Título: Onda de homicídios aterroriza São Paulo
Autor: Mariz, Renata
Fonte: Correio Braziliense, 27/10/2012, Brasil, p. 16

Depois de 10 anos comemorando a queda no número de assassinatos, a secretária de segurança pública da capital enfrenta agora uma nova crise %u2014 135 mortes só em setembro. Segundo especialistas, situação está fora de controleRENATA MARIZPelo menos sete assassinatos foram registrados na região metropolitana de São Paulo somente entre a noite de quinta-feira e a madrugada de ontem — mais que o dobro da média habitual de três mortes violentas por dia na capital paulista. O curto período de terror, entretanto, é só mais um capítulo da crise na segurança pública do estado, apresentada nos últimos anos, tanto no cenário político quanto na esfera acadêmica, como exemplo de combate à criminalidade. Depois da euforia em torno da notável queda brusca dos homicídios em São Paulo, que saiu de 35,2 por 100 mil habitantes em 1999 para 10 em 2011, uma nova escalada de violência assusta os moradores do maior estado do país.

A sensação de insegurança encontra embasamento nas estatísticas. Setembro fechou como o mês mais violento de São Paulo neste ano, com 135 homicídios. O número é 95% maior que o registrado no mesmo período do ano passado, 69. Apesar dos dados, o secretário de Segurança Pública do estado, Antonio Ferreira Pinto, voltou a afirmar, ontem, que a estratégia está “absolutamente correta”. A alta dos assassinatos, 68 mortes de policiais militares e um discurso acentuado de enfrentamento por parte das autoridades mostram, na avaliação de especialistas, que São Paulo perdeu o controle da situação, tendo a facção criminosa denominada Primeiro Comando da Capital (PCC) como um dos problemas.

“Uma parte das mortes dos policiais pode, sim, ser atribuída ao PCC, mas não se sabe o quanto. Porque criou-se uma situação de anomia que é aproveitada tanto por parte de policiais quanto de civis para praticarem crimes”, afirma Theodomiro Dias Neto, membro do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito (Ilanud). Segundo ele, o Estado precisa deixar claro como vai se portar nesse momento. “A mensagem de que segurança pública é feita dentro dos parâmetros legais ainda não está cristalizada. Não pode haver guerra da polícia contra ninguém. Polícia sem controle equivale à Gestapo”, comparou Dias Neto, referindo-se à temida corporação da Alemanha nazista.

Vingança Coordenadora do Núcleo de Análise de Dados do Instituto Sou da Paz, Lígia Rechemberg também critica a postura governamental. “O discurso é sempre de enfrentamento a qualquer custo, levando a polícia a se sentir no direito de agir fora da lei. E essa postura acaba aumentando a letalidade, inclusive entre os próprios policiais militares que lamentavelmente vêm morrendo”, destaca Lígia. A PM de São Paulo foi procurada, mas não respondeu se os agentes estão atuando por vingança.

Desde o início do ano, 68 PMs morreram em São Paulo, 34 com evidências de execução. Em 2011, foram 56. Dos sete mortos entre a noite de quinta e madrugada de sexta-feira, um era policial. Fábio João Tosta, 33 anos, estava em uma motocicleta, durante sua folga, quando foi alvejado por dois homens em outra moto, que fugiram. Na tarde de ontem, mais duas pessoas foram baleadas na capital paulista e dois assaltantes de bancos também perderam a vida em uma troca de tiros.