três deles, só em outubro. Dois funcionavam na Asa Norte e um no Varjão. Testemunhas indicaram Bruno como o único proprietário dos estabelecimentos, mas a polícia não descarta que ele esteja prestando contas ao grupo de Cachoeira. A Deco deve pedir a prisão temporária dele mais uma vez.

Com discrição, Bruno Gleidson comandava as casas de bingos eletrônicos desarticuladas pela Deco. Na última quarta-feira, 15 policiais apreenderam 16 máquinas caça-níqueis e fecharam dois pontos instalados na Quadra 715 da Asa Norte e na Quadra 2 do Varjão. Três mulheres responsáveis pelos locais foram levadas à delegacia. Elas relataram aos policiais que Bruno as contratou por telefone e nunca aparecia nos locais. Um motoboy era responsável por deixar, diariamente, cerca de R$ 2,5 mil para que as casas começassem os trabalhos. Durante a noite, o empregado voltava para recolher o dinheiro arrecadado. A polícia estima que cerca de R$ 5 mil eram faturados diariamente. O contato de Bruno com as funcionárias era feito por meio de ligações de números reservados ou pela internet. "Mas elas o conhecem, pois já trabalharam em vários bingos relacionados a ele e ao Cachoeira. O Bruno foi gerente das casas de jogos do Cachoeira no Entorno", explicou o delegado Fernando Cocito, adjunto da Deco.

Prestação de contas Apesar de as funcionárias terem citado apenas o nome de Bruno Gleidson, a Polícia Civil acredita que o contraventor esteja prestando contas ao grupo de Carlinhos Cachoeira. "O público é o mesmo que frequentava as casas de Cachoeira. E eles (homens ligados ao bicheiro) não vão aceitar perder a clientela sem ganhar nada", ressaltou o delegado Fernando Cocito. A Deco também desativou um ponto na 713 Norte, no último dia 2. Na ocasião, foram apreendidas oito máquinas caça-níqueis.

Além das 16 máquinas confiscadas na última quarta-feira, os policiais apreenderam cerca de R$ 1,4 mil e blocos com informações dos apostadores. "Quando chegamos à casa da Asa Norte, umas 10 pessoas jogavam. Era um lugar que estava com a porta destrancada, sem que eles se preocupassem com a chegada da polícia", disse o delegado Henry Peres, chefe da Deco. O espaço do Varjão era mais escondido. Funcionava em cima de uma loja de materiais de construção. Segundo a polícia, as mulheres que trabalham para os contraventores são responsáveis por conquistar os clientes. "Elas têm listas dos apostadores e ligam falando onde estão as casas. Ganham R$ 500 semanais pelo trabalho", detalhou o delegado Cocito.

Em 24 de agosto, a Deco deflagrou a Operação Jackpot. A ação ocorreu após uma investigação de seis meses que resultou na apreensão de 80 máquinas caça-níqueis e sete casas de jogos ilegais fechadas no DF. A intenção da polícia foi desarticular um grupo ligado a Cachoeira que, após a prisão do bicheiro, em fevereiro, abriu as casas no DF (veja Memória). Bruno Gleidson estava entre os presos. De acordo com a polícia, ele era o dono de três locais que exploravam as máquinas caça-níqueis. Ficou cinco dias recluso, até ser solto novamente. "Quando ele esteve preso, ordenou que a casa da Asa Sul fosse fechada. Quando foi liberado, reabriu. De lá pra cá, estava gerenciando, pelo menos, essas três desarticuladas este mês", acrescentou Cocito.

Memória

Operação Monte Carlo

Após a prisão de Carlinhos Cachoeira, em 29 de fevereiro, durante a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, a Delegacia de Repressão ao Crime Organizado (Deco) começou a monitorar a exploração de máquinas caça-níqueis no Distrito Federal. Durante seis meses de investigações, a Deco desmanchou sete casas de jogatina, que estariam ligadas ao grupo de Cachoeira. Elas estavam instaladas em Sobradinho 2, Ceilândia, Gama e Jardim Botânico, além do Setor de Mansões do Lago Norte e das asas Sul e Norte, no Plano Piloto. Cada uma rendia cerca de R$ 10 mil por dia, segundo a polícia. As apostas eram altas e as máquinas reconheciam notas de até R$ 100. Oitenta equipamentos caça-níqueis foram apreendidos ao longo das apurações. Aos clientes, em sua maioria idosos, eram fornecidos táxis, que buscavam os apostadores em pontos estratégicos, e alimentação. Em 24 de agosto, os policiais da Deco deflagraram a Operação Jackpot. Raimundo Washington de Sousa Queiroga, Otoni Olímpio Júnior e Bruno Gleidison Soares Barbosa foram presos temporariamente. Antônio José Sampaio Naziozeno e Edvaldo Ferreira Lemos ficaram foragidos. Naziozeno se apresentou à polícia dias depois.