O Estado de São Paulo, n. 46062, 28/11/2019. Política, p. A10

 

Congresso rejeita veto à ampliação de fundo eleitoral

Daniel Weterman

28/11/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

Parlamentares poderão definir, a cada eleição, o valor dos recursos públicos a financiar campanhas; para 2020, governo propõe R$ 2 bi

O Congresso derrubou ontem sete vetos do presidente Jair Bolsonaro à minirreforma eleitoral, incluindo o que impedia os parlamentares de aumentarem o quanto quisessem o fundo eleitoral, destinado a financiar as campanhas políticas. Com isso, os deputados e senadores poderão definir a cada eleição o valor do fundo público. Para a disputa municipal do ano que vem, dirigentes partidários atuam para que a quantia seja de R$ 4 bilhões. O governo propõe R$ 2,034 bilhões.

Ao retomar parte do texto original da minirreforma, aprovada em setembro, deputados e senadores retiraram os critérios que hoje definem o valor do fundo eleitoral – que agora será discutido a cada eleição. Para 2020, o valor será definido na lei orçamentária anual, que deve ser votada no dia 17 de dezembro, segundo o Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Em 2018, o fundo eleitoral destinou R$ 1,71 bilhão para as campanhas a presidente, governadores, senadores e deputados. Parlamentares, incluindo Alcolumbre, alegam que o valor é insuficiente para financiar as campanhas do ano que vem, que envolvem disputas nos 5.570 municípios do País.

No Congresso, 267 deputados e 49 senadores votaram para retomar a brecha do fundo eleitoral. O próprio governo entrou no acordo para rejeitar o veto presidencial.

Dos que votaram contra a brecha, estão parlamentares de Cidadania, Podemos, PSDB e PSL, além de alguns “desertores” de legendas que apoiaram a retomada da proposta.

O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), criticou o “acordão” feito entre os líderes para derrubar o veto. “Foi uma manobra para ludibriar a população e os partidos ficarem com mais dinheiro”, disse.

Além de retomar a brecha para aumento do fundo, o Congresso derrubou veto de Bolsonaro ao trecho do projeto que permite aos partidos usarem recursos públicos para pagar passagem de avião a quem não é filiado.

Ao vetar este item, o governo alegou que a proposta “desvirtua o escopo do financiamento público da atuação do partido político”, pois abre espaço para gastos que não estejam estritamente ligados aos interesses das legendas.

Apenas um veto presidencial no projeto foi mantido: o que trata sobre prestação de contas dos partidos políticos. O texto aprovado pela Câmara em setembro permitia que as legendas utilizassem qualquer sistema de contabilidade disponível no mercado para enviar os dados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que poderia dificultar a fiscalização e prejudicar a transparência nos dados. Com o veto, eles continuam com a obrigatoriedade de utilizar o sistema próprio da Corte.

  Propaganda. Uma nova sessão do Congresso foi marcada para a próxima terça-feira, para analisar os demais vetos de Bolsonaro à minirreforma eleitoral. Na lista, está o que impediu a volta da propaganda partidária em rádio e TV, exibidos em anos em que não há eleição e no primeiro semestre anterior ao da eleição.

O Ministério da Economia estima um impacto de R$ 400 milhões no Orçamento do ano que vem, relativo à compensação fiscal dada à emissoras. Ou seja, as empresas de comunicação deixariam de pagar este valor em imposto em troca de levar ao ar a publicidade dos partidos.

Na época em que a propaganda partidária foi extinta, em 2017, a justificativa dos parlamentares foi de que o valor desta compensação fiscal seria destinado ao fundo eleitoral.

Proposta

R$ 2,034 bi

é o valor proposto pelo governo federal para o Fundo Eleitoral nas eleições de 2020 – em 2018, foi R$ 1,71 bilhão.

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Siglas derrubam pedido de urgência para pacote anticrime

Renato Onofre

28/11/2019

 

 

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, sofreu ontem mais um revés no Congresso. A bancada da bala tentou, mas não conseguiu reunir apoio suficiente dos líderes partidários para garantir a votação de um requerimento que poderia garantir urgência na análise do pacote anticrime, que reúne medidas prioritárias da pasta da Justiça. Sem isso, o texto terá que ser votado em comissões antes de seguir para análise do plenário da Câmara, caminho que pode levar anos até ser concluído.

“Para minha surpresa e decepção, não temos partidos suficientes para apresentar o requerimento de urgência para o pacote do ministro Sérgio Moro. Não será votado neste ano ao que tudo indica”, afirmou Capitão Augusto (PL-SP), coordenador da bancada da bala e relator da proposta do grupo de trabalho que analisa as medidas.

Apenas cinco partidos – PSL, Novo, Podemos, Cidadania e Avante – sinalizaram que assinariam o pedido de urgência. Somados, eles têm apenas 170 votos, insuficientes para levar o requerimento à votação – o número mínimo é de 257.

No entanto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), anunciou que o Centrão vai apoiar o requerimento de urgência. Se a promessa for confirmada, será possível analisar o conjunto de medidas ainda neste ano. “Vou colocar o pedido de urgência (em votação) na terça e votamos na quarta (da semana que vem)”, afirmou.

Questionado pelo Estado sobre a possibilidade de o pacote não ir à votação neste ano, Moro minimizou. “Não tenho essa informação.” O ministro tem enfrentado dificuldades para aprovar suas propostas no Congresso. Muitos partidos foram alvo de decisões tomadas por Moro no âmbito da Lava Jato.